quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Crítica: Sem Amor (2018)


Vivemos hoje em uma sociedade extremamente carente de amor, afeto e empatia, cuja decadência das relações humanas parece ter chegado ao seu limite. E é nesse cenário que se encaixa perfeitamente a história de Sem Amor (Nelyubov), candidato russo ao Óscar de melhor filme estrangeiro.




A trama acompanha Zhenya e Boris, um casal que viveu anos juntos mas agora está se divorciando. O motivo aparentemente é apenas o desgaste e o "desamor" que surgiu na relação com o passar dos anos, como acontece com todo mundo. Ambos já vivem novos "amores" por aí na esperança de recuperar o que foi perdido no outro, enquanto buscam vender a casa onde viveram.  No meio desta separação está Alyosha, o filho do casal, de 12 anos. Ele é símbolo de uma nova geração criada em meio à falta de carinho, que não recebe atenção nem afeto, e passa o dia praticamente sozinho enquanto os pais estão com seus novos romances. 

Todos os personagens do filme são incrivelmente frios, e é bem chocante ver o desinteresse dos pais com o filho e com o seu crescimento. No entanto, a falta de amor não fica somente entre os pais e a criança, mas também entre os adultos. O mais significante disso é quando o filme mostra Zhenya e Boris alguns anos depois com seus novos pares, fazendo a mesma coisa que faziam entre eles, novamente vivendo "sem amor". Ou seja, não basta mudar de amor, é preciso mudar a forma de agir com as pessoas e o mundo ao redor, senão todo e qualquer relacionamento já nasce fadado ao fracasso.





Outro ponto interessante analisado no filme são os relacionamentos de fachada. Na empresa que Boris trabalha os funcionários precisam ser casados, e por conta disso muitos acabam ficando com suas esposas apenas para garantir o emprego. Há ainda espaço para criticar o uso desenfreado das tecnologias, com pessoas usando seus celulares e notebooks quando deveriam estar curtindo as pessoas e o mundo em volta.

Os atores tem uma entrega total em cena, e conseguem transmitir todos os sentimentos humanos de forma impressionante. Uma das cenas mais chocantes e que guardarei para sempre com um aperto no peito é quando o casal, ainda vivendo junto, está brigando na sala e a câmera muda de ambiente para mostrar o garoto chorando atrás da porta. Ele não tem culpa de estar vivendo nessa realidade, mas é obrigado a presenciar e sofrer com isso, e provavelmente isso moldará sua personalidade para o futuro.




O tom do filme é assim mesmo, pessimista ao extremo, e não economiza em críticas à nossa sociedade das aparências e da apatia. Sem amor cria uma atmosfera onde praticamente nenhum personagem presta, mas nenhum deles pode ser visto como vilão, e sim como pessoas humanas e passíveis de erros, como todos nós.


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