sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

Crítica: Touch (2024)


O reencontro com o passado é algo inevitável à certa altura da vida, e é um tema que volta e meia se torna recorrente no cinema, principalmente com personagens que estão vendo a finitude da vida se aproximar e querem consertar ou reaver algo que julgam ter ficado incompleto. Mais recentemente, um ótimo exemplo disto é o japonês Vidas Passadas (Past Lives), para mim um dos grandes filmes de 2024. Em Touch, filme escolhido para representar a Islândia no Oscar de 2024, temos a temática sob a figura de um senhor islandês que viaja para Londres 51 anos depois de ter deixado a capital inglesa para tentar reencontrar uma velha paixão.


Estamos no início da pandemia de Covid-19, e Kristófer (Egill Oláfsson) vive uma vida pacata em sua cidade da Islândia. Após ser diagnosticado com uma doença cujo tempo de vida restante não se sabe ao certo, ele decide pegar um avião até Londres, sem avisar a noiva e a filha, para tentar reencontrar Miko (Yôko Narahashi), uma japonesa que foi o grande amor da sua vida quando ele ainda era um jovem sonhador cheio de planos em uma Londres efervescente dos anos 1970.

Miko (Kôki na sua versão jovem) era filha de Takahashi-San (Masahiro Motoki), dono de um restaurante japonês no meio de Londres, onde Kristófer (Palmi Kormákur é quem interpreta sua versão jovem) passou a trabalhar como limpador de pratos após largar os estudos por questões ideológicas. Apesar de aparentemente estar em um meio que não combinava em nada com ele, Kristófer logo se apegou ao trabalho e ao local, se empenhando em conhecer não só o idioma japonês mas como toda a cultura do país.


O roteiro vai construindo um panorama da relação amorosa que se criou entre Kristófer e Miko, focando sobretudo no choque de culturas que havia entre os dois. Entre uma conversa e outra, ele descobre que a família de Miko se mudou para a Inglaterra fugindo de Hiroshima, cidade que foi completamente destruída pela bomba atômica em 1945, e que as consequências disso continuaram por muitos anos no seio familiar. Ao mesmo tempo, a outra linha do tempo mostra a a procura dele por Miko cinco décadas depois, e os desencontros pelo caminho.

É um filme que fala, acima de tudo, no quanto a vida toma rumos diferentes daquilo que pensamos, muitas vezes apenas por conta de uma única decisão. Touch fala sobre muitas questões relevantes, e tem uma montegem muito dinâmica, que faz com que as idas e vindas no tempo não se tornem cansativas e muito menos repetitivas.

quarta-feira, 25 de dezembro de 2024

Crítica: Jurado Nº 2 (2024)


Entre polêmicas envolvendo a sua distribuição mundial, já que a Warner inexplicavelmente preferiu lança-lo apenas no streaming, Jurado Nº 2 (Juror #2) finalmente chegou no Brasil através do catálogo da Max. O filme, que possivelmente será o último da carreira de Clint Eastwood, no alto dos seus 94 anos, pode ser considerada uma despedida de gala de um diretor que marcou o seu nome no cinema como um dos grandes gênios desta arte.


O filme nos apresenta um conflito interessante entre o certo e o errado, o justo e o injusto, ao nos apresentar Justin (Nicholas Hoult), um homem casado e com a esposa grávida que é convocado para ser jurado no tribunal da Geórgia em um caso de homicídio. O réu é James (Gabriel Basso), acusado de jogar a namorada de uma ponte após uma briga dos dois em um bar.

Todos os indícios apontam que James é o verdadeiro culpado da morte, porém, durante o julgamento, Justin se dá conta de uma informação sobre o crime que somente ele tem e que mudaria tudo. No entanto, esta informação comprometeria para sempre toda a sua vida e a da sua família. É quando entra o conflito moral que Eastwood trabalha com maestria até o final do filme.

O roteiro faz alusão ao clássico 12 Homens e uma Sentença, de Sidney Lumet, ao começar apresentando 11 jurados convictos de uma decisão desfavorável ao réu, enquanto apenas um deles (Justin) tenta convencê-los do contrário, neste caso sem obviamente falar o que sabe por trás do caso. E é brilhante a forma como o filme nos conduz por esta dualidade, em um estudo de personagem bastante interessante e intrigante.


Por mais que alguns achem que o subgênero "filme de tribunal" já esteja datado e sem ideias novas, só nos últimos dois anos tivemos excelentes exemplos que mostram o contrário, como o queridinho do último Óscar Anatomia de uma Queda, e Jurado Nº 2 já entra fácil na lista de filmes imperdíveis sobre o tema.