De uma maneira geral, posso dizer que não me considero um fã do cinema de M. Night Shyamalan, apesar de simpatizar com uma obra ou outra do diretor. Mas é curioso como todo e qualquer lançamento dele me desperta muita curiosidade, pois independente do resultado final, é inegável que ele sabe como poucos segurar a atenção do espectador, e suas obras parecem sempre ter algo interessante a dizer, nem que seja nas entrelinhas. E com Armadilha (Trap), não foi diferente.
A trama acompanha Cooper (Josh Hartnett), um pai aparentemente afetuoso, que está realizando o grande sonho da filha adolescente, Riley (Ariel Donoghue), de ver o show da sua cantora favorita Lady Raven (interpretada pela filha do diretor, Saleska Shyamalan). Toda a construção do cenário do show, desde a chegada dos fãs ao estádio até a histeria das jovens com o início da apresentação, é muito bem trabalhado em tela, e cria uma imersão bem realista. Logo, começam a surgir os primeiros sinais de que algo estranho está acontecendo nos bastidores, com uma movimentação suspeita de policiais, e o único que consegue perceber e se incomodar com isso é o próprio Cooper.
Ao conversar com um funcionário do show, Cooper descobre que todas as saídas do estádio estão cercadas por policiais fortemente armados, pois o show não passava de uma armadilha para pegar um serial killer que está amedrontando a cidade, conhecido como "O Açougueiro". Em teoria, nenhum homem poderá sair sem ser devidamente identificado, pois a polícia tem a certeza de que o assassino está no local. Shyamalan nos entrega quem é o assassino logo no começo sem fazer grandes mistérios, e eu confesso que gostei muito dessa escolha narrativa, pois fica claro que a ideia do filme não era deixar o espectador buscar respostas, mas sim, criar um certo conflito moral em cada um de nós. A partir de então, nós vemos esse assassino correndo contra o tempo para tentar escapar da emboscada.
Com várias reviravoltas no roteiro, o thriller apresenta um tom cômico que eu sinceramente não esperava ver em um filme de Shyamalan, e eu achei isso bem positivo no resultado final. Evidentemente, você precisa comprar a ideia para engolir certas facilitações que deixam um filme de premissa realista um tanto quanto fantasioso em certos momentos, e é justamente neste ponto que o filme se torna bastante divisivo entre o público. É, definitivamente, um filme que não se leva tão a sério, ou pelo menos tenta passar essa ideia descompromissada, e nisso o papel de Josh Hartnett cai como uma luva. Sua atuação é bem caricata, não dá para negar, mas é uma caricatura que, neste contexto, encaixa bem com a proposta. Gostei também da jovem Ariel Donoghue, e das cenas musicais da Saleska, que deixa claro que uma das intenções de Shyamalan no filme era, também, mostrar todo o talento que a filha tem como cantora (como atriz, isso já é bem discutível). Por fim, pode até não ser o melhor filme de Shyamalan, mas certamente é o mais divertido de toda sua carreira, e também o que mais gostei de assistir desde A Vila (2004).
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