sábado, 29 de março de 2014

Crítica: Os Filhos do Padre (2014)


Qual a melhor forma de criticar dogmas e abordar temas polêmicos de forma leve e despretensiosa? O uso do bom humor é um excelente caminho. Com um roteiro original, Os Filhos do Padre (Svecenikova Djeca) chama a atenção para o cinema croata, pouco conhecido do público em geral.



A história do longa se passa na Dalmácia, uma bela região da Croácia, banhada pelo mar Adriático. O padre Fabijan (Kresimir Mikic) acaba de sair de um seminário para substituir o pároco local, e logo na sua primeira ação, ouve a confissão de um fiel que se sente culpado por vender preservativos para os moradores locais em sua banca. Segundo o homem, ele está sendo hostilizado pela mulher que afirma que ele está "matando pessoas antes mesmo delas viverem", para eles um pecado monstruoso.

Enquanto a natalidade da cidade chega a quase zero após começarem a ser comercializadas as camisinhas, o número de óbitos continua estável, tendo uma diminuição significante no número de habitantes. Preocupado com a situação, o padre resolve tomar uma atitude desesperada: furar todas os preservativos antes mesmo deles irem à venda, para que as crianças voltem a nascer e a população volte a crescer.



O tom de comédia é muito bem aplicado, com algumas cenas emblemáticas. Fica evidente que a intenção do diretor e roteirista Vinko Bresan era criticar algumas visões ultrapassadas da igreja por meio do bom humor, abordando temas polêmicos de forma leve e engraçada. Impossível conferir o longa sem lembrar do largo debate em torno do uso das camisinhas pela comunidade católica.

Indo contra as estatísticas do restante do país, a ilha alcança uma taxa de natalidade expressiva depois das medidas do padre. O fato acaba dando fama ao local, atraindo milhares de turistas que desejam ter filhos e veem na cidade a grande chance. Aos poucos, porém, a atitude de Fabijan vai sendo descoberta, trazendo uma série de mal entendidos e consequências inesperadas.



A narrativa é, por vezes, sonolenta, ainda que esteja longe de ser um filme ruim. A parte mais interessante é certamente o diálogo entre os párocos, e a crítica acerca de suas atitudes. Como por exemplo a cena em que o bispo do país chega na ilha, a bordo de uma lancha milionária (seria uma crítica ao bispo alemão Franz-Peter Tebartz-van Elst?), e Fabijan o compara a um mafioso.

Sobre as atuações, elas são simples mas não deixam a desejar. É um filme diferente, fora do comum, e você tem que entender isso logo de cara para poder gostar. A imprensa croata exagerou ao dizer que é o melhor filme deles em anos (e talvez seja, já que pouco se conhece de lá), mas é um bom filme para assistir e dar algumas risadas.


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