Vencedor da Palma de Ouro em Cannes, o novo filme de Joon-ho Bong (dos excelentes Expresso do Amanhã e Okja) volta a tocar na ferida da luta de classes, tema que o diretor sabe abordar como poucos na atualidade, e mostra ao mundo um lado da Coreia do Sul que habitualmente não é mostrada na televisão; o lado da pobreza, da sujeira, e da falta de perspectiva em um futuro melhor.
O enredo começa acompanhando uma família suburbana que vive de dobrar caixas de papelão para uma pizzaria local e mal consegue ter dinheiro para se alimentar. Esmagados em um pequeno apartamento subterrâneo, eles "sugam" o wi-fi dos vizinhos, usam a fumigação das ruas para dedetizar o apartamento e vão se virando da maneira como podem em meio à miséria. Porém, após uma surpresa do destino, Ki-woo (Choi Woo-sik), o filho mais velho da família, consegue emprego numa mansão onde mora o empresário Park (Lee Sun-kyun), sua esposa e seu mimado filho pequeno, e esse fato muda o panorama de todos dessa família.
Aos poucos, através de pequenos golpes e trapaças, todos os integrantes da família passam a trabalhar na mesma mansão, sem que os donos saibam do verdadeiro grau parentesco entre eles. A mãe vira governanta, o pai motorista, e até a filha ganha espaço como cuidadora da criança. A primeira parte é bem humorada, mostrando a "ascensão" um tanto quanto desconjuntada dessa família, mas que no final dá certo. Como "parasitas", eles se instalam na residência e passam a viver uma realidade que eles jamais imaginavam que um dia poderiam usufruir. A partir da segunda metade, e de um determinado acontecimento, é que filme ganha contornos de suspense, beirando por vezes até mesmo o terror.
A crítica social está presente ao longo de toda a trama. Assim como em Expresso do Amanhã, aqui o diretor também explora as diferentes camadas sociais, mas de forma mais "visceral". O contraste entre dois mundos já pode ser analisado no começo, quando partimos do apartamento claustrofóbico da família Kim para a exuberante e espaçosa mansão dos Park. É uma mudança drástica no padrão de vida familiar e apesar de eles sempre terem sonhado almejar tal lugar, eles não parecem se sentir tão a vontade quando estão inseridos nele.
Há uma crítica também na cena em que mostra um amontoado de doações de agasalhos em um ginásio, e logo é mostrado o guarda roupas cheio da Sra. Park. Por fim, ainda há espaço para uma alegoria que, de alguma forma, lamenta o fato de sempre serem os pobres e desassistidos a sofrerem com tragédias como enchentes e deslizamentos. É interessante perceber que o diretor não tenta tratar os ricos como "maus", mesmo que suas atitudes sejam por vezes lamentáveis. São boas pessoas, mas os preconceitos velados e sutis se tornam impossíveis de se ignorar, como quando Park critica o cheiro ruim na casa como "cheiro de quem utiliza o metrô". Assim como também não trata as atitudes dos "pobres" como errada, já que, no mundo de desigualdades, não dá para julgar a tentativa de "se dar bem", quase como se fosse um "instinto de sobrevivência"
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