sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Crítica: Como Nossos Pais (2017)


Consagrado no Festival de Gramado de 2017, Como Nossos Pais, da diretora Laís Bodanzky, cativa o espectador pela sutileza em abordar assuntos aparentemente simples, porém extremamente complexos, como a relação familiar, o autoconhecimento, e o papel da mulher na sociedade moderna. 



Meio-dia de domingo, família reunida, almoço especial. Tinha tudo para ser um dia animado, mas na família de Rosa (Maria Ribeiro) isso é complicado. Em meio às discussões banais e trocas de farpas já tão comuns, uma revelação é feita pela mãe de Rosa, Clarisse (Clarisse Abujamra), de forma fria e direta: seu pai, Homero (Jorge Mautner), não é seu pai de verdade. E é a partir desta descoberta que ela começa a reavaliar todas as suas escolhas e a procurar um verdadeiro sentida pra vida.

Rosa é um exemplo do cotidiano de uma mulher urbana, casada, e beirando os quarenta. Mãe de duas filhas pequenas, ela se vira do jeito que pode para fazer tudo por elas, contando com pouca ajuda do pai, o antropólogo Dado (Paulo Vilhena), que mesmo sendo presente com as filhas se mostra desligado e pouco prestativo nas tarefas diárias. Esse descompromisso de Dado com a vida de casado acaba desgastando a relação, criando brechas para infidelidades e brigas contantes entre os dois.




Entre as diversas questões abordadas pelo filme está a necessidade que temos, diante das diversidades e surpresas da vida, de abrir mão de algo por um bem maior. Quanto cada um de nós está disposto a perder para se estabelecer de alguma forma? E num casamento, quanto cada um está disposto abrir mão para fazer dar certo no final?  Sempre citando a peça Casa de Bonecas, de Henrik Ibsen, o filme traça um paralelo entre a vida de Rosa e a da personagem principal da peça, que largou tudo que tinha para recomeçar a vida do zero. Quantas vezes Rosa pensou em fazer o mesmo? E quantas Rosas existem por aí?

Ainda sobre Rosa e sua mãe, no começo elas parecem mais inimigas do que mãe e filha, mas a relação evolui ao longo do filme e mostra que, no fim, Elis Regina estava certa ao cantar que "ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais". Só aprendemos a entender as atitudes dos nossos pais quando também nos tornamos pais e repetimos os mesmos erros.



Focando nas relações humanas e suas nuances, Como Nossos Pais pode ser considerado, possivelmente, o melhor filme nacional do ano. A naturalidade com que as coisas transcorrem em cena se dá não só pela direção competente de Bodanzky mas também pelas atuações de todo o elenco. Maria Ribeiro e Clarisse Abujamra estão impecáveis nos papéis de duas mulheres incrivelmente fortes, enquanto Paulo Vilhena demonstra mais uma vez o porque de ser um dos melhores atores do cinema brasileiro.


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