Mais um ano chega ao fim e, como já é de praxe, é hora de fazer aquele compilado do que de melhor aconteceu nesses 365 dias para o cinema. Este ano ficou marcado pela estreia de grandes filmes, alguns conhecidos do público em geral e outros nem tanto, e pelo retorno de diretores consagrados, além do surgimento de outros tantos novos que mostraram que o futuro ainda tem muito a oferecer. Sem mais delongas, vamos à lista dos 25 melhores filmes lançados no Brasil em 2016. Confira:
Um
gênero que andava esquecido e que vem conquistando novamente seu espaço é
o faroeste. Nos últimos anos, os "westerns" vem ressurgindo das cinzas, e
Rastros de Maldade (Bone Tomahawk) pega carona nesse embalo
trazendo uma mistura de humor e muito sangue. O enredo se passa em uma
cidade pacata do interior americano e conta a história de quatro homens
que precisam resgatar uma prisioneira capturada por uma tribo de
canibais. Sem medo de ousar, o diretor usa e abusa do realismo nas cenas
de violência, que junto com a fotografia exuberante e um elenco de
primeira, fazem o filme ser um dos mais marcantes do ano mesmo para
quem não gosta de "histórias de bang-bang".
O cinema já abordou a solidão de diversas formas, geralmente sob um ângulo dramático, mas Fique Comigo (Asphalte) quebra esse paradigma e tenta nos trazer uma série de reflexões sobre o tema utilizando um lado cômico. E não é que deu super certo? O humor do filme é genial, e é justamente aí que está o seu diferencial. O diretor não utiliza de piadas e esquetes para nos fazer rir, pois as próprias situações já nos fazem rir sem esforço algum. Apesar de tudo, o filme tem um clima melancólico por trás de cada cena, o que cria uma atmosfera bem interessante. Essa necessidade do ser-humano de ter alguém para compartilhar seu dia-dia é o que auxilia para criar o vínculo improvável entre os personagens de três histórias distintas que acontecem nos subúrbios de Paris.
O enredo de Decisão de Risco (Eye in the Sky) acompanha uma delicada operação militar do exército americano no Quênia para capturar dois britânicos e um americano que integram um grupo terrorista local. Quando a cúpula está reunida e o ataque está pronto para acontecer, uma vida inocente acaba sendo posta em risco, e a partir de então tem início uma longa discussão a respeito do que fazer. Pessoas do mundo todo são envolvidas e uma simples decisão acaba se tornando um martírio. Com um roteiro empolgante, que não deixa o espectador desgrudar um só segundo os olhos da tela, o filme foge do clichê e se mostra bastante corajoso, principalmente por criticar o jeito com que os países desenvolvidos lidam com os problemas dos países de terceiro mundo.
25º A Viagem de Meu Pai, de Philippe Le Guay (França)
Misturando drama e comédia de forma primorosa, A Viagem de Meu Pai (Floride) aborda dois assuntos bastante delicados: a chegada da velhice e o Mal de Alzheimer. A história gira em torno de Claude (Jean Rochefort), um octogenário que está perdendo cada vez mais a noção da realidade que o cerca. As coisas complicam ainda mais quando ele decide viajar para a Flórida para rever uma filha que não vê há mais de 10 anos. O tom de humor do começo vai pouco a pouco dando lugar a um clima melancólico, e o diretor acerta em cheio ao conseguir um equilíbrio perfeito entre os dois sem em nenhum momento apelar para o sentimentalismo barato. No fim, fica a mensagem de que devemos aproveitar a companhia das pessoas enquanto elas estão conosco, pois a passagem inexorável do tempo é irrecuperável.
24º Rastros de Maldade, de S. Craig Zahler (Estados Unidos)
23º Uma História de Loucura, de Robert Guédiguian (França)
O genocídio do povo armênio, orquestrado pelo governo turco no começo do século 20, foi um dos mais terríveis da história da humanidade e até hoje traz sequelas enormes para o povo daquela região. Uma História de Loucura (Une Histoire de Foi) tem a missão de não deixar esse passado ser esquecido, por mais devastador que ele tenha sido, e principalmente de mostrá-lo ao mundo. O enredo acompanha Aram, um jovem de origem armênia que vive com a família em Marselha nos anos 1980 e participa de um grupo de guerrilheiros que praticam atentados contra prédios e pessoas públicas da Turquia. Quando acaba atingindo um inocente em um dos ataques, ele passa a se perguntar a respeito dos seus atos, e o grande mérito do diretor é utilizar essa situação para nos fazer refletir sobre o ser-humano e o seu eterno desejo de revidar violência com mais violência.
22º Quando o Dia Chegar, de Jasper W. Nielsen (Dinamarca)
Baseado em histórias reais ocorridas em orfanatos da Dinamarca nos anos 1960, Quando o Dia Chegar (Der Kommer en Dag) traz uma exposição nauseante da situação
de uma dessas instituições, onde um diretor tirano e seus funcionários
usavam e abusavam do poder contra os menores. A trama acompanha dois
irmãos,
de 10 e 13 anos, que viviam com a mãe em Copenhagen, mas que depois da
doença da
mesma, acabam sendo transferidos para o orfanato Gudbjerg. Comandado
por Frederik (Lars Mikkelsen), o lar tem suas próprias regras e
princípios de disciplinação, constituídos de violentos castigos e
humilhações, e não demora para os dois irmãos vivenciarem uma realidade
pela qual não estavam preparados. Com atuações poderosas dos atores
mirins, o filme é bastante pesado, mas não deixa de ter uma
sensibilidade ímpar em boa parte de suas cenas.
O cinema já abordou a solidão de diversas formas, geralmente sob um ângulo dramático, mas Fique Comigo (Asphalte) quebra esse paradigma e tenta nos trazer uma série de reflexões sobre o tema utilizando um lado cômico. E não é que deu super certo? O humor do filme é genial, e é justamente aí que está o seu diferencial. O diretor não utiliza de piadas e esquetes para nos fazer rir, pois as próprias situações já nos fazem rir sem esforço algum. Apesar de tudo, o filme tem um clima melancólico por trás de cada cena, o que cria uma atmosfera bem interessante. Essa necessidade do ser-humano de ter alguém para compartilhar seu dia-dia é o que auxilia para criar o vínculo improvável entre os personagens de três histórias distintas que acontecem nos subúrbios de Paris.
O enredo de Decisão de Risco (Eye in the Sky) acompanha uma delicada operação militar do exército americano no Quênia para capturar dois britânicos e um americano que integram um grupo terrorista local. Quando a cúpula está reunida e o ataque está pronto para acontecer, uma vida inocente acaba sendo posta em risco, e a partir de então tem início uma longa discussão a respeito do que fazer. Pessoas do mundo todo são envolvidas e uma simples decisão acaba se tornando um martírio. Com um roteiro empolgante, que não deixa o espectador desgrudar um só segundo os olhos da tela, o filme foge do clichê e se mostra bastante corajoso, principalmente por criticar o jeito com que os países desenvolvidos lidam com os problemas dos países de terceiro mundo.
Dalton
Trumbo (1905 - 1976) foi um grande roteirista e romancista americano
que, para o governo do Estados Unidos, tinha apenas um defeito: ser
comunista. O filme do diretor Jay Roach conta um pouco mais da história desse excêntrico
personagem, abordando principalmente o período em que ele foi
perseguido, preso, e proibido de seguir trabalhando por conta de sua
visão política. O
roteiro do filme é interessantíssimo, não somente pela figura de Trumbo,
mas também por mostrar como era essa perseguição implacável que existiu
contra comunistas naquela época, incentivada pela população e pelos
políticos que os tratavam como verdadeiros criminosos.
Na década de 1920, o artista Einar Wegener (ou Lili Elbe, como ficou conhecido posteriormente) se tornou a primeira pessoa da história a passar pelo procedimento de mudança de sexo. Baseado no livro de David Ebershoff, A Garota Dinamarquesa (The Danish Girl) conta um pouco mais sobre a vida de Einar, focando principalmente em sua relação com a esposa e no quanto cada um deles teve de abrir mão após sua decisão. O enredo é muito bem construído, e é de uma sensibilidade emocionante. A parte técnica é elogiável, desde sua bela fotografia até a poética trilha sonora, composta por Alexandre Desplat (conhecido por seu trabalho na saga Harry Potter e no mais recente O Grande Hotel Budapeste).
Algumas pessoas parecem vir à terra com um propósito e uma missão. Não que eu acredite realmente nisso, mas basta ler histórias como a da médica psiquiatra Nise da Silveira para refletir sobre isso. Ela não só revolucionou o tratamento psiquiátrico no Brasil como ajudou a dar sentido para a vida de muitos pacientes tidos como crônicos. Em 1944, Nise (Glória Pires) foi trabalhar no Centro Psiquiátrico de Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro. Logo de cara, a doutora se viu chocada com a maneira com que eram tratados os pacientes do local, principalmente com o uso da lobotomia, prática que começou a ganhar espaço nos manicômios do país, e decidida a mudar a realidade do lugar, Nise começou a estimular a arte nos pacientes. Os doentes, tidos como irrecuperáveis, pouco a pouco foram demonstrando avanços consideráveis em seus tratamentos, mostrando que o que lhes faltava na verdade era apenas um pouco mais de atenção e compreensão.
Na década de 1920, o artista Einar Wegener (ou Lili Elbe, como ficou conhecido posteriormente) se tornou a primeira pessoa da história a passar pelo procedimento de mudança de sexo. Baseado no livro de David Ebershoff, A Garota Dinamarquesa (The Danish Girl) conta um pouco mais sobre a vida de Einar, focando principalmente em sua relação com a esposa e no quanto cada um deles teve de abrir mão após sua decisão. O enredo é muito bem construído, e é de uma sensibilidade emocionante. A parte técnica é elogiável, desde sua bela fotografia até a poética trilha sonora, composta por Alexandre Desplat (conhecido por seu trabalho na saga Harry Potter e no mais recente O Grande Hotel Budapeste).
Sou um grande fã do mexicano Alejandro Gonzalez Iñárritu desde seu primeiro longa, o aclamado e polêmico Amores Brutos, mas apesar de obras sensacionais em seu currículo, nenhuma tinha sido tão ousada como O Regresso (The Revenant). O filme que deu o Óscar de melhor ator para Leonardo DiCaprio conta a história do explorador e comerciante de peles Hugh Glass, que no século XIX liderava um grupo de homens pelas gélidas florestas do oeste americano. Durante uma jornada, Glass é atacado por um urso e abandonado pelos colegas, que dão ele como morto. Ele no entanto sobrevive ao ataque e busca vingança por aqueles que juraram lealdade e lhe deixaram para trás. O que mais encanta no filme é sem dúvida sua fotografia, num trabalho deslumbrante de Iñárritu em conjunto com o veterano Emannuel Lubezki.
Algumas pessoas parecem vir à terra com um propósito e uma missão. Não que eu acredite realmente nisso, mas basta ler histórias como a da médica psiquiatra Nise da Silveira para refletir sobre isso. Ela não só revolucionou o tratamento psiquiátrico no Brasil como ajudou a dar sentido para a vida de muitos pacientes tidos como crônicos. Em 1944, Nise (Glória Pires) foi trabalhar no Centro Psiquiátrico de Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro. Logo de cara, a doutora se viu chocada com a maneira com que eram tratados os pacientes do local, principalmente com o uso da lobotomia, prática que começou a ganhar espaço nos manicômios do país, e decidida a mudar a realidade do lugar, Nise começou a estimular a arte nos pacientes. Os doentes, tidos como irrecuperáveis, pouco a pouco foram demonstrando avanços consideráveis em seus tratamentos, mostrando que o que lhes faltava na verdade era apenas um pouco mais de atenção e compreensão.
No princípio da década de 40, em meio à Segunda Guerra Mundial, mais de 40 mil pessoas foram deportadas da Estônia, da Letônia e da Lituânia em direção à Sibéria durante o regime Stalinista. Com uma narrativa diferenciada e um enredo bastante
poético, o diretor estreante Marrti Helde nos conta um pouco mais dessa história sob a narrativa de Erna, uma mulher que foi obrigada a ir para campos de trabalhos forçados junto com os dois filhos. Através de cartas, ela se corresponde com o marido, que está preso em outro local, também comandado pelo regime soviético.
Diplomacia (Diplomatie) se passa em 1944 e mostra o encontro entre o general alemão Dietrich von Choltitz (Andre Dussolier) e o cônsul sueco Pierre Taittinger (Niels Arestrup), em um hotel de Paris. Enquanto o primeiro recebeu a missão direta de Hitler de destruir a capital francesa, usando todos os artefatos explosivos que tivesse a disposição em pontos turísticos como a Torre Eiffel e o Museu do Louvre, o segundo tenta usar todo seu poder de persuasão para convencê-lo a não seguir em frente com o plano. Passado quase integralmente em um único cenário, o filme tem nos diálogos o seu ponto forte, e mostra como, por muito pouco, uma das cidades mais bonitas do mundo não perdeu quase toda sua história por vontade de um maluco.
Entre o
final do século 19 e o início do século 20, a burguesia europeia tinha
maneiras bastante peculiares e perversas de entretenimento. Numa época
em que o homem negro era visto como a escória
da civilização, homens brancos os usavam como diversão, sempre os
humilhando em espetáculos vexatórios e muitas vezes desumanos. É
neste cenário que viveu Rafael Padilla (Omar Sy), um filho de escravos
que desde pequeno, quando conheceu o circo, se apaixonou pelos
picadeiros. O filme conta sua trajetória desde o anonimato até o estrelato, onde ao lado do companheiro de palco George Footit (James Thiérrée) se tornou um grande sucesso, sem porém jamais deixar de sofrer com o preconceito.
Dedicado às mulheres, o novo filme do espanhol Julio Medel emociona ao tocar num assunto delicado para elas: o câncer de mama. Forte, pesado, mas extremamente belo em sua essência, Ma Ma (Ma Ma) não é um filme fácil de se assistir, principalmente para quem conhece alguém que já sofreu com a doença, que atinge cerca de 2 milhões de mulheres por ano só no Brasil. Após ser diagnosticada com a doença, Magda (Penélope Cruz) tenta encontrar forças para viver na relação carinhosa que mantém com o filho pequeno até que conhece Arturo (Luis Tosar), um homem que também está passando por uma situação difícil após perder a esposa e a filha em um acidente. Logo vai surgindo uma bonita relação entre os dois, e pouco a pouco Arturo se torna não somente um companheiro para Magda, mas também um pai para o filho dela. O principal acerto do filme é justamente mostrar essa relação sem apelação, de forma natural e sensível. Duas pessoas que se encontram em momentos delicados de suas vidas e ajudam-se mutuamente a enfrentar os obstáculos.
Sou grande fã de Tarantino, quem me conhece sabe, e esperei muito pelo lançamento de Os Oito Odiados (The Hateful Eight), seu oitavo filme da carreira. Trabalhando novamente com grandes atores, incluindo Samuel L Jackson, Tim Roth e Kurt Russell, Tarantino novamente flertou com o faroeste, e demonstrou mais uma vez sua enorme competência no gênero. Com pouca ação mas cheio de reviravoltas e diálogos espirituosos, o filme se passa no inverno rigoroso dos Estados Unidos e acompanha um grupo de homens que se encontra em uma cabana, cada um com suas particularidades em um clima pós-guerra civil.
Após um golpe de estado, o ditador de um país fictício tenta fugir com seu neto mas a fuga não dá certo. A única maneira de continuar vivo é andar disfarçado pelas ruas, e começa então a se passar por um músico miserável. Aos poucos, ele vai se deparando com uma realidade extremamente desumana, que ele mesmo ajudou a criar enquanto estava no poder. O diretor ainda nos faz refletir o fato de os rebeldes, que estavam do outro lado, assumirem o poder e cometerem as mesmas barbáries que antes repudiavam. Um retrato político e social de como funciona a humanidade.
Diplomacia (Diplomatie) se passa em 1944 e mostra o encontro entre o general alemão Dietrich von Choltitz (Andre Dussolier) e o cônsul sueco Pierre Taittinger (Niels Arestrup), em um hotel de Paris. Enquanto o primeiro recebeu a missão direta de Hitler de destruir a capital francesa, usando todos os artefatos explosivos que tivesse a disposição em pontos turísticos como a Torre Eiffel e o Museu do Louvre, o segundo tenta usar todo seu poder de persuasão para convencê-lo a não seguir em frente com o plano. Passado quase integralmente em um único cenário, o filme tem nos diálogos o seu ponto forte, e mostra como, por muito pouco, uma das cidades mais bonitas do mundo não perdeu quase toda sua história por vontade de um maluco.
Grande destaque brasileiro na última edição do Festival de Cannes, Aquarius é uma obra intensa que, acima de tudo, evoca no espectador o sentimento de empatia por seus personagens através de excelentes diálogos e grandes atuações. O enredo acompanha Clara (Sônia Braga), uma jornalista e crítica de música que vive sozinha em seu apartamento no edifício Aquarius, na praia da Boa Viagem em Recife. Viúva há 17 anos e curada de um câncer de mama, Clara é a única moradora que ainda vive no prédio, que foi comprado por uma construtora para ser demolido. Ela se nega a sair do local mesmo com a pressão da empreiteira, e quem representa a empresa nessa disputa é Daniel (Humberto Carrão), um jovem que por trás da simpatia fingida traz toda uma arrogância de quem tem dinheiro e acha que pode comprar qualquer um com ele.
No mundo tecnológico em que vivemos, a privacidade é cada vez mais difícil de ser resguardada. O telefone celular, por exemplo, virou uma espécie de caixa preta das nossas vidas, onde temos cada ato registrado nele e, muitas vezes, guardamos nossos segredos mais secretos. Se fôssemos obrigados a compartilhar com os outros absolutamente tudo que fazemos, será que as relações continuariam as mesmas? É exatamente sobre isso que fala Perfeitos Desconhecidos (Perfetti Sconosciuti). Na trama, um grupo de amigos decide se reunir para uma janta especial, e no meio da noite Eva (Kasia Smutniak) sugere uma brincadeira: que durante aquela noite todas as mensagens que os amigos recebessem seriam lidas em voz altas e as ligações feitas no viva-voz. Não demorou muito, é claro, para que as máscaras começassem a cair. A cada ligação atendida e mensagem lida em voz alta, um segredo ia caindo por terra. O enredo é primoroso, e traz uma ótima reflexão a respeito da sociedade em que vivemos.
Animais Noturnos, do diretor Tom Ford, estreou no Brasil na última semana do ano e encerrou 2016 com chave de ouro. O enredo, tido por alguns críticos americanos como um dos melhores dos últimos anos, acompanha Susan (Amy Adams), uma mulher rica e bem sucedida no trabalho que aparentemente tem tudo na vida, mas sofre com a falta de amor no casamento. Certo dia ela é surpreendida pelo ex-marido, o escritor Edward (Jake Gyllenhaal), que a envia o manuscrito de seu próximo livro, dedicado à ela, e na medida em que vai lendo a história, lembranças do passado começam a voltar e mexer com sua cabeça.
No mundo tecnológico em que vivemos, a privacidade é cada vez mais difícil de ser resguardada. O telefone celular, por exemplo, virou uma espécie de caixa preta das nossas vidas, onde temos cada ato registrado nele e, muitas vezes, guardamos nossos segredos mais secretos. Se fôssemos obrigados a compartilhar com os outros absolutamente tudo que fazemos, será que as relações continuariam as mesmas? É exatamente sobre isso que fala Perfeitos Desconhecidos (Perfetti Sconosciuti). Na trama, um grupo de amigos decide se reunir para uma janta especial, e no meio da noite Eva (Kasia Smutniak) sugere uma brincadeira: que durante aquela noite todas as mensagens que os amigos recebessem seriam lidas em voz altas e as ligações feitas no viva-voz. Não demorou muito, é claro, para que as máscaras começassem a cair. A cada ligação atendida e mensagem lida em voz alta, um segredo ia caindo por terra. O enredo é primoroso, e traz uma ótima reflexão a respeito da sociedade em que vivemos.
11º Animais Noturnos, de Tom Ford (Estados Unidos)
No início do século 20, a baronesa francesa Marguerite Dumont (Catherine Frot) reunia em sua casa a alta sociedade da França com intuito de promover concertos onde ela mesma fazia participações especiais. Sua paixão pela música, principalmente ópera, transcendia qualquer coisa, mas havia um grande problema: ela cantava terrivelmente mal. Apesar de ninguém aguentar a voz da mulher, todos fingiam gostar das apresentações, num cenário onde a verdade era o que menos importava. O filme foi um sucesso em festivais da Europa, mas infelizmente passou batido nos cinemas daqui. Destaque para a atuação incrível de Catherine Frot.
Dedicado às mulheres, o novo filme do espanhol Julio Medel emociona ao tocar num assunto delicado para elas: o câncer de mama. Forte, pesado, mas extremamente belo em sua essência, Ma Ma (Ma Ma) não é um filme fácil de se assistir, principalmente para quem conhece alguém que já sofreu com a doença, que atinge cerca de 2 milhões de mulheres por ano só no Brasil. Após ser diagnosticada com a doença, Magda (Penélope Cruz) tenta encontrar forças para viver na relação carinhosa que mantém com o filho pequeno até que conhece Arturo (Luis Tosar), um homem que também está passando por uma situação difícil após perder a esposa e a filha em um acidente. Logo vai surgindo uma bonita relação entre os dois, e pouco a pouco Arturo se torna não somente um companheiro para Magda, mas também um pai para o filho dela. O principal acerto do filme é justamente mostrar essa relação sem apelação, de forma natural e sensível. Duas pessoas que se encontram em momentos delicados de suas vidas e ajudam-se mutuamente a enfrentar os obstáculos.
Sou grande fã de Tarantino, quem me conhece sabe, e esperei muito pelo lançamento de Os Oito Odiados (The Hateful Eight), seu oitavo filme da carreira. Trabalhando novamente com grandes atores, incluindo Samuel L Jackson, Tim Roth e Kurt Russell, Tarantino novamente flertou com o faroeste, e demonstrou mais uma vez sua enorme competência no gênero. Com pouca ação mas cheio de reviravoltas e diálogos espirituosos, o filme se passa no inverno rigoroso dos Estados Unidos e acompanha um grupo de homens que se encontra em uma cabana, cada um com suas particularidades em um clima pós-guerra civil.
Após um golpe de estado, o ditador de um país fictício tenta fugir com seu neto mas a fuga não dá certo. A única maneira de continuar vivo é andar disfarçado pelas ruas, e começa então a se passar por um músico miserável. Aos poucos, ele vai se deparando com uma realidade extremamente desumana, que ele mesmo ajudou a criar enquanto estava no poder. O diretor ainda nos faz refletir o fato de os rebeldes, que estavam do outro lado, assumirem o poder e cometerem as mesmas barbáries que antes repudiavam. Um retrato político e social de como funciona a humanidade.
Vencedor do Óscar de melhor filme, Spotlight - Segredos Revelados (Spotlight)
conta a história real do grupo de jornalistas do Boston Globe que
investigou, por mais de um ano, abusos de padres católicos contra crianças
da região. O escândalo ganhou proporções mundiais na época e abriu
precedentes para muitas outras investigações ao redor do mundo. Com um grande elenco e um roteiro caprichoso, o maior mérito do filme foi mostrar a inércia, muitas vezes proposital, do alto escalão da igreja com relação aos casos.
4º O Novíssimo Testamento, de Jaco Van Dormael (Bélgica)
Deus
existe em carne osso e vive em Bruxelas, mas não é das melhores pessoas
para se conviver. Rabugento e mal humorado, ele se diverte comandando e
criando desastres na vida dos humanos pela tela do computador enquanto destrata a filha e a mulher dentro de casa. Cansada de tudo, a filha de deus resolve se vingar e envia uma mensagem para todos os habitantes da terra com as datas de suas respectivas mortes. Cheio de ironia e humor negro, o novo filme do belga Jaco Van Dormael (de Sr. Ninguém) faz uma divertida crítica ao modo como o mundo enxerga e idolatra a figura do "criador", e traz também uma singela reflexão sobre o comportamento humano diante da certeza da morte.
Três "contos de fadas" bizarros, que se passam alguns séculos atrás, servem de pano de fundo para O Conto dos Contos (Il Racconto Dei Racconti), novo filme do italiano Matteo Garrone. Se nas outras obras do diretor ele abusou da
realidade nua e crua, aqui ele flerta com o lúdico e o fantasioso, mas
sem deixar de usar sua costumeira crítica a respeito da humanidade. Seja
contando a história de um rei e uma rainha que não conseguem ter
filhos, de uma camponesa idosa que queria ser mais jovem para poder
conquistar o coração de um rei ou ainda de um rei que cria uma pulga de
estimação, todas elas tentam passar a mensagem de que tudo que se deseja
na vida tem um preço, só resta saber se estamos preparados para pagar pelas consequências.
Um menininho roubou a cena na última edição do Óscar
por sua simpatia e carisma. O nome dele? Jacob Tremblay, que com 10
anos protagonizou de forma madura um dos filmes mais fortes do ano.
Dirigido por Lenny Abrahamson, O Quarto de Jack (Room) conta a
história de um menino de 5 anos que nasceu e viveu sua vida toda num
espaço de poucos metros quadrados, que nada mais era do que o cativeiro
onde era mantido com sua mãe, sequestrada há alguns anos atrás. Assistindo ao filme, posso dizer que tive um misto de sentimentos, tanto bons quanto ruins. A tristeza da primeira parte contrasta com a esperança da segunda, e é impossível não se sentir tocado com tudo que o envolve.
Esqueça os filmes que você já assistiu sobre a Segunda Guerra Mundial e se prepare para assistir um dos retratos mais chocantes e realistas já feitos sobre o holocausto. A história do húngaro Filho de Saul (Saul Fia) gira em torno de um judeu que trabalha limpando as câmeras de gás e tirando os corpos num campo de concentração nazista. Num dia rotineiro, ele vê um corpo que acredita ser de seu filho e passa a fazer de tudo para conseguir dar um fim digno ao mesmo. O enredo é realmente brilhante, desde sua fotografia (toda ela em primeira pessoa, o que nos aproxima ainda mais de toda a ação) até as suas atuações. O Óscar de melhor filme estrangeiro foi mais do que merecido, e faz jus ao primeiro lugar dessa lista.
Lista de 2015
Lista de 2014
Lista de 2013
Lista de 2015
Lista de 2014
Lista de 2013
ótima lista, já marquei vários que não assisti.
ResponderExcluir