segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Crítica: Entre Nós (2014)


Dos irmãos Paulo e Pedro Morelli, o nacional Entre Nós traz um clima interessante que mistura mistério e nostalgia, mostrando principalmente o quanto o tempo pode mudar a vida das pessoas e suas relações interpessoais. Amizades perdidas, decepções, sonhos não realizados, tudo isso faz parte da vida de qualquer um, e é inevitável não se identificar com esses dilemas.



O longa começa no ano de 1992, onde um grupo de amigos está reunido em uma casa de campo, curtindo um fim de semana em meio à natureza. Entre bebidas e conversas animadas sobre trivialidades da vida adolescente, eles resolvem escrever em cartas as suas previsões para o futuro, que depois foram enterradas em uma urna com a promessa de serem abertas dez anos depois.

No mesmo dia, Rafael (Lee Taylor), que estava em processo de finalização de seu livro, e Felipe (Caio Blat), que também queria se aventurar na literatura mas não sabia por onde começar, se envolvem em um grave acidente de carro que culmina na morte do primeiro. Após o acidente, o roteiro dá um pulo até 2002, quando todos se reencontram no mesmo local cumprindo a promessa feita dez anos atrás.


É evidente que o tempo passou para todos, e a ingenuidade da juventude deu lugar às frustrações da vida adulta. As memórias do passado retornam mais fortes do que eles estavam preparados para suportar, e a diferença entre eles agora parece um precipício. Com o sucesso alcançado após o lançamento de seu livro, Felipe é o que mais parece ter mudado. Aquém aos outros, ele está sempre afiado para começar qualquer discussão, transparecendo uma personalidade desesperada que parece a todo momento esconder alguma coisa misteriosa.

Quando se aproxima o momento de reler as cartas, todos ficam amedrontados por ter que se confrontar com seus sonhos antigos. É sem dúvida o momento mais bacana do filme, e foi ali que ele de fato me conquistou. Drica (Martha Nowill) queria ter filhos, Laura (Carolina Dieckmann) queria ter uma vida feliz e Gus (Paulo Vilhena) queria um amor, mas nenhum conseguiu realizar seu próprio desejo. Até mesmo Cazé (Júlio Andrade), que aparenta ser o único satisfeito com o rumo que sua vida tomou, sente no fundo um certo desgosto, como fica registrado na frase emblemática que sai de sua boca: "não sei o que é mais triste: não realizar nenhum sonho ou realizar todos".

Aliás, todos os personagens são extremamente humanos e bem trabalhados, mostrando a vida como ela é, com seus dramas palpáveis. Na carta de Rafael, ele havia feito uma pergunta a todos sobre o futuro: "Será que nós mudamos o mundo, ou o mundo que nos mudou?", sabendo que no fundo a segunda opção seria a que mais estaria de acordo com a realidade.



Além de mostrar a inconstância da vida e as consequências que o tempo traz para as relações humanas, o filme também aborda o quanto as pessoas são capazes de fazer para alcançar o sucesso, com uma revelação impactante sobre um segredo que Felipe carregou por anos. 

Com um enredo que deixa o convencional de lado, Entre Nós final me deixou com uma sensação estranha ao terminar, como se tivesse mexido com algo dentro de mim. O final, por sinal, traz uma metáfora visual incrível, finalizando com chave de ouro um dos melhores filmes nacionais do ano.


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