quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Crítica: Aferim! (2015)


Exibido em primeira mão no 65º Festival de Berlim, Aferim!, do diretor Radu Jude, foi ovacionado e já se tornou um marco do cinema romeno atual. O filme se passa no começo do século 19 e tenta mostrar a origem do racismo contra os ciganos, um dos mais latentes da Europa há séculos, e consegue isso com extrema competência.


A trama se passa na região da Valáquia, no ano de 1835. O oficial Costandin (Teodor Corban) e seu filho (MIhai Comanolu) são designados para encontrar Carfin (Toma Cuzin), um escravo cigano que fugiu da propriedade de seu "dono" depois de se relacionar com a esposa do mesmo. Durante a jornada dos dois, acompanhamos todo o tipo de absurdo que os homens da época cometiam, e o enredo vai montando um panorama da sociedade da época e seus costumes.

Os mais ricos e poderosos, ou até mesmo aqueles que eram apenas hierarquicamente mais importantes (como o próprio oficial), tratavam os escravos e os camponeses da época com escárnio e intolerância, repreendendo violentamente qualquer tipo de manifestação de vontade.  Isso fica evidente cada vez que o homem e seu filho chegam a uma nova cidade para procurar Carfin, onde interrogam todos com dureza em busca de informações. As mulheres então, eram tratadas como verdadeiros lixos e eram submissas às vontades dos homens, sem ter nenhum direito de escolha.


Apesar das cenas duras e do comportamento desumano, o que encanta no enredo é a forma como o diretor nos conta essa história, apostando em um humor ácido, com excelentes diálogos e personagens que, mesmo odiados, se tornam carismáticos. A trilha sonora também ajuda, além da fotografia em preto e branco, que confesso não gostar muito, mas que aqui caiu muito bem. 

No final do filme, os personagens principais demonstram uma compaixão até então inexistente, mas já era tarde demais para qualquer mudança. Frustado, o pai diz ao filho que o mundo é assim mesmo, e que mesmo ele tentando mudar, não conseguiria. De lá para cá muita coisa melhorou, mas fica aqueia dúvida: será que mudou tanto assim, ou o homem ainda continua tendo comportamentos medievais no dia-dia? Basta olharmos para a realidade à nossa volta para encontrarmos a resposta.

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