segunda-feira, 16 de março de 2020

Crítica: Você Não Estava Aqui (2020)


Depois do excelente "Eu, Daniel Blake", o cineasta Ken Loach volta a trazer para as telas mais uma crítica contundente e ácida sobre a sociedade em que vivemos, característica principal de seu cinema. Se no filme anterior ele falava sobre a burocracia dos órgãos governamentais, desta vez ele disserta sobre a precarização do trabalho informal, flertando também com a retirada de direitos trabalhistas e as consequências que uma rotina desgastante de trabalho pode trazer a uma família.


Você Não Estava Aqui (Sorry We Missed You) acompanha Ricky (Kris Hitchen), um pai de família que sobrevive de pequenos empregos e luta para tentar dar um futuro melhor para os filhos. Sua esposa Abbie (Debbie Honeywood) ganha um dinheiro como cuidadora de idosos, mas o que os dois arrecadam juntos não é suficiente para livrá-los das dívidas que cada vez se acumulam mais. 

Numa tentativa de melhorar a situação financeira, Ricky resolve tentar ser autônomo, trabalhando com sua própria van para uma empresa de entregas, onde não existe contrato e nenhuma espécie de vínculo formal. Em contrapartida, existe uma pressão violenta para que as entregas cheguem nos destinatários dentro do prazo, e isso as vezes o obriga a trabalhar até 12 horas por dia. Atrás dessa rotina desumana ainda há um gerente de operações  inescrupuloso que não liga nem um pouco para o bem-estar de seus funcionários terceirizados, visando apenas o lucro e nada mais.


O que mais gosto nos longas de Loach é que os seus "heróis" são sempre personagens da classe trabalhadora inglesa, gente como a gente, que enfrenta problemas corriqueiros do dia dia por culpa de um sistema falho. Vemos em Ricky um personagem extremamente humano, fruto de uma atuação elogiável de Kris Hitchen. Além dos problemas com o trabalho, ele precisa lidar com a rebeldia de um filho adolescente e o crescimento de uma filha pequena, sempre contando com a ajuda de sua mulher, outra personagem que é extremamente forte na estória.

Meu único porém em todo filme fica por conta do seu final, que eu confesso ter achado pouco criativo. Mas nada que estrague a experiência e principalmente a mensagem que ele tenta passar. A chamada "uberização" dos postos de trabalho vem sendo um grave problema no mundo, e uma realidade que precisa ser revista o quanto antes, e é importante um filme trata o assunto com tanta sinceridade. É o sonho de ser patrão de si mesmo, dono do seu próprio tempo, que vai abaixo com a falta de direitos fundamentais.

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