segunda-feira, 6 de junho de 2016

Crítica: Fique Comigo (2016)


O cinema já abordou a solidão de diversas formas, geralmente sob um ângulo dramático, mas Fique Comigo (Asphalte), do diretor francês Samuel Benchetrit, quebra esse paradigma e tenta nos trazer uma série de reflexões sobre o tema utilizando o humor. E não é que deu super certo?


O roteiro se passa em um prédio residencial da periferia de Paris, e acompanha três estórias bizarras envolvendo seus moradores. O primeiro deles é Sterkowitz (Gustave de Kervern), que por morar no primeiro andar se nega a ajudar financeiramente na manutenção do elevador e é proibido pelos outros moradores de utilizá-lo. O destino cobra caro e um acidente doméstico o deixa de cadeira de rodas, obrigando-o a utilizar o equipamento escondido durante a noite, única hora que ele pode sair sem ser visto.

Numa das suas andanças pela noite ele conhece uma enfermeira (Valeria Bruni Tedeschi), que está de plantão todas as noites e se sente só na imensidão de um hospital vazio. Para agradá-la, Sterkowitz finge ser um importante fotógrafo de uma revista geográfica, e com o passar dos dias vai surgindo uma estranha e mútua relação entre os dois.


A segunda estória gira em torno de Jeanne Meyer (Isabelle Huppert), uma veterana atriz que vive em decadência e acaba fazendo amizade com o vizinho adolescente, Charly (Jules Benchetrit), que parece ter sido abandonado pelos pais e mora sozinho. A troca de experiências gera um conflito de gerações, e faz com que pouco a pouco cada um vá ganhando uma nova dimensão sobre sua própria vida e mudando a visão que tinha a respeito dela. 

Por fim, a estória mais "excêntrica" (e também a mais comovente) é sobre a doce imigrante argelina Madame Hamida (Tassadit Mandi), que vive sozinha em seu pequeno apartamento depois da prisão do único filho. Quando um astronauta americano da NASA pousa por engano no sótão do prédio, ele é acolhido por Hamida, que o trata como um filho, e nem mesmo a barreira de idiomas é capaz de impedir essa relação.



O humor do filme é genial, e é justamente aí que está o seu diferencial. O diretor não utiliza de piadas e esquetes para nos fazer rir, pois as próprias situações já nos fazem rir sem esforço. Apesar de tudo, o filme tem um clima melancólico por trás de cada cena, que cria uma atmosfera bem interessante. A respeito do elenco, pode-se dizer que é mais um dos pontos fortes do filme, com destaque para a sempre excelente Isabelle Huppert, para a carismática Tassadit Mandi e para o americano Michael Pitt. 

Por fim, essa necessidade do ser-humano de ter alguém para compartilhar seu dia-dia é o que auxilia para criar o vínculo improvável entre os personagens. Fique Comigo é um grande achado advindo do cinema francês, e já entra para a lista dos filmes mais bacanas do ano.

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