domingo, 30 de agosto de 2015

Recomendação de Filme #58

A Excêntrica Família de Antônia - Marleen Gorris (1995)

Alguns filmes são verdadeiros achados na nossa vida. Até hoje não consigo descrever exatamente o que senti quando assisti pela primeira vez A Excêntrica Família de Antônia (Antônia), obra-prima da diretora holandesa Marleen Gorris e vencedor do Óscar de melhor filme estrangeiro em 1996. 

O filme é uma verdadeira celebração à vida e à passagem inexorável do tempo, e conseguiu me emocionar como poucos até hoje conseguiram. Famílias que se separam, laços de amizade que se desfazem, amores que se perdem e sonhos que não se realizam. A grande verdade é que o tempo não perdoa ninguém, e a ele nada escapa. Seja para o bem ou para o mal, seus efeitos são inevitáveis, e muitas vezes só percebemos isso quando dele não nos resta mais tanto quanto gostaríamos.


A trama do filme atravessa três gerações de uma mesma família que estabeleceu suas raízes em um pequeno vilarejo no interior da Holanda, e começa com Antônia (Willeke van Ammelrooy), já com seus 90 anos, acordando para aquele que será seu último dia de vida. Ela sente isso, e começa então a relembrar todos os melhores e piores momentos que já vivenciou.

O roteiro volta para 1945, logo após a Segunda Guerra Mundial, quando Antônia retornou à cidade natal para enterrar a mãe, depois de vinte anos distante. Não há nenhuma menção ao que ela teria feito nesse período em que ficou fora, e seu retorno é visto de diversas formas pela população, algumas positivas e outras negativas. A única coisa que ela traz consigo é sua filha pequena, Danielle (Els Dottermans), que poucos sabiam que existia até aquele momento.

A partir de então, começam a surgir todos os demais personagens da estória. Desde uma mulher que uiva para a lua até um casal de deficientes mentais que encontra o amor de uma forma improvável, cada um possui sua própria excentricidade. O que existe de comum entre eles é que todos foram muito bem acolhidos pela matriarca, que sempre fez de tudo para manter a união acima de tudo.


Outro ponto que os aproxima é que em qualquer outro lugar do planeta eles seriam excluídos da sociedade, mas no vilarejo todos se encontram em harmonia, como uma orquestra desafinada que consegue se completar entre os compassos. Entre os demais personagens, dois chamam bastante a atenção: a menina superdotada e o filósofo pessimista, que estuda as obras de Nietzsche e Schopenhauer. Os diálogos entre eles sobre religião são realmente fantásticos, e para mim é o ponto máximo do filme.

Diversas questões sociais também são abordadas magistralmente, como a violência sexual (presente na figura do irmão que estupra a própria irmã), o aborto, a homossexualidade, e a capacidade da mulher de buscar seu espaço em uma sociedade extremamente machista. Aliás, é importante frisar o cunho feminista que a obra possui, já que as ações dos homens da aldeia são geralmente impulsivas e irracionais, e são as mulheres que comandam tudo com pulso firme e independência.


Apesar dos temas densos o roteiro é levado com bom humor, mesclando bem o lado divertido com o lado trágico, e sua forma peculiar de narrar os acontecimentos me lembrou bastante o clássico Cem Anos de Solidão, do escritor Gabriel García Márquez. Por fim, fica a certeza de que é um filme único, em todos os sentidos, e que deveria ser amplamente conhecido. Uma obra onde o tempo é o personagem principal, e nós somos meros espectadores do que ele é capaz.

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Os 5 melhores filmes de David Fincher

Nascido em Denver no ano de 1962, David Fincher é hoje um dos mais consagrados diretores de Hollywood, mesmo diante de um número relativamente pequeno de obras. Fincher já demonstrava sua aptidão para o mundo do cinema desde pequeno quando, aos oito anos de idade, brincava de fazer filmes caseiros com a câmera dos pais. Mas foi aos 18 que começou a trabalhar definitivamente no ramo, onde teve a honra de fazer parte das gravações de Stars Wars e Indiana Jones.


Sua estreia na direção de longas metragens foi com Alien 3, lançado em 1992. O filme, porém, foi um verdadeiro fracasso de crítica e bilheteria, e quase fez o diretor desistir de tudo. A volta por cima viria 3 anos depois com Seven - Sete Crimes Capitais, filme que deu a Fincher a aclamação que ele precisava para se manter firme na carreira e logo depois lançar Vidas em Jogo, com Michael Douglas. O maior sucesso da carreira de Fincher, no entanto, seria lançado em 1999. O violento, polêmico e visceral Clube da Luta não somente foi ovacionado pela crítica especializada na época como é hoje considerado um clássico, tendo uma legião de fãs que cresce cada dia mais.

Em 2002, Fincher lançou O Quarto do Pânico, um suspense de tirar o fôlego que também foi muito bem aceito pela crítica. Cinco anos depois foi lançado Zodíaco, outro thriller policial no mesmo nível de Seven, que contava a história real de um assassino em série que matou dezenas de pessoas em São Francisco entre os anos 1960 e 1970. Deixando de lado o suspense policial e partindo para o drama, Fincher filmou aquele que é um dos filmes mais queridos dos últimos anos: O Curioso Caso de Benjamin Buttonbaseado no conto de F. Scott Fitzgerald. O resultado final é belíssimo, e foi o primeiro trabalho do diretor a chamar a atenção do Óscar, onde teve 13 indicações e levou para casa três prêmios, todos em categorias técnicas. A Rede Social, que contava a história por trás da criação do Facebook, foi seu próximo filme de sucesso e também levou três Óscars para casa, incluindo melhor roteiro original. O grande feito do filme no entanto foi ter conquistado os Globos de Ouro de melhor filme de drama e melhor diretor naquele mesmo ano.

Nesta segunda década do século 21, Fincher lançou apenas dois filmes até o momento. O primeiro foi Millenium: Os Homens que Não Amavam as Mulheres, adaptação americana do filme sueco de mesmo nome, que por sua vez é também uma adaptação da saga literária de sucesso escrita por Stieg Larsson. O segundo foi Garota Exemplar, suspense de qualidade que lotou as salas de cinema no ano passado, mas que foi ignorado por boa parte das premiações. No momento, Fincher se mantém afastado do cinema e trabalha como produtor executivo e diretor da série de televisão House of Cards, com Kevin Spacey. Em sua homenagem, resolvi fazer uma lista dos seus cinco melhores filmes. Confira.


1. O Curioso Caso de Benjamin Button (2009)

Poucos filmes conseguiram mexer tanto com meu imaginário quanto este. O Curioso Caso de Benjamin Button é um dos mais belos filmes já feitos na história do cinema, e não digo isso da boca para fora. Estrelado por Brad Pitt e Cate Blanchett, o longa se baseia num conto lançado pelo escritor F. Scott Fitzgerald em 1921, e conta a história de Benjamin Button (Pitt), um homem que misteriosamente nasceu velho e vai rejuvenescendo com o passar dos anos. O filme é tecnicamente impecável, e todas as cenas são recheadas de poesia.

2. Clube da Luta (1999)

A primeira regra do Clube da Luta é não falar sobre o Clube da Luta, mas eu preciso quebrá-la para colocar o filme nesta lista. O enredo acompanha a história de um executivo (Edward Norton) que se vê insatisfeito com a vida e passa a frequentar grupos de auto-ajuda. Nesse lugar ele conhece Tyler (Brad Pitt), que o leva a um grupo secreto onde os membros usam violentos combates corporais para extravasar suas angústias e tensões. O filme causou polêmica na época do seu lançamento graças às suas cenas de extrema violência, mas isso não impediu seu sucesso absoluto.

3. Seven: Os Sete Crimes Capitais (1995)

Outra parceria de sucesso de Fincher com Brad Pitt, Seven conta a história de dois policiais que são encarregados de uma perigosa investigação a cerca de um assassino em série que realiza seus assassinatos na ordem dos sete pecados capitais. É sem dúvida um dos suspenses policiais mais originais de todos os tempos, e seu trabalho técnico minucioso rendeu uma indicação ao Óscar de melhor edição.

4. O Quarto do Pânico

Lembro de ter assistido esse filme inúmeras vezes na adolescência, antes mesmo de saber quem era David Fincher, e ele sempre me deixava aflito como nenhum outro. Instigante ao máximo, o filme conta a história de uma mulher que vai morar com sua filha em uma nova casa, e logo vê ela sendo invadida por três homens estranhos que estão à procura de algo. As duas se escondem em um quarto extremamente blindado, construído na casa para situações emergências, mas não sabem que o que os homens procuram está justamente lá dentro com elas.

5. Garota Exemplar

O último filme lançado pelo diretor chamou a atenção no ano passado por trazer o gênero de suspense novamente à tona e com qualidade. Estrelado por Ben Affleck, o filme é uma adaptação do livro homônimo escrito por Gilliam Flynn, e narra a história de Nick (Affleck), um homem que descobre o sumiço de sua esposa bem no dia de seu quinto aniversário de casamento. A mídia manipula para que Nick seja considerado o principal suspeito do desaparecimento, e enquanto ele tenta provar sua inocência, suas características "sociopatas" vão piorando ainda mais sua situação.

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Crítica: Meu Verão na Provença (2015)


O cinema francês tem a incrível capacidade de contar uma história clichê de forma divertida e gostosa de assistir. É assim em Meu Verão na Provença (Avis de Mistral), novo filme da diretora Rose Bosch (do aclamado Amor e Ódio), que apesar de ser extremamente previsível, consegue cativar ao mostrar uma bonita visão a respeito da vida e de suas relações humanas.



A trama é simples: três irmãos vão passar as férias na casa dos avós depois que sua mãe viaja para o Canadá a trabalho. Chegando no local, eles são recebidos pela avó calorosa (Anna Galiena), diferentemente do avô (Jean Reno), um senhor rabugento e mau humorado que eles nunca haviam conhecido e que logo demonstra que não os queria ali.

Na medida em que vão se conhecendo melhor, os laços familiares vão se estreitando, e todos passam a conviver pacificamente. Tudo fica ainda mais interessante quando os netos descobrem que seu avô foi um jovem libertário e aventureiro, cheio de histórias para contar. Enquanto isso os três também criam laços com a vizinhança, descobrindo coisas novas sobre o amor e a alegria de viver.


Algumas cenas são comoventes, como o reencontro dos avós com amigos do passado, que no meio de conversas e música boa, relembram os amigos em comum que já se foram. Uma bela homenagem à vida e à passagem inexorável do tempo. Outro ponto interessante é o "choque" de costumes entre a cidade grande e o campo, que fica evidenciado na figura dos netos, que no começo passam o dia inteiro no computador. Isso nos faz pensar em como, muitas vezes, ficamos trancafiados dentro de casa mesmo com dias lindos, fazendo amigos virtuais ao invés de conhecê-los pessoalmente.



Com atuações convincentes, fotografia belíssima e uma trilha sonora encantadora, Meu Verão na Provença não deixa de ser um repeteco de muitos filmes já existentes mas com um toque sutil de originalidade, que o diferencia dos demais. Por fim, trata-se de uma estória leve, daquelas para assistir com a família e refletir juntos sobre os caminhos que a vida segue.

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Crítica: X + Y (2015)


Histórias de superação existem aos montes no mundo do cinema, mas os estúdios e os diretores sempre encontram espaço para trazer o gênero de volta às telas. X + Y, primeiro longa de ficção do britânico Morgan Matthew, é mais um daqueles filmes leves, feitos para agradar um determinado público, cujo resultado é  insatisfatório.



Nathan (Asa Butterfield) é um verdadeiro prodígio em matemática. Em compensação, sua relação com as pessoas é bastante prejudicada por sua personalidade autista, que piora ainda mais com a morte precoce do pai em um acidente de carro. Passando a viver apenas com sua mãe (Sally Hawkins), Nathan logo é matriculado em uma nova escola, onde conhece o professor Martin Humphreys (Rafe Spall), com quem se dá muito bem.

Por indicação de Humphreys, Nathan acaba entrando para equipe que está treinando para representar a Inglaterra nas Olimpíadas de Matemática. O grupo viaja para Taiwan onde se encontra com membros de outros países para fazer um intensivo, mas Nathan não se sente a vontade com isso. Primeiro, por ser a primeira vez que ele fica longe de casa, e segundo, porque antes ele se achava único e agora se vê obrigado a ficar no meio de tantos outros iguais a ele, ou até mesmo mais inteligentes.


Na viagem ele conhece Zhang Mei (Jo Yang), uma jovem da equipe chinesa com quem faz uma grande amizade. Os dois se dão muito bem justamente pelo contraste de personalidades: Nathan é um garoto sério e com medo de tudo, enquanto Zhang é extremamente ativa e sempre bem humorada. De volta à Inglaterra, onde será realizada a olimpíada, ele acolhe a menina em sua casa, e os dois não demoram para descobrir que entre eles existe algo a mais que simples amizade.

O enredo do filme não traz nada de novidade e é até mesmo bastante previsível ao contar a história de um menino com dificuldades sociais que vê em alguma habilidade a chance de crescer na vida, enquanto descobre os mistérios do amor. Mais clichê que isso só mesmo o romance que nasce entre sua mãe e o seu novo professor, e o caso de um dos colegas de Nathan que pensa em se matar por não gostar de matemática e estar sendo obrigado a participar de tudo.


O final também é algo que deixa a desejar, pois é inconcluso e poderia ter sido bem mais trabalhado. Apesar de tudo, o filme não é de todo ruim. A atuação de Sally Hawkins mais uma vez impressiona, assim como a de Asa Butterfield. Aliás, o elenco de jovens é bastante competente, e segura bem as pontas. Para quem gosta do tipo de filme leve, feito para emocionar e nada mais, está aí uma boa pedida. Mas não espere muito se você estiver querendo ver algo original.


quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Crítica: A Dama Dourada (2015)


A Segunda Guerra Mundial já foi mostrada no cinema de inúmeras formas, sendo um dos temas mais abordados desde que o conflito teve fim na década de 1940. De uns anos para cá a visão "hollywoodiana" sobre o assunto tem tomado ares mais pessoais, deixando de lado o velho clichê dos campos de concentração para contar histórias de ilustres desconhecidos que também tiveram suas vidas alteradas drasticamente naquele período.



Uma dessas belas histórias é a de Maria Altmann (Helen Mirren), uma judia austríaca que viveu durante décadas nos Estados Unidos depois de conseguir fugir durante a invasão nazista em seu país. Já nos anos 1990, depois de remexer em alguns documentos de sua falecida irmã, Maria acabou descobrindo o paradeiro de uma importante obra de arte que foi furtada pelos alemães da casa de sua família no período da guerra. 

Decidida a recuperar o quadro, ela pede a ajuda do experiente advogado Randol Schoenberg (Ryan Reynolds), filho de uma grande amiga.  A obra em questão (o retrato de Adele Bloch-Bauer, tia de Maria, feito pelo consagrado pinto Gustav Klimt) está há anos em poder do governo austríaco e já se tornou atração principal em um dos maiores museus do país, sendo considerado por muitos a "Monalisa Austríaca".



Diante dessa importância cultural que a obra passou a ter para a história nacional, o governo austríaco se recusou veementemente a abrir mão da mesma, e fez de tudo para dificultar as chances de Maria recuperá-la. A alternativa dela foi entrar na justiça contra o governo e pedir o que deveria ser seu por direito, naquele que se tornou um dos processos judiciais mais repercutidos dos anos 1990 no país.

Maria não queria a obra pelo valor em dinheiro, mas sim, pelo alto valor sentimental que a mesma trazia para ela. Resumindo em poucas palavras, o que ela queria mesmo na justiça era recuperar o quadro para ter um consolo pela perda dos parentes, já que esse era um dos objetos que mais lembrava sua infância junto à família. Através de flashbacks, o filme fala bastante sobre o sofrimento que aquele período trouxe para muita gente, que perdeu tudo o que tinha, sobretudo as pessoas que amavam.



Helen Mirren está sensacional como sempre no papel principal. Ryan Reynolds também não decepciona, assim como a coadjuvante Tatiana Maslany, que faz Maria quando nova. O roteiro é muito bem construído e consegue contar o drama de Maria incluindo algumas pitadas de comédia, o que deixa o filme bastante leve. Por fim, A Dama Dourada já se consagra como um dos melhores filmes do ano, e sem dúvida vale muito a pena conferir.


segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Crítica: Pessoas-Pássaro (2014)


Oito anos depois do sucesso de Lady Chatterley, adaptação da obra de D.H. Lawrence que conquistou cinco prêmios César em 2006 incluindo melhor filme, a diretora Pascale Ferran está de volta às telas com Pessoas-Pássaro (Bird People), uma fábula moderna sobre a liberdade do indivíduo em meio ao aprisionamento da rotina diária.



Gary Newman (Josh Charles) é um engenheiro de informática americano que vive viajando pelo mundo a trabalho e acaba de pousar em Paris para mais uma de suas reuniões. Nela fica decidido que, para dar andamento em um importante projeto da empresa, sua próxima parada será em Dubai, e ele tem um dia para aguardar o voo que o levará até lá.

Cansado dessa vida, Gary resolve tomar uma atitude drástica: não embarcar no avião e continuar em Paris, além de largar o emprego e até mesmo a mulher. Essa atitude fria e impulsiva tem um custo altíssimo mas ele não pensa nisso, e quer apenas se ver livre destas "amarras" que a sociedade nos impõe.

Em Paris vive também Audrey (Anais Demoustier), uma jovem solitária que trabalha como camareira em um dos principais hotéis da capital francesa. Assim como Gary, Audrey também se sente extenuada com sua rotina de trabalho e queria um dia poder fugir de tudo, até que um estranho acontecimento lhe dá "asas" para a imaginação e para sua tão sonhada liberdade.



É um filme silencioso, de poucas palavras, mas quando elas aparecem são muito bem colocadas. Mais do que isso, é um enredo construído através de metáforas. A principal delas já vem embutida no nome: "pessoas-pássaro", que nada mais é do que uma analogia da liberdade e das escolhas da vida, onde podemos "migrar" para aquilo que acharmos melhor.

Uma das cenas mais interessantes do longa acontece logo no começo, quando a câmera dá um close em vários rostos aleatórios pela cidade, mostrando seus pensamentos e suas expressões, onde cada um está tão entretido em seu próprio mundo (seja olhando para o nada ou para a tela do celular) que nem chega a perceber as pessoas em volta. Destaque também para o momento "surreal" do filme, com belas imagens e uma bela mensagem escondida nas entrelinhas.



Por fim, o dia-dia corrido, as relações humanas cada vez mais impessoais e a rotina estressante que nos mata um pouco a cada dia são alguns dos temas abordados por Pessoas-Pássaro, que é certamente um filme original e diferente de tudo que você já viu até então. Vale a pena dar uma conferida.


sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Crítica: A História Verdadeira (2015)


Baseado no livro de memórias homônimo lançado pelo jornalista Michael Finkel, A História Verdadeira (True Story), do diretor estreante Rupert Goold, conta para o público a relação que Michael teve com um dos criminosos mais procurados dos Estados Unidos logo depois de sua captura, em 2002.



Christian Longo (James Franco) está na lista dos mais procurados pelo FBI, acusado de ter matado brutalmente as três filhas e a mulher. Depois de uma extensa procura ele finalmente é capturado em Cancún, no México, onde se escondia usando o nome de um jovem jornalista do The New York Times, Michael Finkel.

Quando Michael (Jonah Hill) fica sabendo que seu nome era utilizado pelo criminoso em sua fuga, ele logo fica intrigado e resolve ir atrás para tentar entender o motivo. Já no primeiro encontro o prisioneiro confessa ser fã do trabalho do jornalista e promete contar toda a verdade por trás do crime, desde que ele prometa escrever e publicar um artigo sobre isso.



Ao longo de suas visitas à penitenciária, Michael vai fazendo anotações e descobrindo um pouco mais da vida de Christian, que por sua vez, vai manipulando a história da sua forma. O enredo tenta criar dúvidas na cabeça do espectador em relação a sua verdadeira culpa, mas não obtém êxito justamente por não ter se aprofundado mais e ter deixado tudo muito óbvio desde o início.

No fim, o que era para ser somente um artigo se transforma em um livro, mas o enredo não se aprofunda muito no que consta nele, deixando isso bastante vago. Para piorar, a montagem dá a entender que de um dia para o outro Michael sentou e escreveu mais de 100 páginas sobre o assunto, sem nem ter conversado direito com Christian. Uma falha grave de edição e noção de tempo.



James Franco está muito bem no papel de Christian, mas em compensação, Jonah Hill continua o mesmo ator de sempre, completamente sem sal e deslocado do resto. Até quando Hollywood vai insistir nele? Mais estranha ainda é a participação de Felicity Jones, que teve seu talento mal aproveitado em uma personagem sem relevância alguma para a história. Por fim, o que poderia ter sido um bom filme se perde em erros bobos, e o resultado final visto em cena é um pouco decepcionante, ainda que não seja de todo ruim. Como estreante, Rupert Goold ainda parece ter muito o que aprender na direção.


quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Crítica: Ninho de Musaranhos (2015)


Fico cada vez mais impressionado com a qualidade do cinema espanhol quando se fala em filmes de suspense, e já virei um grande admirador. Mesmo utilizando poucos recursos, os estúdios espanhóis produzem um número invejável de obras originais, com uma qualidade que não é vista em nenhum outro lugar do planeta. A grande surpresa da vez é Ninho de Musaranhos (Musarañas), filme de baixo orçamento dos estreantes Esteban Roel e Juanfer Andrés, que já entra para a lista dos melhores do gênero.



Musarañas (ou musaranhos, em português) são pequenos mamíferos roedores, semelhantes aos ratos, conhecidos por viverem em ninhos bem escondidos e pela sua ferocidade, apesar do pequeno porte. A partir dessas características, o filme faz uma analogia ao comparar o modo de vida desses pequenos animais com a de duas irmãs que vivem em um pequeno apartamento de Madrid nos anos 1950.

Montse (Macarena Gómez) é a mais velha das duas e sofre de agorafobia (medo de lugares abertos). Por conta disso, há anos não consegue pôr os pés para fora de casa, e ganha a vida costurando no próprio apartamento. A irmã mais nova (Nadia de Santiago), por sua vez, não sofre de nenhum problema e leva sua rotina normal trabalhando em uma loja da cidade, sendo o elo delas com a rua.



Desde cedo, Montse ficou responsável por cuidar da irmã caçula, já que a mãe morreu no parto e o pai mudou drasticamente de comportamento após o incidente, se tornando um homem extremamente agressivo. Excessivamente protetora, ela se preocupa até demais com o amadurecimento da irmã, e toma algumas atitudes bastante radicais para que ela siga suas ordens.

O dia-dia das duas muda drasticamente quando Carlos (Hugo Silva), o vizinho do apartamento de cima, aparece na porta bastante machucado. Sem saber muito o que está fazendo, Montse o acolhe no apartamento e passa a cuidar dele, mas não demora para que isso se torne uma obsessão que colocará a vida de todos a perigo.



Do meio para o final o tom é de filme de terror, e o enredo, construído com capricho, passa a nos mostrar uma Montse totalmente fora de si. O psicológico da personagem é muito bem abordado, ainda que pareça por vezes inverossímil, e o grande mérito fica por conta da atuação de Macarena Gómez, que inclusive lhe rendeu indicação ao prêmio Goya de melhor atriz este ano.

Com inesperadas mudanças de rumo e um clima claustrofóbico (por se passar inteiramente dentro de um único espaço), Ninho de Musaranho é sem dúvida um dos filmes mais interessantes e impactantes dos últimos anos, e tem tudo para virar mais um jovem clássico do gênero.


terça-feira, 4 de agosto de 2015

Crítica: Ex Machina (2015)


Há muito tempo que a criação de uma inteligência artificial, capaz de sentir emoções iguais as nossas, vem sendo discutida e abordada no cinema. Alguns filmes sobre o assunto viraram clássicos como A.I. Inteligência Artificial, de Steven Spielberg, e Eu, Robô, adaptação do livro de Isaac Asimov, e desta vez quem traz o tema à tona novamente é o diretor Alex Garland (de Dredd e Extermínio), com o impactante e memorável Ex Machina.



Nathan (Oscar Isaac), dono de uma mega empresa de pesquisas online chamada Blue Book (uma espécie de Google, só que ainda mais avançado), sorteia um dos seus funcionários para passar uma semana em sua casa, isolada no meio do nada. O escolhido é Caleb Smith (Domhnall Gleeson), um jovem e exímio programador que fica contente e ao mesmo tempo intrigado com o que o espera por lá durante esses dias.

Ao chegar no local Caleb fica impressionado com o que vê, e não demora para que Nathan lhe explique qual é a sua verdadeira intenção de de ter sua presença ali. O magnata está empenhado em revolucionar o mundo tecnológico e para isso criou Ava (Alicia Vikander), um robô com inteligência artificial que tem tudo para ser a máquina mais perfeita já criada por um ser humano. 



A missão de Caleb é participar do "Teste de Turing" com Ava, que consiste em tentar provar que a máquina pode ser tão inteligente quanto um ser humano ao ponto de conseguir se passar por um sem ser descoberta. As coisas entre os três começam a sair do controle e um tenta manipular o outro, onde ninguém mais sabe em quem pode confiar.

O final, apesar de previsível, finaliza de forma sublime esse longa hipnotizante. As atuações são convincentes, inclusive de Alicia Vikander, que aparece o filme inteiro na forma de um esqueleto metálico que é coberto por uma pele sintética. O clima tenso e claustrofóbico toma conta de boa parte do filme, que começa de maneira intrigante mas parece se perder um pouco do meio para o fim, o que de forma alguma prejudica o resultado final.



Com mais acertos do que erros, pode-se dizer que Ex Machina é uma experiência e tanto para quem gosta de ficção científica, e pode vir a se tornar um jovem clássico com o passar dos anos. Um dia, quem sabe, a inteligência artificial poderá vir a se tornar uma realidade, e para falar a verdade, isso não é mais tão difícil de imaginar como antigamente.