terça-feira, 7 de julho de 2020

Crítica: Os Olhos de Cabul (2020)


É sempre revoltante ver ou ler qualquer coisa a respeito do período em que o grupo fundamentalista Talibã comandou o Afeganistão, principalmente no que se refere aos direitos humanos e aos direitos das mulheres. Nos últimos anos tivemos bons exemplos que trataram o assunto no cinema, como A Pedra da Paciência, Às Cinco da Tarde, Osama e a animação A Ganha-Pão, e Os Olhos de Cabul (Les Hirondelles de Kaboul), também em formato de animação, chega para complementar esta valiosa lista.


Dirigido por duas diretoras mulheres, Eléa Gobbé-Mévellec e Isabelle Breitman, o filme acompanha dois casais que tentam viver suas rotinas durante os anos mais radicais do regime na capital do país. Mohsen e Zunaira tentam a todo custo acreditar num futuro melhor, mas as ações que presenciam vai os deixando cada dia mais desesperançosos. As coisas pioram quando, após um acidente, Zunaira vai parar na prisão.

Do outro lado, o filme acompanha Atik, um homem de bom coração que trabalha como agente nesta mesma prisão, e tem uma esposa, Musarrat, bastante doente em casa. A vida dessas quatro pessoas acabam se entrelaçando de uma maneira bem original e intensa do meio para o final, quando Zunaira é condenada injustamente pelo regime ao enforcamento em praça pública.


Tecnicamente é uma animação muito bonita, com desenhos muito bem trabalhados. Em alguns momentos do filme são feitas transições entre momentos do passado e momentos do presente, que mostram bem como esse regime fundamentalista mudou drasticamente a vida no país, que era alegre e cheio de vida e ficou completamente desolado, em todos os sentidos. O foco, sobretudo, é mostrar como as mulheres são vistas e tratadas em regimes como esse, sem direito algum, nem mesmo de poder mostrar o próprio rosto. Uma realidade triste, que infelizmente ainda é atual em alguns países regidos por leis arcaicas.