terça-feira, 30 de junho de 2015

Crítica: A Estrada 47 (2015)


Em 1944, mais de 25 mil soldados brasileiros atravessaram o Oceano Atlântico para lutar ao lado dos Aliados na Segunda Guerra Mundial, e pela primeira vez na história, um filme veio para contar os bastidores de tudo o que aconteceu com eles por lá. A Estrada 47, do diretor Vicente Ferraz, não é só mais um filme de guerra, mas um tratado sobre um pedaço até então pouco conhecido da nossa história.


Se engana quem pensa que a FEB (Força Expedicionária Brasileira) não teve relevância durante o conflito. Apesar de terem ido em número reduzido e de forma precária, os nossos pracinhas cumpriram bem o seu papel, sendo responsáveis por colocar em prática táticas essenciais do comando Aliado, como vigiar pontos específicos ou até mesmo desarmar minas terrestres.

Um desses grupos de soldados ficou responsável por tomar conta do Monte Castelo, na Itália, logo após terem o conquistado. Durante uma noite de vigília, muitos deles acabaram sofrendo um violento ataque de pânico, que acabou fazendo com que todos se separassem. Passada a confusão, quatro deles voltaram a se encontrar: Guimarães (Daniel de Oliveira), Tenente (Julio Andrade), Laurindo (Thogun Teixeira) e Piauí (Francisco Gaspar).


Reunidos novamente, os cinco não sabem o que fazer: retornar ao batalhão e serem julgados por abandono de posto, ou voltar lá para cima do Monte e correr o risco de cair numa emboscada inimiga. Na dúvida, resolveram seguir viagem pelos campos congelados, onde encontraram o jornalista Rui (Ivo Canelas), que lhes conta sobre um campo minado ativo que se torna a grande chance deles se redimirem dos erros cometidos até então.

Apesar do tema ser guerra, não espere um filme de ação. O mais interessante do enredo são de fato os personagens. O soldado Guimarães (por sinal, mais uma excelente atuação de Daniel de Oliveira) narra boa parte do filme através de cartas para seu pai, e mostra com emoção todo sentimento que era presente naquele lugar, onde a maioria não sabia exatamente o porquê de estar ali.

O nordestino Piauí é sem dúvida o personagem mais carismático do filme. Humilde e de bom coração, ele acaba fazendo amizade com um soldado alemão ferido, que eles capturam e levam como prisioneiro por boa parte do caminho. Além disso, ele e o soldado Laurindo passam o tempo todo trocando farpas, o que gera algumas cenas engraçadas e ajuda a aliviar o clima pesado e denso da trama.


Todos estavam ali praticamente sem preparação nenhuma. A maioria deles nunca havia recebido sequer um treinamento mínimo para estar em combate, e não sabiam nem como engatilhar uma arma. Além disso, as roupas que usavam não eram preparadas para o rigoroso inverno europeu, o que talvez tenha sido a principal causa de mortes entre eles.

Por fim, A Estrada 47 pode até não trazer grandes novidades na questão narrativa, mas pode ser considerado um marco histórico para o cinema nacional, que prova mais uma vez possuir uma imensa capacidade técnica quando quer. Vencedor do prêmio principal do Festival de Gramado de 2014, é um forte candidato para nos representar no próximo Óscar, inclusive com boas chances de chegar aos finalistas.

Recomendação de Filme #57

O Corpo - Oriol Paulo (2012)

O cinema espanhol sempre foi uma referência quando se fala em filmes de suspense, e dentre todos, O Corpo (El Cuerpo), do diretor Oriol Paulo (roteirista do também aclamado Os Olhos de Júlia), é o melhor que já tive a oportunidade de assistir. Com um enredo empolgante e cheio de reviravoltas, o filme cria um verdadeiro quebra-cabeça na mente do espectador, levando a um desfecho fascinante e completamente imprevisível.


A trama começa com o guarda noturno de um necrotério correndo desesperado mata adentro, aparentemente fugindo de algo que teria acontecido no local. Quando chega na auto-estrada para pedir ajuda ele acaba sendo atropelado, fato que o leva a entrar em coma no hospital, impossibilitando dessa forma que as autoridades chegassem a alguma explicação do ocorrido.

Na manhã seguinte, Alex Ulloa (Hugo Silva) recebe um telefonema avisando que o corpo de sua esposa recém falecida sumiu da gaveta do mesmo necrotério. Nas mãos do inspetor Jaime Peña (José Coronado), o misterioso acontecimento começa a ser investigado, voltando inclusive aos motivos da morte da mulher. É quando uma série de acontecimentos fazem com que surjam suspeitas sobre o próprio Alex de ter sido o responsável pela morte da esposa.


Durante uma longa noite de interrogatório, vamos adentrando na história conturbada do casal através de flashbacks narrados pelo próprio Alex, e nos fatos que supostamente levaram Mayka (Belén Rueda) à morte. Na manhã seguinte, os mistérios do óbito e do desaparecimento do corpo são finalmente revelados, deixando de queixo caído qualquer um que tenha imaginado ser capaz de prever o final.

Impecável tecnicamente, o filme chama a atenção pelas excelentes atuações de todos os envolvidos e pelo roteiro primoroso. Devo admitir que não sou um grande fã do gênero, mas tive que tirar o chapéu dessa vez. Aplausos de pé para Oriol Paulo, que tem em mãos uma verdadeira obra-prima do cinema contemporâneo, que infelizmente ainda é pouco conhecida e reconhecida pelo público em geral.


quinta-feira, 25 de junho de 2015

Crítica: Minions (2015)


Quando foi lançado em 2010 o filme Meu Malvado Favorito, primeiro longa metragem da curta história do estúdio Illumination Entertainment, ninguém, nem mesmo os próprios produtores, acreditavam que ele alcançaria o sucesso que alcançou. Mas mais do que isso, a grande surpresa foi este êxito ter sido atribuído, quase que exclusivamente, aos Minions, os seres amarelos que trabalhavam como ajudantes do malvado Gru, e que eram para ser inicialmente meros coadjuvantes.


Cinco anos depois eles estão de volta às telas, dessa vez com seu próprio filme. A trama começa mostrando um pouco mais sobre a história deles e de como viveram na Terra desde que surgiram, a milhões de anos atrás. Sempre empenhados em ajudar os vilões do momento, eles trabalharam junto com dinossauros, homens das cavernas e até mesmo imperadores durante algumas guerras.

Nos anos 1960 eles estão definitivamente entediados, pois há muito tempo não encontram a quem servir. É quando três deles, Kevin, Bob e Stuart, resolvem viajar o mundo atrás de um novo vilão e acabam dando de cara com uma mulher malvada, que ambiciona roubar o trono da rainha da Inglaterra e assim dominar o país. Decididos a ajudá-la na missão, os Minions mal esperavam que com isso estariam se metendo em uma enorme confusão, o que colocaria inclusive suas próprias vidas em risco.


Tudo parece começar bem, mas não demorou muito para que eu me sentisse incomodado com o que estava assistindo. Os minions perderam nesse filme toda aquela sagacidade que havia virado marca registrada deles, abrindo espaço para uma série de piadas bobas e situações sem graça, que decepcionam aqueles que, como eu, deram muita risada nos dois filmes da franquia anterior e esperavam repetir a dose.

Mas como nada é tão ruim que não possa piorar, entra em cena a vilã Scarlett Overkill (voz de Sandra Bullock na versão legendada e de Adriana Esteves na versão brasileira). Além de não possuir um pingo de carisma, a personagem é extremamente exagerada, e acaba se tornando intragável logo nos primeiros minutos, o que definitivamente acaba com qualquer chance do filme tomar um bom rumo daí para a frente.


Por fim, fica a certeza de que os minions só funcionam mesmo em Meu Malvado Favorito, em pequenas doses e sendo comandados pelo engraçadíssimo Gru. Ao ganharem espaço para serem os protagonistas da história, algo se perdeu, e o que poderia ter rendido um ótimo filme infelizmente se tornou um entretenimento descartável e de baixa qualidade.

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Crítica: Mad Max - Estrada da Fúria (2015)


Nos últimos anos, o que se viu foi uma verdadeira enxurrada de reboots e remakes de filmes clássicos, quase todos de qualidade bastante duvidosa. Por esse motivo, era de se esperar toda a aura de desconfiança que existiu para cima de Mad Max - Estrada da Fúria (Mad Max - Fury Road), divulgado desde o início como sequência da trilogia que iniciou em 1979 e terminou em 1985, e que contava com Mel Gibson no papel principal.


Sob a mesma direção de George Miller, o filme de 2015 não somente fez justiça aos originais como conseguiu ser disparado o melhor de toda a franquia, o que é um mérito e tanto. O cenário continua o mesmo: um mundo pós-apocalíptico, desolado e sem água, onde a luta pela sobrevivência é extremamente violenta. A atmosfera do filme também segue na mesma linha, com personagens e acontecimentos bizarros que beiram a insanidade.

Nesse mundo distópico quem manda são os mais fortes, dessa vez comandados pelo vilão Immortan Joe (Hugh Keays-Byrne), mestre de uma cidadela primitiva que controla toda a água remanescente no planeta. Seus homens aparecem logo na primeira cena, quando capturam e levam como prisioneiro o solitário ex-policial Max (Tom Hardy), que ainda vive desolado por conta de seu conturbado passado.



Quando a Imperatriz Furiosa (Charlize Theron), uma das peças importantes do exército de Joe, fica encarregada de ir até outra cidade buscar combustível, tem início uma perseguição implacável. Na tentativa de salvar as mulheres da cidade, que viviam como verdadeiras escravas, ela muda sua rota e foge com elas pela imensidão do deserto. No caminho elas acabam esbarrando com Max, que inicialmente reluta em ajudá-las mas logo se torna peça importante nessa missão. 

Se tem algo que ninguém pode falar desse filme, é que nele não há ação. Tirando alguns segundos iniciais, que servem para nos encaixar na história, ao longo de suas duas horas ele simplesmente não pára. É eletrizante e hipnotizante, e fica realmente impossível desgrudar o olho da tela até o final. Muito se critica o roteiro do filme, mas confesso que não o vi com maus olhos. Devido a sua forma corrida, seria realmente impossível aprofundar os personagens como eles mereciam, mas não achei que isso tenha atrapalhado o rumo final, principalmente por causa das boas atuações dos envolvidos.


Por fim, dá para dizer que Miller corajosamente juntou tudo aquilo que os blockbusters de ação da atualidade evitam mostrar e temperou com sua própria dose de insanidade, e esta mistura ficou realmente boa. O filme é cru e visceral, e já pode ser considerado, sem sombra de dúvidas, um dos melhores filmes de ação de todos os tempos (e olha que eu estou longe de ser um fã do gênero).

terça-feira, 23 de junho de 2015

Crítica: Jurassic World - O Mundo dos Dinossauros (2015)


Em 1993, a estreia de Jurassic Park surpreendeu o mundo ao trazer para as telas dinossauros que pareciam de verdade, mexendo com o imaginário de quem sempre teve interesse pelo assunto. Dirigido por Steven Spielberg, o filme foi um sucesso monumental de bilheteria, entrou fácil para a lista dos maiores clássicos de todos os tempos, e até hoje é lembrado com carinho por uma legião de fãs.



Agora, 22 anos depois do primeiro filme lançado, o parque idealizado pelo bilionário John Hammond está novamente de portões abertos, e recebe milhares de pessoas todos os dias na fictícia ilha Nublar. Entre estes visitantes estão os irmãos Zach (Nick Robinson) e Gray (Ty Simpkins), que viajam pela primeira vez sem a companhia de seus pais, sendo supervisionados apenas de longe por sua tia Claire (Bryce Dallas Howard). 

Braço direito do dono do parque, o milionário Simon Masrani (Irrfan Khan), Claire é a mente por trás da criação de Indominus Rex, um dinossauro geneticamente modificado que promete ser a nova atração do parque. Essa necessidade por algo novo para reavivar o interesse de um público já enjoado da mesmice é uma metáfora que o filme faz sobre ele próprio (e se encaixa em qualquer outro filme de ação dos últimos anos). Porém, mesmo com a adição de novos dinossauros para dar uma "repaginada" na história, o filme não deixa os antigos de lado, como pterossauros, raptores e o grande T-Rex (que por sinal aparece triunfante em um determinado momento do filme e deixa todos com os olhos marejados), e isso é um grande mérito.



Quando Indominus Rex mostra ser muito mais inteligente do que deveria e consegue escapar de sua jaula, o terror é instaurado. Há muito mais mortes nesse filme do que em qualquer outro da franquia, e a tensão toma conta até o fim. O mais interessante de tudo, entretanto, é o sentimento de nostalgia que ele deixa em todos nós que crescemos assistindo aos originais. O começo do filme emociona com aquela trilha sonora maravilhosa, e não demora para que venham ao nosso encontro inúmeras referências ao primeiro filme, o que nos deixa com o coração ainda mais apertado.

A desconfiança era grande para cima do diretor Colin Trevorrow, até porque antes deste filme ele havia feito apenas um longa na carreira, e de pouquíssima expressão. Mas dá para dizer que ele se saiu muito bem, e não deixou ponta solta para a crítica. As atuações são convincentes, com destaque para Chris Pratt e Bryce Dallas Howard, e os efeitos especiais são bem utilizados, sem aquela carga exagerada que existe em muitos dos filmes recentes.



Por fim, Jurassic World ainda conseguiu manter aquela ideia original de desrespeito do homem com a natureza e a incapacidade dele de entender que nunca conseguirá controlá-la, e isso foi muito bem colocado. O roteiro deixa um pouco a desejar, isso não dá para negar, mas se a missão é divertir o espectador (e as vezes é só isso que realmente importa), ele consegue isso com sucesso.


quinta-feira, 18 de junho de 2015

Crítica: A Fotografia Oculta de Vivian Maier (2015)


Indicado ao Óscar de 2015 na categoria de melhor documentário, A Fotografia Oculta de Vivian Maier nos apresenta a intrigante história da personagem-título, uma babá que tirou fotos verdadeiramente incríveis a partir dos anos 1950 mas que nunca haviam sido reveladas até caírem nas mãos de John Maloof em 2009, um dos diretores do filme.


Mas afinal, quem era essa mulher que tinha um tato único para capturar a beleza do mundo mas que ninguém nunca havia ouvido falar? É essa questão que o documentário tenta responder indo atrás de algumas pistas, na tentativa de encontrar pessoas que teriam tido algum convívio com ela enquanto era viva (ou até mesmo descobrir se ela ainda está viva).

Aos poucos vamos adentrando mais a fundo no universo de Vivian Maier. Histórias sobre seu trabalho como babá, traços de sua personalidade controversa e misteriosa, e a paixão por fotografias, que fez com que ela tirasse mais de 100 mil fotos ao longo da vida. Além das fotos, Maier era também uma colecionadora compulsiva, e foram encontradas inúmeras caixas contendo cartas, peças de roupas, jornais e até mesmo recibos de compras, o que ajudou ainda mais a compreender um pouco mais sobre ela.


A história em si já é bastante curiosa, mas não seria tão interessante se as fotografias tiradas por ela não fossem realmente excepcionais. Muitas das suas fotos são mostradas ao longo do filme todo, e deixa a gente de queixo caído. Com uma qualidade artística única, essa mulher "anônima" conseguiu capturar as situações do cotidiano de uma forma humana, como poucos fotógrafos renomados conseguiram até então.

Depois de reunir todas as fotografias de Maier (que vocês podem conferir no site www.vivianmaier.com), John Maloof começou a apresentá-las em exposições, que foram enormes sucessos pelo mundo afora. Por fim, o documentário é excelente, e o grande mérito é justamente mostrar o trabalho de uma grande artista até então desconhecida, o que nos faz pensar em quantos iguais não existem por aí, apenas esperando alguém encontrá-los.

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Crítica: Corações Famintos (2014)


O americano Jude (Adam Driver) e a italiana Mina (Alba Rohrwacher) se conhecem por acaso em uma situação constrangedora: ambos ficam trancados dentro de um banheiro em um restaurante chinês de Nova Iorque. Esse início tragicômico porém engana o espectador, já que dá uma falsa impressão de que o filme será descontraído dessa forma, quando na verdade é absolutamente o contrário. 



Logo após o encontro inesperado, Jude e Mina iniciam um romance, e não demora para que eles se casem e tenham um bebê. Daí para frente o clima pesado toma conta da trama, e ela se torna bem diferente do que primeiramente insinua. O que parecia apenas mais uma comédia romântica se torna um longa de intenso drama psicológico, com situações que põe em risco não só a relação do casal como também a vida da criança. 

Desde a gestação que Mina acredita que seu filho será um menino especial, e quando ele nasce, por consequência ela acaba exagerando na superproteção, não deixando que lhe toquem, evitando que ele passeie na rua e até mesmo que ele coma alimentos de origem animal, já que ela é radicalmente vegana e considera isso um veneno.



Preocupado com a saúde da criança Jude procura escondido um médico, que informa a ele o crescimento abaixo da média do menino e indica uma mudança drástica na sua alimentação. A paranoia de Mina atinge um nível tão grande que ela se nega veemente a acreditar na palavra do médico, dizendo que só ela e mais ninguém sabe o que é melhor para a criança. E quando a mãe de Jude (Roberta Maxwell) entra na briga para salvar a vida do neto, a tragédia se torna iminente.

As atuações são realmente impressionantes, tanto que ambos ganharam os prêmios principais de ator e atriz no Festival de Veneza de 2014. Ao mesmo tempo que você sente raiva de Mina, é impossível não sentir pena, e Alba Rohrwacher nos faz ter esse misto de sentimentos muitas vezes apenas pelo olhar.



Assim como as atuações, o roteiro do filme também é impecável, com bastante atenção nos detalhes. Sem estreia prevista ainda no Brasil, Corações Famintos já é um dos filmes mais interessantes do último ano, e com certeza merece ser visto, mesmo que não seja fácil de digerir.


quarta-feira, 10 de junho de 2015

Crítica: Suzanne (2014)


Da jovem diretora Katell Quillévéré, Suzanne é um filme bastante profundo que nos faz pensar sobre as infinitas possibilidades que a vida nos dá, acompanhando cerca de 20 anos na vida da personagem-título, de sua infância até sua fase adulta, e todas as mudanças que ocorreram nesse período de tempo.



Suzanne (Sara Forestier) e sua irmã Maria (Adele Haenel) sempre foram muito unidas e tiveram uma infância feliz ao lado do pai (François Damiens), mesmo com a morte precoce da mãe. Trabalhando como caminhoneiro, Nicolas costumava levar as filhas em muitas de suas viagens curtas, e tudo sempre foi uma diversão para elas.

Já na adolescência, cada uma foi tomando seu rumo próprio na vida. Maria desde sempre foi a mais independente das irmãs, enquanto Suzanne nunca soube o que de fato queria da vida. Tudo piorou quando ela apareceu grávida de um pai desconhecido, o que alterou de vez sua vida dali para frente.



Os anos foram passando e Suzanne foi se perdendo cada vez mais em atitudes erráticas que a levaram, definitivamente, ao fundo do poço. O filme traz uma boa reflexão a respeito das decisões que tomamos na vida, que seja para o bem ou para o mal, são o que definem nosso futuro. Somente nós mesmos somos responsáveis por escrever nossa história, e as vezes isso é muito mais difícil do que se pensa.

Suzanne é declaradamente um filme sobre as escolhas da vida e a passagem do tempo que nos molda de acordo com elas. É mais uma prova de que filmes simples e curtos, quando bem feitos, conseguem passar uma mensagem que poucos conseguem. As atuações são bastante convincentes e merecem elogios, e o enredo é tão natural que é impossível não criar empatia logo nos primeiros minutos.


segunda-feira, 8 de junho de 2015

Crítica: Um Momento Pode Mudar Tudo (2015)


Você certamente já assistiu um filme de superação que envolve uma doença, certo? Apesar do cinema já estar saturado de filmes assim, ainda há diretores que insistem em trazer o tema à tona tentando dar uma nova cara, e o novo filme de George C. Wolfe, Um Momento Pode Mudar Tudo (You're Not You), segue exatamente essa linha. Isso, no entanto, não significa que ele seja ruim, pelo contrário.



Kate (Hilary Swank) era uma exímia pianista até ser diagnosticada com esclerose, que faz com que ela aos poucos vá perdendo parte dos movimentos do corpo. Além de não poder mais tocar, o que era sua paixão, ela não consegue mais fazer quase nada sozinha precisando de uma ajudante, já que seu marido passa o dia fora trabalhando.

É então que surge a figura de Rebecca (Emmy Rossum), uma jovem excêntrica e rebelde que está literalmente perdida na vida, e passa os dias saindo com homens diferentes enquanto mantém um caso com um professor casado. Apesar de tudo, algo nela acaba agradando Kate, que decide contratá-la como sua ajudante.



Essa escolha por Rebecca pode ser explicada pelo fato da garota não demonstrar um sentimento de pena pela situação de Kate, o que a grande maioria sente e a deixa incomodada. A amizade entre as duas vai crescendo a cada dia, e no final, pode-se dizer que ambas são pessoas diferentes do que eram quando se conheceram.

O enredo é bem construído mas incomoda um pouco ao utilizar elementos que já são manjados em filmes do gênero. Chega a ser até previsível e clichê para falar a verdade, mas isso não chega a comprometer. As atuações de Hilary Swank e Emmy Rossum são excelentes, e isso ajuda e muito para o bom andamento até o final.



Apesar de seus deslizes, Um Momento Pode Mudar Tudo consegue misturar muito bem drama com humor, podendo ser considerado até mesmo como uma "versão feminina" de Intocáveis, sucesso francês de 2011. Como um passatempo despretensioso, dá para se dizer que vale a pena.


sexta-feira, 5 de junho de 2015

Crítica: Testament of Youth (2015)


Baseado no best-seller autobiográfico da britânica Vera Brittain, Testament of Youth (ainda não foi escolhido seu nome em português) traz uma bonita história de romance e superação em meio à guerra, mas peca por ter um enredo vagaroso e trazer um tema já batido sem nada de novo a apresentar.



O longa se passa primeiramente na Inglaterra, durante os meses que antecedem o início da Primeira Guerra Mundial. Vera (Alicia Vikander) é única filha mulher de uma tradicional família, e cheia de sonhos, se esforça ao máximo para conseguir entrar na conceituada universidade de Oxford. Enquanto isso seus irmãos se alistam no exército, para preocupação da família que não enxerga isso com bons olhos.

Junto com os irmãos está Roland (Kit Harington), um amigo da família por quem ela se apaixona. É difícil aceitar que ele tenha se alistado, mas assim como todos, ele acreditava que a guerra duraria pouquíssimo tempo e que logo ele voltaria para enfim se casarem. Enquanto ele não retorna, a relação é feita através de cartas, até o dia em que elas simplesmente param de chegar.



O drama se perde um pouco do meio para o final, não deixando bem claro qual era a sua real intenção. Talvez fosse mostrar os horrores da guerra, e não se pode negar que isso foi muito bem feito. Mas nada que surpreenda e que fuja de tantos outros filmes do gênero. As atuações poderiam ter sido melhores, mas não chegam a comprometer.

Por fim, a história vivida por Vera Brittain é triste como qualquer outra história ocorrida durante as milhares de guerras que o ser-humano já travou ao longo de sua existência, e infelizmente isso não serve para que elas não voltem a ocorrer. No meio da barbárie ainda existe o amor, mas ele nem sempre consegue vencer.


terça-feira, 2 de junho de 2015

Crítica: Promessas de Guerra (2015)


Conhecido mundialmente por seu trabalho como ator em diversos filmes de sucesso como Gladiador, Uma Mente Brilhante e o mais recente Noé, o neozelandês Russell Crowe resolveu se aventurar pela primeira vez na direção com Promessas de Guerra (The Water Diviner), um bom drama que se passa no período da Primeira Guerra Mundial.



O enredo começa retratando os conflitos na região turca de Galípoli, no fim da Primeira Guerra Mundial, quando australianos, neozelandeses, britânicos e franceses invadiram o país com a intenção de capturar o estreito de Dardanelos. A batalha, que em 2015 completa 100 anos, deixou milhares de mortos, de ambos os lados, e uma extensa lista de desaparecidos.

Após mostrar um pouco do que foi essa batalha, o filme foca na vida do fazendeiro australiano Joshua Conner (Russell Crowe), pai de três dos soldados que foram à frente de batalha e nunca mais voltaram para casa. Decidido a descobrir o verdadeiro paradeiro dos três, ele embarca em uma longa viagem rumo à Turquia.



O filme mistura cenas da trajetória de Conner no presente com cenas de alguns anos atrás, quando o mesmo chão em que ele hoje pisa era um sangrento campo de batalha. Enquanto tenta de todas as formas seguir as pistas dos filhos, ele fica hospedado em um pequeno hotel comandado por Ayshe (Olga Kurylenko) e seu filho Orhan (Dylan Giorgiades), que logo o ajudam na difícil missão.

Apesar de prender a atenção até o fim, o enredo parece carecer de algo, e deixa algumas pontas soltas. Num primeiro momento é difícil localizar o contexto da história se você nunca leu sobre os acontecimentos retratados, pois o diretor não se esforça em explicar absolutamente nada. O final também deixa um pouco a desejar, e apela para uma dramatização por vezes desnecessária.



Apesar dos acidentes de percurso, há que se salientar que o filme tem seus bons momentos. As cenas de batalha foram muito bem construídas, e a fotografia do filme no geral é excelente, o que mostra que Crowe tem uma ótima percepção visual. Outro ponto interessante é sua própria atuação, que segura o filme de forma competente. Por fim, pode não ser o grande filme que se esperava, mas para uma primeira investida como diretor, dá para dizer que Crowe se saiu bem.

segunda-feira, 1 de junho de 2015

Crítica: A Incrível História de Adaline (2015)


O novo filme do novato diretor Lee Toland Krieger, A Incrível História de Adaline (The Age of Adaline) é um verdadeiro conto de fadas moderno, e mistura romance e magia ao contar a história de uma mulher que, por um acontecimento sobrenatural, simplesmente pára de envelhecer e mantém a mesma idade e aparência por décadas.



Adaline (Black Lively) nasceu em 1908 e levava uma vida normal até sofrer um acidente de carro perto de seus 30 anos. Graças a um acontecimento mágico ela sobrevive e passa a não envelhecer nunca mais. Passam-se os anos e Adaline continua com a mesma aparência, enquanto vê as pessoas ao redor envelhecendo e consequentemente morrendo.

A "eterna juventude", sonhada por muitas pessoas na vida real, acaba sendo mostrada como algo verdadeiramente ruim, principalmente quando Adaline precisa abdicar de relacionamentos amorosos duradouros, ou até mesmo de amizades, para esconder o segredo. Além disso, precisa ainda trocar seguidamente de identidade para evitar problemas com as autoridades.



O filme brinca ao tentar mostrar uma teoria científica por trás da situação de Adaline, que conforme diz o narrador da história, só seria descoberta em 2035. O enredo tenta fugir do convencional, mas apesar da originalidade da história, acaba se rendendo ao clichê em alguns momentos importantes, sobretudo no final, que se deixa levar ao mesmo caminho das comédias românticas sem sal.

Apesar dos pontos negativos serem evidentes, a atuação de Black Lively é algo que realmente chama a atenção. Convincente, ela consegue transpôr com eficiência os sentimentos de Adaline perante sua situação e segura bem o filme até o fim. Quem também rouba a cena é Harrison Ford, mesmo em um papel secundário e que só aparece nos minutos finais.



Por fim, com um roteiro precário mas uma belíssima direção de arte, A Incrível História de Adaline é um filme interessante que, mesmo previsível, acaba sendo uma boa pedida aos que gostam de um bom romance.