quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

As 10 maiores decepções de 2019

Nessa semana eu lancei aqui no blog a lista com os melhores filmes do ano, e assim como foi um ano de grandes obras também foi um ano de grandes decepções. Resolvi elencar dez delas, lembrando sempre que trata-se de uma lista pessoal e que eu não estou citando aqueles que para mim foram os piores do ano (se fosse assim, a lista seria um pouco diferente e bem maior), mas sim, aqueles dos quais eu estava esperando algo (seja pelo diretor, seja pelo elenco ou pela estoria em si) e foi muito abaixo das minhas expectativas. Vamos lá.

10º Divino Amor, de Gabriel Mascaro

O trailer de Divino Amor dava a ideia de que seria um filme crítico contra o fanatismo religioso, e no fundo realmente não deixa de ser, mas a péssima edição, as falhas grotescas de direção, as cenas extremamente desnecessárias e longas de sexo explícito e as atuações risíveis transformaram o novo filme de Gabriel Mascaro numa verdadeira bomba.

9º Tolkien, de Dome Karukoski

Como grande fã da literatura de J. R. R. Tolkien, eu esperava ansioso para ver sua história ser contada nas telas, e foi uma decepção e tanto. O filme é muito corrido, tem atuações fracas, e quando parece que finalmente vai engrenar, acaba. Quando se faz uma biografia de um músico, por exemplo, obviamente se mostra como foi o processo de criação das canções, e eu esperava que seria da mesma forma com a vida de Tolkien, mas o filme se preocupa em focar mais na sua vida antes de se tornar escritor do que na criação dos seus livros clássicos. Nem sua relação bonita com os filhos é mostrada na tela, pois o filme termina antes disso acontecer. Decepcionante.

8º Cadê Você, Bernadette?, de Richard Linklater

Richard Linklater, da trilogia de Antes do Amanhecer e de Boyhood, tinha sob sua câmera nada mais nada menos do que a atriz Cate Blanchet, e desperdiçoou a chance de fazer mais um grande filme na sua carreira. Cadê Você, Bernadette? até começa bem, mas não demora muito para cansar e se tornar extremamente entediante. É tudo muito simplório, e até mesmo a abordagem da depressão, que foi o que me chamou a atenção para ver o filme, foi feita de forma superficial.

7º Peterloo, de Mike Leigh

O massacre de Manchester, como ficou conhecido, em que forças britânicas mataram 15 pessoas e feriram mais de 700 em retaliação a um ato pacífico que pedia pelo direito a votos, nunca tinha ganhado uma adaptação para as telas apesar de ser um acontecimento bastante lembrado na Inglaterra. Coube a Mike Leigh, de Segredos e Mentiras, trazer essa estória para as telas, mas ficou muito abaixo do esperado, com um ritmo lento, muita verborragia e pouca emoção.

6º Yesterday, de Danny Boyle

Não dá para dizer que Yesterday é um filme todo ruim, mas ficou muito abaixo do que eu esperava, ainda mais por se tratar de um diretor veterano como Danny Boyle. Ao tentar nos mostrar como seria um mundo sem os Beatles, o filme teus seus bons momentos sim, principalmente os números musicais, mas peca pelos furos no roteiro, por suas atuações fracas e principalmente por focar mais em ser uma comédia romântica do que qualquer outra coisa.

5º Um dia de Chuva em Nova York, de Woody Allen

Depois de todos os problemas que teve para ser lançado, o novo filme de Woody Allen finalmente chegou aos cinemas com bastante atraso nesse mês de dezembro, mas a verdade é que poderia nem ter saído. Com um ritmo extremamente corrido (até mesmo para um filme de curta duração), personagens muito mal trabalhados, e um casal de protagonistas totalmente sem química, Um dia de Chuva em Nova York é um dos filmes mais dispensáveis da carreira do diretor.

4º A Morte e Vida de John F. Donovan, de Xavier Dolan

Xavier Dolan é um dos meus diretores preferidos na atualidade, e isso só serviu para aumentar ainda mais a decepção com esse seu novo trabalho. O roteiro é extremamente superficial, sem aprofundamentos, sem uma verdadeira estória pra contar, e o Kit Harington parecia mais perdido do que no episódio final de Game of Thrones.

3º IT: Capítulo 2, de Andy Musquietti

Após uma boa primeira sequência, era esperado um desfecho a altura para a estória baseada no livro de Stephen King, mas foi tudo ruim demais. O bom elenco até que tentou, mas o resultado final foi uma série de erros, desde inconsistências no roteiro até elementos visuais desnecessários.

2º Clímax, de Gaspar Noé

Sou muito fã de Gaspar Noé e do seu cinema incômodo, que não tem medo de ousar e muitas vezes causa desconforto no público, mas dessa vez eu fiquei desconfortável de uma maneira diferente da que eu esperava. Desconfortável no sentido ruim da palavra, com a péssima qualidade do longa, desde suas atuações até seu desfecho. Poucas vezes torci pra um filme terminar como torci para esse, e quero distância pro resto da minha vida.

1º A Lavanderia, de Steven Soderbergh

O elenco tinha Meryl Streep, Antonio Banderas, Gary Oldman, e a direção do veterano Steven Soderbergh, mas mesmo assim conseguiu ser o pior filme que vi no ano. É triste ver um elenco como esse ser desperdiçado em uma estória tão fraca, com uma edição tão mal feita, e por isso é para mim a grande decepção desse 2019.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Os 20 melhores filmes lançados no Brasil em 2019

Mais um ano se aproxima do fim e chegou novamente aquele momento tão esperado de fazer a lista com os melhores filmes do ano. Foi um ano de grandes diretores nas telas, como Scorsese, Tarantino, Joon-ho Bong e Noah Baumbach, mas também de grandes novidades, como as diretoras Eva Husson, Mimi Leder e Nadine Labaki. Com enredos que vão desde a luta de classes até cinebiografias, a lista de 2019 está bastante diversificada. Confira ela completa abaixo:


20º O Ano de 1985, de Yen Tan (Estados Unidos)

O filme acompanha um jovem que está morando longe dos pais há três anos e está retornando à casa da família para a ceia de Natal. Bom, até aí tudo bem, mas as coisas não são tão simples assim. Ele acabou de passar por uma tragédia pessoal além de ter sido diagnosticado com AIDS, e precisa contar isso para uma família extremamente religiosa e conservadora e que não faz a mínima ideia da sua orientação sexual. Ah, lembrando ainda todo o contexto dos anos 1980, onde o preconceito era muito maior do que é hoje. O que eu mais gostei nesse filme foi o fato dele fugir do convencional sobre o assunto e trazer uma abordagem extremamente delicada, focando na dor interna e silenciosa que o personagem sente por ter que esconder das pessoas que ele ama aquele quem ele verdadeiramente é.


19º O Traidor, de Marco Bellocchio (Itália)

O novo filme de Bellocchio se passa nos anos 1980 e acompanha o período em que o mafioso Tommaso Buscetta, refugiado no Brasil e posteriormente preso pela polícia federal brasileira, decidiu delatar os nomes de centenas de envolvidos com a máfia siciliana, o que culminou no maior julgamento da história da Itália. O filme tem boas atuações e possui uma atmosfera quase documental, e o enredo não cansa em nenhum momento apesar da sua longa duração. Representante da Itália no Óscar de 2020, O Traidor conta ainda com duas belezas brasileiras: as lindas paisagens da cidade do Rio de Janeiro e a atriz Maria Fernanda Cândido.

18º Green Book, de Peter Farrely (Estados Unidos)


O nome do filme se refere a um livreto conhecido no período da segregação racial nos Estados Unidos, que indicava os lugares onde os negros eram permitidos, como hotéis, bares e restaurantes. Vencedor do Óscar de melhor filme este ano, Green Book usa a viagem de um músico negro pelo sul dos Estados Unidos nos anos 1960 para explorar este período difícil da história, mas tudo com leveza e até mesmo bom humor. Mesmo que não discuta o racismo fortemente como outros filmes, o assunto está presente o tempo inteiro, e não poderia ser diferente, dado o contexto da época. Vale muita a pena conferir a atuação de Mahershala Ali, que também venceu o Óscar de melhor ator coadjuvante.


17º Rocketman, de Dexter Fletcher (Estados Unidos)

O astro Elton John é interpretado brilhantemente por Taron Egerton nesse filme que conta sobre sua carreira e sua ascensão meteórica no mundo da música. O filme não tem medo de flertar com o gênero musical clássico, daquele jeitão que todos costumam associar quando se pensa em musical, com coreografias e cenas bem animadas, mas também tem um ótimo apelo dramático, principalmente na questão do uso de drogas e da solidão de alguém que pensa não se encaixar no mundo. As metáforas visuais tornam o filme uma aventura e tanto, e encantam tanto os fãs do artista quanto quem está tendo contato com sua história pela primeira vez.


16º A Odisseia dos Tontos, de Sebastián Borensztein (Argentina) 


Como um grande fã do cinema argentino que sou, não poderia deixar de fora da lista mais um grande trabalho deste diretor, que já havia me conquistado com Um Conto Chinês. Novamente trabalhando com Ricardo Darín, ele traz aqui uma história de superação de "tontos", denominação para pessoas que trabalham honestamente e só se ferram. Após se reunirem para formar uma cooperativa e investirem dinheiro em um negócio, um grupo de pessoas acaba sofrendo um golpe de um banqueiro e de seu advogado. A partir de então eles começam a armar um plano e vão até o limite para recuperar tudo o que perderam. O filme tem um ótimo bom humor e uma mão firme na direção. Na sessão que assisti, todos aplaudiram no final, meceridamente.

15º Suprema, de Mimi Leder (Estados Unidos)

O filme conta a história real de Ruth Bader Ginsburg, interpretada pela Felicity Jones, que fez história nos anos 1960 ao se tornar uma das primeiras mulheres a ingressar na Suprema Corte dos Estados Unidos, um ambiente majoritariamente masculino. O enredo faz um excelente retrato da sociedade machista daquela época, mostrando todos os obstáculos que ela enfrentou para chegar onde chegou, apenas pelo fato de ser mulher. Mais do que uma homenagem a essa grande jurista, Suprema é um filme necessário numa época em que, infelizmente, ainda é preciso discutir o feminismo e os direitos iguais.


14º Cyrano Mon Amour, de Alexis Michalik (França)

Cyrano de Bergerac é uma das peças mais importantes da história do teatro, e já foi encenada mais de vinte mil vezes ao longo de dois séculos. O filme de Alexis Michalik conta como surgiu esse personagem na cabeça de Edmond Rostand, ainda no final do século 19, e todas as dificuldades que ele enfrentou para realizar a ideia nos palcos. Fracassado na carreira de dramaturgo, Rostand começou a buscar inspiração em situações rotineiras e, como de praxe, em uma musa inspiradora, para escrever esse grande clássico. A ambientação da época e o bom humor fazem desse filme uma linda experiência, além de ser uma verdadeira declaração de amor ao teatro.

13º A Vida Invisível, de Karim Ainouz (Brasil)

Escolhido para representar o Brasil no Óscar de 2020, A Vida Invisível era um dos filmes nacionais mais esperados do ano e cumpriu muito bem com as expectativas. A trama conta a história de duas irmãs, Gilda e Eurídice, que cresceram juntas no seio de uma família tradicional portuguesa no Rio de Janeiro mas que, por consequências do destino, acabaram se separando na vida adulta. O filme traz críticas contundentes ao machismo da sociedade na década de 1960, com uma estonteante beleza nos detalhes. As atuações, a trilha sonora e a ambientação da época são impecáveis, e a participação especial de Fernanda Montenegro foi a cereja do bolo de mais um grande sucesso do cinema nacional.


12º Amor à Segunda Vista, de Hugo Gélin (França)

Enredos envolvendo histórias de amor e viagens no tempo já foram feitos aos montes por aí, mas aqui a receita ganhou uma originalidade que de cara me conquistou. A trama acompanha o casal Raphael e Olivia, que se conhecem na faculdade e se apaixonam perdidamente um pelo outro. Após 10 anos morando juntos e mais uma briga rotineira do casal, Raphael simplesmente acorda em uma realidade paralela, onde eles nunca se conheceram e ele vive uma vida completamente diferente da que tinha. Desesperado, ele encontra uma maneira de voltar no tempo para tentar consertar as coisas e ter a sua vida anterior de volta. É um filme de romance mas com um enredo bem complexo e surpreendente, com personagens muito bem trabalhados e um humor refinado.


11º Era Uma Vez em... Hollywood, de Quentin Tarantino (Estados Unidos)

O nono filme do Tarantino pode não ser o melhor trabalho da sua carreira, mas o cineasta é tão grandioso na sua maneira de nos contar uma história que mesmo assim o filme figura entre os melhores do ano. Como se fosse uma espécie de homenagem do diretor a tudo que serviu de inspiração nos seus filmes anteriores, Era Uma Vez em... Hollywood se passa na Los Angeles dos anos 1960 e acompanha um ator em decadência, interpretado por Leonardo DiCaprio, que busca o seu espaço fazendo participações em séries de faroeste, contando sempre com a ajuda do dublê e amigo fiel, interpretado pelo Brad Pitt. O filme tem ainda como pano de fundo a seita liderada por Charles Manson, que naquela época colocou terror em Los Angeles com uma série de assassinatos, o mais conhecido deles o da atriz Sharon Tate, que no filme ganha vida nas mãos de Margot Robbie. Ao que tudo indica, o filme deve ter presença garantida no próximo Óscar e em categorias importantes, como a de melhor filme, melhor roteiro e principalmente a de melhor ator.

10º Parasita, de Joon-ho Bong (Coréia do Sul)

Gosto muito dos filmes do diretor Joon-ho Bong (Expresso do Amanhã é um dos meus filmes preferidos da vida), que tem como característica principal tocar na ferida da luta de classes, tema que ele sabe abordar como ninguém no cinema oriental. E com Parasita não poderia ser diferente. Fui olhar com grande expectativa, até por conta da vitória em Cannes, e não me decepcionei. Mostrando um lado da Coreia do Sul que não é mostrada na televisão (o da pobreza, da sujeira, e da falta de perspectiva num futuro melhor), o filme acompanha uma família que vive num apartamento apertado no subúrbio e decidi aplicar um "golpe" em uma família rica para experimentar, pelo menos por alguns dias, o que é ter uma vida de luxo. A crítica social está presente durante todo o filme, sempre mostrando um contraste entre os dois mundos distintos, o da riqueza e o da pobreza, seja de forma explícita ou simplesmente pelas ações despretensiosas dos personagens.

9º Dois Papas, de Fernando Meirelles (Reino Unido)

O novo filme do genial Fernando Meirelles começa exatamente com a morte do Papa João Paulo II e o conclave que elegeu o novo Papa, Joseph Ratzinger. Assim que o novo Papa assume o posto, o argentino Jorge Bergoglio, um dos cardeais mais importantes da igreja, decide pedir sua aposentadoria, já que tem uma visão completamente oposta às ideias do novo "comandante" da igreja. Os encontros dos dois é o que move este filme, e é muito interessante analisar que desde o início existe um antagonismo nos dois personagens, de um lado Ratzinger defendendo uma igreja mais fiel aos ideais que vem de séculos, contra uma ideia mais liberal de Bergoglio, que quer mudanças. O enredo vai mostrando esses encontros até o momento que Ratzinger renuncia ao cargo, e Bergoglio se torna o Papa Francisco. É um filme interessantíssimo até para que não é religioso, como é o meu caso, justamente pela direção extremamente competente, pelos ótimos diálogos e pelas atuações irretocáveis de Anthony Hopkins e Jonathan Pryce.


8º Bacurau, de Kléber Mendonça Filho (Brasil)

Sucesso de público e crítica, não somente no Brasil mas principalmente no exterior, Bacurau já é com certeza o maior filme da carreira do pernambucano Kléber Mendonça Filho. O longa se passa numa cidadezinha do sertão nordestino, chamada Bacurau, e acompanha uma série de eventos que se sucedem a uma estranha aproximação de um grupo de estrangeiros na região. Não é um filme de fácil absorção, muito pelo contrário, mas é uma obra instigante, daquelas que vão ficando melhor a cada vez que você pára para analisar tudo que acontece nela. É uma espécie de faroeste sertanejo, ainda que fuja de qualquer tipo de rotulação, e traz no enredo muita crítica social, mesmo que grande parte seja implícita. Em tempos de obscuridade, o cinema nacional teve com Bacurau um dos seus respiros mais profundos.


7º História de um Casamento, de Noah Baumbach (Estados Unidos)

Com um verdadeiro show de interpretação de Scarlett Johansson e Adam Driver, o novo filme de Noah Baumbach entrou fácil para a lista dos melhores do ano. O filme conta a história de um casal que está se divorciando e precisa lidar com a disputa na justiça pela guarda do filho, um tema já abordado tantas vezes no cinema, mas poucas vezes de forma tão humana. O diretor evita o uso de cortes e de flashbacks, e a separação do casal é mostrada principalmente através dos seus diálogos e das suas ações, focando principalmente nos detalhes da personalidade de cada personagem, que nos faz entender como tudo chegou aonde está. Noah utiliza um divórcio para trazer uma abordagem diferente do amor e do respeito entre dois seres humanos, com seus defeitos e qualidades, que apenas viram a parceria existente entre eles se esvair pelos dedos com o passar do tempo, sem apontar culpados.


6º Graças a Deus, de François Ozon (França)

Baseado numa história real, o novo filme de François Ozon toca no polêmico assunto da pedofilia dentro da igreja católica, mostrando um padre que volta à cidade onde deu catequese após três décadas. Ao descobrir seu retorno, uma das vítimas daquela época decide reunir outras pessoas que também foram abusadas pelo mesmo padre para tentar uma punição na justiça. O diretor aborda as sequelas psicológicas que as crianças abusadas levam para o resto de suas vidas, e critica o modo como a instituição sempre tentou passar pano para diminuir as repercussões dos casos. Há também um bom debate sobre a questão psicológica dos abusadores, o que torna o filme bem complexo e necessário.


5º O Irlandês, de Martin Scorsese (Estados Unidos)

Se tem um diretor que sabe abordar a violência nos cinemas, esse é Martin Scorsese. Anos depois dos clássicos Os Bons Companheiros e Cassino, ele volta ao gênero máfia/gângster com O Irlandês, um dos filmes mais esperados do ano. Só de ver Joe Pesci, Al Pacino, Robert DeNiro e Harvey Keitel juntos novamente já valeria a pena cada segundo, mas o filme vai muito além de um grande elenco e é uma verdadeira aula de cinematografia. Com longas sequências, trilha sonora envolvente, diálogos muito bem trabalhados e um espetáculo de atuações, o filme é com absoluta certeza um dos grandes favoritos ao próximo Óscar.


4º Nunca Deixe de Lembrar, de Florian Henckel van Donnersmarck (Alemanha)

Finalista no último Óscar de melhor filme estrangeiro, Nunca Deixe de Lembrar é a odisseia de um artista desde a sua infância na Alemanha Hitlerista até a sua consagração na Alemanha já dividida pelo Muro de Berlim. O roteiro acompanha a vida desse artista durante 4 décadas, e junto viaja pela história do país e pelas diversas mudanças sociais que ocorreram no período. O que mais encanta ao longo de todo filme é sua fotografia, unida a uma trilha sonora encantadora e a ótimas atuações. Um filme necessário para nunca deixar de se lembrar o quão destrutiva uma guerra é capaz de ser na vida dos seres humanos e de toda uma geração.

3º Coringa, de Todd Philips (Estados Unidos)

O Coringa é um filme corajoso, como há muito não se via no cinema de multidões, e é exatamente isso que o cinema americano precisava: ousadia. O personagem já havia aparecido em diversos filmes ao longo dos anos, mas somente agora, pela primeira vez, ganhou um filme só seu, e com uma grandiosidade que superou todas as expectativas. O diretor Todd Philips nos apresentou um trabalho de construção de personagem impressionante, desses que revigoram o cinema e nos fazem lembrar como é bom amar a sétima arte. E tudo isso não seria possível sem um grande ator por trás, Joaquim Phoenix, naquela que talvez seja a grande atuação da sua carreira até então. Coringa é o tipo de filme em que você sai da sala do cinema atordoado, tentando digerir o que viu.


2º Filhas do Sol, de Eva Husson (França)

Um dos filmes mais pesados deste ano veio da França, e além de ser dirigido por uma mulher também foi protagonizado somente por mulheres. Pela ótica de uma correspondente de guerra, o filme conta a história real de um grupo de mulheres que sobreviveram a um massacre do Estado Islâmico na região do Curdistão e que juntas pegaram em armas para formar um exército de resistência. É o tipo de filme que deixa cicatrizes profundas em quem assiste, pois é impossível ficar indiferente a tudo que é mostrado. Um filme que, apesar de sufocante, brinda nossos olhos com lindas cenas e nos deixa com a sensação de ter visto algo único nas telas. "Mulheres, vida, liberdade!".


1º Cafarnaum, de Nadine Labaki (Líbano)

Só de lembrar da sensação que eu tive ao ver esse filme no cinema, eu chego a me arrepiar, de verdade. Cafarnaum é um longa poderosíssimo e super intenso, que fala não somente sobre as mazelas sociais mas também sobre a falta de esperança de crianças e adultos em meio a uma realidade caótica e sub humana. O enredo gira em torno de um garoto libanês de 12 anos que vive numa família abusiva e sonha com o mínimo: poder um dia estudar em uma escola. Porém, obrigado a trabalhar desde cedo, o garoto precisa deixar esse sonho de lado. Sem registro de seu nome, é quase como se ele não existisse perante o mundo, e a situação piora quando ele se vê sozinho pelas ruas. Em algumas sessões há relatos de aplausos calorosos no final da exibição, na minha houve choro, muito choro. Um choro de impotência, por estarmos vendo uma realidade que infelizmente está tão distante de mudar. A maior obra-prima do cinema em 2019.

domingo, 22 de dezembro de 2019

Crítica: Dois Papas (2019)


O novo trabalho do brasileiro Fernando Meirelles (de Cidade de Deus e Ensaio Sobre a Cegueira) mostra os encontros que ocorreram entre Joseph Ratzinger, o Papa Bento XXI, e o cardeal argentino Jorge Bergoglio, que posteriormente veio a se tornar o Papa Francisco, e o quanto isso foi decisivo para os rumos que a igreja católica tomou nesses últimos anos.



O filme começa com a morte do Papa João Paulo II, em 2005, e o conclave que escolheu Ratzinger (Anthony Hopkins) como o novo papa. O segundo mais votado foi Jorge Bergoglio (Jonathan Pryce), que por não concordar com as ideias conservadoras de Ratzinger resolve pedir sua aposentadoria do cargo de cardeal, aposentadoria essa que só pode ser aceita pelo próprio Papa. E para isso, ele precisa tentar convencê-lo a aceitar.

Interessante acompanhar como desde o início o filme traz um antagonismo entre as ideias que cada um tem para o futuro da igreja. Enquanto Ratzinger defende essa linha mais fiel aos desígnios que vem de séculos, Bergoglio defende uma igreja mais liberal, progressista e com mudanças no comportamento, e todo o desenrolar do enredo é baseado nesse debate. Além dos diálogos fantásticos travados entre os dois, o filme também mostra como foi o passado de Bergoglio na Argentina, principalmente na época em que era pároco durante o violento período da ditadura militar no país. 

Não dá para deixar de analisar a forma como ambos carregam um certo peso na consciência por atos do passado e vão se abrindo sobre isso pouco a pouco. Bergoglio se sente culpado por não ter feito mais para defender inocentes na ditadura, enquanto Ratzinger se culpa por ter deixado passar alguns casos de abuso de padres contra crianças.



Dois Papas é um filme poderoso por dois motivos: as atuações impecáveis de Hopkins e Pryce e a direção competente de Meirelles, que não deixa o filme perder o ritmo em momento algum. Aliás, duas das principais características de Meirelles estão bastante presentes, como os close nos personagens e a câmera dinâmica, que nos coloca como espectadores onipresentes em tudo que está acontecendo. Trata-se de uma grande surpresa de final de ano da Netflix, e é importantíssimo terminar dizendo que não, não é preciso ser religioso para apreciá-lo.


sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Crítica: Entre Facas e Segredos (2019)


O diretor Rian Johnson, que dividiu opiniões com Star Wars: O Último Jedi, voltou ao cinema tentando agradar um outro tipo de público, o ávido por suspense, de preferência naquele velho estilo dos livros da escritora Agatha Christie. Prometendo um jogo de adivinhações no melhor estilo "jogo de detetive", Entre Facas e Segredos (Knives Out) até prende o espectador, mas deixa um pouco a desejar na sua falta de ousadia.


A promessa do "jogo de adivinhações" pode até funcionar nos primeiros minutos da trama, mas se torna desinteressante muito rapidamente quando o diretor opta por trazer uma abordagem fora do convencional. Resumidamente, a história de baseia na investigação da morte de um milionário, no dia do seu aniversário de 85 anos. A família toda estava reunida, seus filhos, seus netos, e até mesmo sua mãe, de idade desconhecida, e logo, todos se tornam suspeitos. A polícia, no entanto, trata o caso primeiramente como suicídio.

Contando com a ajuda do detetive Benoit Blanc (Daniel Craig), no melhor estilo Hercule Poirot, a investigação vai seguindo pistas para encontrar a verdade por trás do acontecimento trágico. A previsibilidade do desfecho de filmes filmes de suspense é algo sempre subjetivo, eu mesmo confesso que muitos filmes que o pessoal falava ser previsível eu demorei para pescar o final, mas dessa vez estava fácil demais, óbvio demais, e isso me incomodou bastante.


O elenco cumpre bem com seu papel, com exceção de Daniel Craig, que segue não me convencendo como ator e entrega uma atuação no seu nível, sem nenhum carisma. Apesar dos bons atores envolvidos, achei que poucos personagens ganharam o espaço que mereciam, sendo a maioria deles pouco aproveitados e tornando-os até mesmo descartáveis no rumo da estória. Entre Facas e Segredos não chega a ser um filme todo ruim, já que possui seus bons momentos, mas falhou como o grande suspense que prometia ser.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Crítica: Um dia de Chuva em Nova Iorque (2019)


Conhecido pela particularidade de lançar um filme por ano, Woody Allen passou 2018 em branco, algo que não acontecia desde 1981. O motivo disso foram as novas denúncias de abuso envolvendo o nome do diretor, o que ocasionou uma série de dificuldades para lançar seu novo trabalho. Enfrentando resistência da distribuidora, do estúdio e até mesmo do próprio elenco, o filme quase foi cancelado de vez, mas finalmente saiu, já quase no final de 2019 (ufa!). Porém, vendo o resultado final na tela, não dá para dizer que valeu a pena toda a espera.



Um Dia de Chuva em Nova York (A Rainy Day in New York) soa como mais uma declaração de amor de Allen à cidade que mais serviu de cenário para suas histórias. O longa acompanha Gatsby (Timothée Chalamet), um jovem que planeja passar um final de semana romântico com a namorada Ashleigh (Elle Fanning) em Manhattan, depois que ela recebe a chance de entrevistar na cidade um dos diretores de cinema mais famosos da atualidade, Roland Pollard (Liev Schreiber). O que era para ser romântico, no entanto, vai por água abaixo quando Ashleigh se vê o dia inteiro ocupada com situações bem peculiares e Gatsby reencontra uma velha conhecida.

O ritmo do filme é atropelado e isso atrapalha bastante. A verdade é que muita coisa acontece em muito pouco tempo. Há uma cena onde isso fica evidente, quando Gatsby está caminhando na rua e poucos segundos depois já está participando da filmagem do filme de um amigo. Além disso, muitos personagens aleatórios também aparecem e logo somem, na maioria das vezes apenas para falar algo que não leva a lugar nenhum dentro do roteiro.



Outra coisa que incomoda muito é o fato dos personagens não serem nada inéditos na carreira do diretor. Parecem ser apenas uma repetição eterna de um esteriótipo já batido e ultrapassado. Woody Allen também demonstra falta de compreensão da juventude atual ao mostrar jovens de 20 anos, em plenos anos 2010, com uma verborragia irritante, cheios de referências dos anos 30 e uma completa ausência de tecnologias. Isso talvez funcione em personagens adultos, experientes, mas não em jovens com efervescência pulsante. 

O casal protagonista , diga-se de passagem, forma um dos casais mais sem química que eu já vi no cinema, apesar do esforço dos atores. Elle Fanning e Thimothéé Chalamet não parecem estar e sintonia em momento algum, em atuações bem fracas. Outro nome conhecido do elenco é o de Selena Gomez, que nas poucas vezes em que aparece bem cumpre bem o seu papel.



Por fim, Um dia de Chuva em Nova York poderia ser apenas mais um filme de Woody Allen, pois contêm todas as características do seu cinema, mas todos os elementos comentados acima fizeram desse um dos seus piores trabalhos.


terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Crítica: História de um Casamento (2019)


Sete anos depois do sucesso de Frances Ha, Noah Baumbach volta a trazer uma proposta de explorar o que há de mais íntimo em seus personagens, conseguindo mais uma vez nos aproximar de cada um deles de uma forma extremamente humana. História de um Casamento (Marriage Story), produzido pela Netflix, utiliza como pano de fundo um divórcio para versar sobre o amor, e apesar disto soar um pouco estranho, o resultado final ficou realmente impressionante.



O enredo conta a história de Charlie (Adam Driver) e Nicole (Scarlett Johansson), um diretor de teatro e uma atriz, respectivamente, que estão iniciando o processo de divórcio e disputam, além de bens materiais, a guarda do filho pequeno. Na primeira cena do filme, os dois aparecem escrevendo uma carta onde descrevem as qualidades que mais gostam um no outro. Esse argumento serve para criarmos uma certa empatia pelo casal, e até mesmo para torcermos que eles fiquem bem e juntos, antes que comecem a vir a tona os motivos reais da separação. É também o único momento do filme onde são mostrados flashbacks desta relação, a partir de então o enredo se torna linear e vamos apenas acompanhando o decorrer dessa separação com a maior naturalidade.

Ainda sobre a cena das cartas, achei uma artimanha muito interessante do diretor para mostrar como que, mesmo num fim, é importante perceber o que teve de belo. "Vou amá-lo para sempre, mesmo que não faça mais sentido" diz Nicole. É a prova máxima que uma separação não significa necessariamente o fim de um sentimento, mas uma transformação. É engraçado perceber também como as qualidades descritas nas cartas, de ambos os personagens, vão sendo dissecadas cena após cena, de modo bem sutil, mostrando apenas o cotidiano de cada um.



Noah também nos mostra como as coisas podem fugir do controle mesmo que não seja a intenção de ambas as partes. Eles só queriam fazer o processo, que já é doloroso por si só, ser menos insuportável, mas a entrada dos advogados na história vai tornando isso cada vez mais difícil. Aliás, muito boas as participações de Ray Liotta e Laura Dern, nos papéis dos advogados, possivelmente indicados em categorias coadjuvantes nas premiações.

O diretor evita o uso de cortes nas cenas, dando à elas um realismo muito maior, e isso é também um grande mérito dos atores envolvidos. Scarlett Johansson e Adam Driver possivelmente tem aqui as melhores atuações de suas carreiras até o momento. Há uma cena em específico em que é possível ver os personagens em seus limites, botando para fora toda a angústia que seguravam dentro de si por muito tempo, e só por ela já valeria vê-los indicados aos Óscar do ano que vem.


História de Casamento é um filme feito nos detalhes, cheio de nuances, e bastante minimalista nos trejeitos e atitudes dos seus personagens. Uma abordagem diferente do amor e do respeito entre dois seres humanos, com seus defeitos e qualidades, que viram a parceria existente entre eles se esvaindo pelos dedos com o passar do tempo.

Os indicados ao Globo de Ouro 2020

Foram anunciados nesta segunda-feira (09) todos os indicados ao Globo de Ouro 2020, que ocorrerá no dia 05 de janeiro do ano que vem. História de Um Casamento, de Noah Baumbach, foi o filme com maior presença em categorias, 6 no total, seguido de O Irlandês e Era Uma Vez em... Hollywood, cada um com 5. Confira a lista abaixo com todas as categorias na parte de cinema:

Cena de História de um Casamento, campeão de indicações.

Melhor Filme de Drama
- 1917
- Coringa
- Dois Papas
- História de um Casamento
- O Irlandês

Melhor Filme de Comédia/Musical
- Meu Nome é Dolomite
- Entre Facas e Segredos
- Era Uma Vez em... Hollywood
- Jojo Rabbit
- Rocketman

Melhor Diretor
- Bong Joon-Ho, por Parasita
- Martin Scorsese, por O Irlandês
- Quentin Tarantino, por Era Uma Vez em... Hollywood
- Sam Mendes, por 1917
- Todd Philips, por Coringa

Melhor Ator em Filme de Drama
- Adam Driver, por História de um Casamento
- Antonio Banderas, por Dor e Glória
- Christian Bale, por Ford vs. Ferrari
- Joaquin Phoenix, por Coringa
- Jonathan Pryce, por Dois Papas

Melhor Ator em Filme de Comédia/Musical
- Daniel Craig, por Entre Facas e Segredos
- Eddie Murphy, por Meu Nome é Dolomite
- Leonardo DiCaprio, por Era Uma Vez em... Hollywood
- Roman Griffin Davis, por Jojo Rabbit
- Taron Egerton, por Rocketman

Melhor Atriz em Filme de Drama
- Charlize Theron, por O Escândalo
- Cynthia Erivo, por Harriet
- Renée Zellweger, por Judy
- Scarlett Johansson, por História de um Casamento
- Saoirse Ronan, por Adoráveis Mulheres

Melhor Atriz em Filme de Comédia/Musical
- Ana de Armas, por Entre Facas e Segredos
- Awkwafina, por The Farewell
- Beanie Feldstein, por Fora de Série
- Cate Blanchet, por Cadê Você, Bernadette?
- Emma Thompson, por Late Night

Melhor Ator Coadjuvante
- Al Pacino, por O Irlandês
- Anthony Hopkins, por Dois Papas
- Brad Pitt, por Era Uma Vez em... Hollywood
- Joe Pesci, por O Irlandês
- Tom Hanks, por Um Lindo Dia na Vizinhança

Melhor Atriz Coadjuvante
- Annette Bening, por O Relatório
- Jennifer Lopez, por As Golpistas
- Kathy Bates, por Richard Jewell
- Laura Dern, por História de um Casamento
- Margot Robbie, por O Escândalo

Melhor Roteiro
- Dois Papas
- Era Uma Vez em... Hollywood
- História de um Casamento
- O Irlandês
- Parasita

Melhor Filme Estrangeiro
- Dor e Glória (Espanha)
- Os Miseráveis (França)
- Parasita (Coreia do Sul)
- Retrato de uma Jovem em Chamas (França)
- The Farewell (China)

Melhor Filme de Animação
- Como Treinar seu Dragão 3
- Frozen 2
- Link Perdido
- O Rei Leão
- Toy Story 4

Melhor Trilha Sonora Original
- 1917
- Adoráveis Mulheres
- Brooklyn - Sem Pai Nem Mãe
- Coringa
- História de um Casamento

Melhor Canção Original
- Beautiful Ghosts, de Cats
- I'm Gonna Love me Again, de Rocketman
- Into the Unknown, de Frozen 2
- Spirit, de O Rei Leão
- Stand Up, de Harriet