quarta-feira, 20 de março de 2019

Crítica: Durante a Tormenta (2019)


O diretor espanhol Oriol Paulo vem sendo considerado, e com méritos, um dos melhores diretores atuais do gênero de suspense. Após os impactantes O Corpo e Um Contratempo, ele novamente prova que veio para ficar com Durante a Tormenta (Durante La Tormenta), filme que estreou diretamente na Netflix. Diferente do que fez em seus filmes anteriores, desta vez ele sai do real e brinca com o sobrenatural ao abordar um tema que é sempre bem vindo no cinema: a viagem no tempo e a interferência tempo-espaço.


O longa começa em 1989 e mostra Nico, um garoto que mora com a mãe e gosta de gravar vídeos tocando sua guitarra. Certo dia, logo após sua mãe sair para trabalhar, ele ouve seu vizinho espancando sua mulher, e no impulso decidi ir até a casa para ver o que está acontecendo e tentar ajudá-la. No caminho, porém, é atropelado e vem a óbito. Depois desse acontecimento o filme pula 25 anos e mostra o casal Vera (Adriana Ugarte) e David (Álvaro Morte), que moram na mesma casa onde o menino morou. 

No sótão eles encontram uma caixa cheia de fitas gravadas pelo garoto, e resolvem assistir algumas delas de curiosidade. Isso, no entanto, acaba abrindo um canal de comunicação entre o passado e o futuro, onde Vera consegue conversar com o menino através da televisão. Ao tentar interferir em algo do futuro, porém, ela gera uma mudança drástica em sua própria realidade, despertando em uma vida completamente diferente.

A segunda metade do filme consiste em Vera tentando juntar as peças para recuperar a vida que levava antes do acontecimento. O enredo é relativamente simples, mas intrigante até os seus minutos finais. Alguns momentos poderiam ter sido mais bem trabalhados e o final deixou um pouco a desejar ao criar um argumento romântico bobo, mas nada que tire o seu valor final.


Por fim, vale destacar as boas atuações e a belíssima fotografia, que assim como nos filmes antecessores do diretor, ajuda a criar o clima perfeito de tensão. Importante ressaltar esse espaço que a Netflix vem dando a filmes espanhóis, principalmente depois do sucesso de La Casa de Papel, o que possibilita as pessoas a conhecerem o trabalho desse excelente diretor, que merece todos os holofotes.


terça-feira, 5 de março de 2019

Crítica: Girl (2019)


Do diretor estreante Lukas Dhont, Girl foi uma grande surpresa no último Festival de Cannes, onde venceu o prêmio Camera d'or, entregue justamente ao melhor filme de um cineasta em começo de carreira. A trama acompanha Lara (Victor Polster), uma menina transgênero de 15 anos que sonha em ser uma bailarina de sucesso.



Pelo fato de ter uma estrutura corpórea diferente, ela não possui a mesma destreza e leveza que as colegas meninas, mas isso não a impede de dar o sangue, literalmente, para alcançar o seu objetivo. O filme foca justamente nas dificuldades que Lara enfrenta nessa caminhada, principalmente as causadas por sua identidade de gênero. Contando com o apoio incondicional do pai (Arieh Worthalter), Lara também está na fila para conseguir fazer sua cirurgia de redesignação sexual, e enquanto não consegue realiza-la, precisa usar de todas as maneiras possíveis para esconder seus traços e órgãos masculinos.

O diretor mostra, de forma bem realista, o que passam jovens como Lara, não abordando somente o preconceito externo mas focando sobretudo na própria não aceitação do corpo e o quanto isso os abala psicologicamente. Lara ainda tem sorte de contar com o apoio forte da família, mas e quem não tem? Quantos são subjugados, abandonados, e obrigados a enfrentar tudo isso sozinhos por aí?



O roteiro é muito bem construído e o destaque fica por conta da atuação fantástica de Victor Plster, que consegue apenas com o olhar transmitir toda insegurança e angústia da protagonista. Girl se torna um filme importantíssimo para abordar o tema da transexualidade de uma forma bem intimista.