quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Crítica: Magia ao Luar (2014)


Depois da série de filmes que homenageavam cidades ao redor do mundo, como Vicky Cristina Barcelona, Meia-Noite em Paris, Para Roma com Amor e o premiado Blue Jasmine, Woody Allen quebra essa sequência com Magia ao Luar (Magic in the Moonlight), onde traz um enredo cheio de cenas emblemáticas, sem mexer muito em elementos que fazem seu cinema ser único e inconfundível.


Ambientado nos anos 20, o longa começa com um verdadeiro show de mágica, como se fossemos os espectadores na plateia de Wei Ling Soo (Colin Firth), um conceituado ilusionista que encanta a todos com seus grandiosos truques. Fora dos palcos, ele é Stanley, um homem cético que só acredita no que vê e duvida de tudo o que for considerado místico. Inclusive, uma das suas principais características é desmascarar os charlatões que buscam convencer as pessoas de que existe o além, e que é possível conversar com espíritos.

Quando a jovem americana Sophie (Emma Stone) surge na região e começa a chamar a atenção das pessoas por seu poder mediúnico, Stanley é convocado para desmascará-la. Howard, um velho amigo seu, e também conhecido por desmascarar trapaceiros, jura que assistiu ela em ação e não viu absolutamente nada que comprove que ela está mentindo, o que aumenta mais ainda a desconfiança de Stanley.


Narcisista, cínico e duro na queda, Stanley tem pela frente o maior desafio de sua vida, e não conseguindo desmascará-la, se vê forçado a renegar suas crenças (ou a falta delas), admitindo que ela não é uma fraude. No entanto, é característica de Woody Allen surpreender no final com reviravoltas em suas histórias, e ele novamente utiliza esse recurso para dar um final digno à trama.

O filme mostra com acidez essa contradição que existe entre ceticismo científico e o que há de mágico (e inexplicável) no mundo. É interessante perceber que boa parte dos personagens recorrem ao mundo espiritual apenas quando se vêem em dificuldade, ou no caso, para ter "contato" com alguém muito querido que já se foi e deixou saudades. Há quem acredite, e isso deve ser respeitado, mas a crítica que Allen faz é bastante pertinente, mesmo sem ser doutrinária.


O nome do filme é uma metáfora simples, mas nem por isso menos genial. Apesar de piegas, Allen mostra que a única magia que existe no mundo é o amor, quando Stanley e Sophie se apaixonam debaixo de um céu estrelado e, veja só, enluarado. O exagero romântico de Woody Allen se sobrepõe ao pessimismo de seus enredos, e isso sempre encaixa com perfeição, como se apesar de tudo ainda exista algo de bom a se apegar.

Se valendo de discursos afiados e referências a Nietzsche, Hemingway e Dickens, o filme acalenta discussões profundas a respeito da existência ou não dos fenômenos psíquicos que fogem da nossa consciência e do nosso conhecimento. O sempre provocativo Allen faz isso com maestria desde o início da carreira, e mesmo após tantos anos, demonstra não ter perdido essa veia crítica que o faz diferente de boa parte dos diretores da atualidade.


Os protagonistas estão impecáveis. Tanto Colin Firth como Emma Stone personificam muito bem seus personagens discrepantes, mesmo que propositalmente caricatos. De um lado, a arrogância carismática de Stanley. De outro, a doçura quase angelical de Sophie. Junto de uma excelente trilha sonora e de uma fotografia belíssima, são elementos que constroem um clima super agradável ao redor do enredo, e fazem esse ser um dos trabalhos mais bacanas dessa fase atual do diretor.


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