domingo, 30 de março de 2014

Recomendação de Filme #52

O Piano (Jane Campion) - 1993


A diretora neo-zelandesa Jane Campion marcou seu nome na história do cinema em 1993, ao ser a primeira mulher a levar para casa a Palma de Ouro no Festival de Cannes. No ano seguinte ela ainda conquistaria o Óscar de melhor roteiro original, e só perderia o de melhor direção para Steven Spielberg, com seu A Lista de Schindler. A causa de tudo isso? O filme O Piano (The Piano), considerado um dos melhores filmes já feitos fora do solo americano.



Roteiros dramáticos estão fadados a ser apelativos. No entanto, quando o roteiro é bem construído, e as escolhas dos atores é feita a dedo, podemos ter um resultado surpreendentemente bom, com uma história crível e emocionante, como o visto nesse caso.

A trama gira em torno de Ada (Holly Hunter), uma mulher que é obrigada a se mudar junto com sua filha pequena para um vilarejo isolado na Nova Zelândia, após ter seu casamento arranjado pela família, que devia algo ao noivo. Sem falar desde os 6 anos, ela não tem muito o que fazer, e vai para o lugar com a missão de tentar se adaptar à situação.



Porém, logo na chegada, o marido Stewart (Sam Neill) não aceita que seus homens levem para casa o piano de Ada, que acaba abandonado no meio do nada. Apaixonada pelo instrumento, que serviu a vida toda como válvula de escape para os infortúnios da vida, Ada acaba desenvolvendo antipatia pelo marido após sua atitude.

Nesse ínterim, o comerciante local George (Harvey Keitel) resolve comprar o piano, instalando-o em sua própria casa. Interessado pela bela jovem, George pede a Stewart que ele a libere para lhe dar aulas de piano, e o que inicialmente era para ser uma relação de aluno e mestre, acaba se tornando uma relação de domínio e desejo.



Ada é chantageada por George, que promete devolver seu instrumento em troca de favores sexuais. No entanto, passados alguns dias, um sentimento verdadeiro passa a surgir entre eles. Mesmo temerosa quanto ao "pecado" que está cometendo, Ada se entrega de corpo e alma, da forma como nunca tinha tido oportunidade na vida.

Quando o marido descobre que as sessões de piano viraram na verdade encontros eróticos, acaba ficando enfurecido, e toma uma atitude extremamente violenta contra a jovem. Passado o surto, e recobrada a consciência, ele percebe que Ada nunca foi verdadeiramente sua, e numa atitude humana (ao contrário da anterior), ele deixa ela ir embora com George.



O final é dramático, quase um soco no estômago. A narrativa é primorosa, e a sofisticação visual encanta. Algumas imagens do filme ficarão marcadas para sempre na memória, como a cena em que George acaricia as pernas de Ada por um buraco em sua meia. Simples e lírico, o filme chama a atenção também pela excelência das atuações. A contradição que nos faz amar e odiar um personagem em poucos minutos, cria uma teia de emoções como poucas vezes vista, mostrando o quão mutável é a natureza humana e seus sentimentos.

Como era de se esperar em um filme que tem um piano como "personagem", a trilha sonora é fantástica. As melodias, quase todas tocadas no piano em cena, dão um toque especial. Impossível não se apaixonar e, até mesmo, se identificar com o filme. Um dos mais belos trabalhos feitos para o cinema, feito pelas mãos de quem conhece do assunto.


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