Candidato da Coreia do Sul no Óscar de Melhor Filme internacional, A Única Saída (No Other Choice) é um Park Chan-wook mais divertido do que nunca. O diretor, conhecido por histórias perturbadoras de vingança como Old Boy (2003), Lady Vingança (2005) e A Criada (2016), retorna às telas com uma sátira social afiada sobre um homem que está disposto a tudo para manter não somente o seu emprego, mas acima de tudo o status e o padrão de vida que construiu ao longo de décadas.
A trama acompanha Man-su (Lee Byung-hun), um homem que leva uma vida confortável de classe média alta, onde consegue dar tudo que pode para a esposa e os filhos pequenos. Trabalhando há 25 anos na mesma fábrica de papel, ele tem um cargo de destaque, que sustenta essa estabilidade. No entanto, de um dia para o outro, a empresa é adquirida por um grupo norte-americano, que sem cerimônia, promove uma demissão em massa. E para o desespero de Man-su, ele está na lista de corte.
Subitamente desempregado, e tendo apenas o dinheiro da rescisão para viver por alguns poucos meses, Man-su precisa recalcular a vida. A matemática é implacável: será necessário mudar radicalmente os hábitos da família até que uma nova oportunidade surja no mercado de trabalho. Embora todos precisem se adaptar à nova realidade, ninguém parece realmente disposto a abrir mão das mordomias. Mi-ri (Son Ye-jin), a esposa, que até então se dedicava exclusivamente aos afazeres domésticos, chega a procurar emprego para ajudar a manter a casa. O verdadeiro ponto de ruptura, porém, acontece quando o casal percebe que precisará deixar para trás a casa que sempre foi o grande sonho pessoal de Man-su. A partir de então, ele não será mais o mesmo.
A perda do padrão de vida intensifica o desespero do protagonista, agravado pela dificuldade em encontrar uma vaga na área em que atuava. É nesse momento que o filme abraça de vez o absurdo: decidido a extrapolar todos os limites do racional, Man-su elabora um plano delirante para eliminar, no sentido mais literal possível, qualquer concorrente que possa cruzar seu caminho, tornando-se, assim, a única opção restante para a vaga que tanto almeja.
O humor do filme é contagiante, mas jamais soa forçado. As gargalhadas surgem tanto das atitudes impensadas e frequentemente desastradas do protagonista quanto das reações perplexas dos personagens que cruzam sua trajetória. É uma típica comédia de erros, mas com aquele ar exagerado do cinema coreano (e aqui não falo de forma depreciativa, pois aqui tudo encaixa perfeitamente). No centro de tudo está Lee Byung-hun, em uma performance magnética, que transita com precisão entre o drama e o cômico, sem nunca perder o controle do personagem.
A dedicatória final a Costa-Gavras reforça o diálogo direto com O Corte (2003), filme do diretor grego que já havia adaptado o mesmo romance de Donald Westlake. Embora compartilhem a mesma premissa e essência, os dois longas seguem caminhos distintos: enquanto Costa-Gavras opta por um humor mais seco e melancólico, Chan-wook abraça a sátira escancarada e o riso desconfortável. Em comum, ambos constroem um retrato cruel e irônico do capitalismo contemporâneo, expondo até que ponto a lógica do mercado pode corroer qualquer noção de ética e de humanidade.




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