quinta-feira, 10 de agosto de 2023

Crítica: Asteroid City (2023)


Poucos diretores na atualidade tem uma assinatura tão própria e notável como Wes Anderson, e esta estética única de seus trabalhos é o que faz ele ser tão aclamado pela crítica e pelo público mundo a fora. No entanto, se analisarmos a parte narrativa dos seus últimos filmes, a discussão acaba sendo um pouco mais embaixo, e eu diria até que costuma ser o ponto fraco da sua filmografia. Não posso negar que Asteroid City me divertiu bastante enquanto assistia, mas infelizmente apresenta os mesmos defeitos do seu antecessor, A Crônica Francesa: é fragmentado e disperso, sendo impossível se apegar a qualquer um dos personagens por falta de profundidade neles.


Anderson mais uma vez tem a disposição um cast extraordinário, mas que acaba sendo subutilizado em cenas rápidas, como se fossem esquetes de humor e nada mais do que isso. Do elenco estrelado, apenas alguns dos nomes ganham mais tempo de tela, como é o caso de Bryan Cranston, que é o primeiro a aparecer e serve como uma espécie de narrador onipresente ao longo do filme, sempre aparecendo com a fotografia em preto e branco. É ele que logo de cara nos informa de que iremos acompanhar uma peça de teatro chamada "Asteroid City", escrita por Conrad Earp (Edward Norton), dividida em três atos e que se passa em 1955.

A partir de então, o filme ganha cores e o visual deslumbrante que já é marca registrada do diretor. Adentramos nessa cidade fictícia no meio do deserto norte americano, que apesar de quase não ter habitantes, é famosa por conta de uma enorme cratera causada pela queda de um meteorito há centenas de milhares de anos. A cidade está se preparando para a festa anual de comemoração ao aniversário da queda do objeto espacial, onde alunos prodígios de ciências do país inteiro são chamados para receberem premiações por suas invenções no mínimo "estranhas".

É nesta pacata localidade que Augie (Jason Schwartzman) acaba ficando isolado com seus filhos após o carro em que viajavam apresentar um defeito grave. Ele está tentando encontrar a melhor maneira de contar às crianças sobre a morte da mãe deles, e para isso conta também com a ajuda do seu sogro aposentado (Tom Hanks). Aos poucos, outros personagens também vão se juntando à história, como a atriz de cinema Midge Campbell (Scarlett Johansson) e o dono do único motel do lugar (Steve Carrell), além de outros que vão chegando na cidade especialmente para as comemorações. Após um extraterrestre aparecer na cidade durante o evento, o governo norte-americano decide colocar todos em quarentena, e daí em diante vão surgindo várias pequenas tramas envolvendo cada um destes personagens, que impossibilitados de sair da cidade passam a interagir entre si de várias maneiras.


Como já era esperado, a fotografia é de fato o que mais chama a atenção durante toda a exibição. São planos caprichosamente assimétricos, cores em tons pasteis e cenários em 2D que verdadeiramente encantam os olhos de quem vê. As atuações acabam combinando com esse clima "teatral" criado por Anderson, sendo um pouco espalhafatosas e até mesmo caricatas na maior parte do tempo, o que não incomoda tanto se você conseguir comprar a ideia desde o início. O ponto negativo fica mesmo por conta do roteiro, que não consegue desenvolver bem as ideias que queria justamente por ser bastante desconexo entre um ato e outro, além de terminar tudo de forma abrupta e insatisfatória. No fim, é um filme que vale a pena pelo elenco, pela fotografia, e por algumas cenas cômicas bem inspiradas, mas fica a pergunta: até quando Wes Anderson vai continuar insistindo nesta mesma fórmula vencida?


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