quinta-feira, 12 de setembro de 2019

Crítica: Parasita (2019)


Vencedor da Palma de Ouro em Cannes, o novo filme de Joon-ho Bong (dos excelentes Expresso do Amanhã e Okja) volta a tocar na ferida da luta de classes, tema que o diretor sabe abordar como poucos na atualidade, e mostra ao mundo um lado da Coreia do Sul que habitualmente não é mostrada na televisão; o lado da pobreza, da sujeira, e da falta de perspectiva em um futuro melhor.



O enredo começa acompanhando uma família suburbana que vive de dobrar caixas de papelão para uma pizzaria local e mal consegue ter dinheiro para se alimentar. Esmagados em um pequeno apartamento subterrâneo, eles "sugam" o wi-fi dos vizinhos, usam a fumigação das ruas para dedetizar o apartamento e vão se virando da maneira como podem em meio à miséria. Porém, após uma surpresa do destino, Ki-woo (Choi Woo-sik), o filho mais velho da família, consegue emprego numa mansão onde mora o empresário Park (Lee Sun-kyun), sua esposa e seu mimado filho pequeno, e esse fato muda o panorama de todos dessa família.

Aos poucos, através de pequenos golpes e trapaças, todos os integrantes da família passam a trabalhar na mesma mansão, sem que os donos saibam do verdadeiro grau parentesco entre eles. A mãe vira governanta, o pai motorista, e até a filha ganha espaço como cuidadora da criança. A primeira parte é bem humorada, mostrando a "ascensão" um tanto quanto desconjuntada dessa família, mas que no final dá certo. Como "parasitas", eles se instalam na residência e passam a viver uma realidade que eles jamais imaginavam que um dia poderiam usufruir. A partir da segunda metade, e de um determinado acontecimento, é que filme ganha contornos de suspense, beirando por vezes até mesmo o terror.



A crítica social está presente ao longo de toda a trama. Assim como em Expresso do Amanhã, aqui o diretor também explora as diferentes camadas sociais, mas de forma mais "visceral". O contraste entre dois mundos já pode ser analisado no começo, quando partimos do apartamento claustrofóbico da família Kim para a exuberante e espaçosa mansão dos Park. É uma mudança drástica no padrão de vida familiar e apesar de eles sempre terem sonhado almejar tal lugar, eles não parecem se sentir tão a vontade quando estão inseridos nele.

Há uma crítica também na cena em que mostra um amontoado de doações de agasalhos em um ginásio, e logo é mostrado o guarda roupas cheio da Sra. Park. Por fim, ainda há espaço para uma alegoria que, de alguma forma, lamenta o fato de sempre serem os pobres e desassistidos a sofrerem com tragédias como enchentes e deslizamentos. É interessante perceber que o diretor não tenta tratar os ricos como "maus", mesmo que suas atitudes sejam por vezes lamentáveis. São boas pessoas, mas os preconceitos velados e sutis se tornam impossíveis de se ignorar, como quando Park critica o cheiro ruim na casa como "cheiro de quem utiliza o metrô". Assim como também não trata as atitudes dos "pobres" como errada, já que, no mundo de desigualdades, não dá para julgar a tentativa de "se dar bem", quase como se fosse um "instinto de sobrevivência"



Candidatíssimo ao prêmio de melhor filme estrangeiro no Óscar do ano que vem, Parasita é, sem dúvidas, um dos grandes filmes do ano, e mais uma obra impressionante desse diretor que parece não errar nunca. 

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