O novo filme de Robert Guédiguian se passa em Marselha,
sua cidade natal, e começa literalmente com o parto de uma criança.
Filha de Mathilda (Anais Demoustier) e Nicolas (Robinson Stévenin), a
bebê recebe o nome de Glória, e nem imagina que sua chegada ao mundo vem
em um momento delicado na vida da família, moral e financeiramente.
Mathilda
trabalha numa loja de roupas, e vive dias de pavor com uma chefe
abusiva. Nicolas trabalha como Uber, mas fica impossibilitado de dirigir
após sofrer um ataque violento de um grupo de taxistas. Temos aqui o
retrato social de um casal que luta diariamente para sobreviver, e ainda vê na
chegada de um filho as coisas piorarem.
Ao mesmo tempo, Daniel
(Gerard Meylan), o pai de Mathilda, sai da cadeia após anos de reclusão
por, supostamente, ter cometido um assassinato. Interessante como o
filme mostra a tentativa de ressocialização desse personagem, um homem
já na terceira idade, que precisa reaprender a viver em liberdade
enquanto lida com o preconceito por seu passado. Por intermédio da mãe
de Mathilda (Ariane Ascaride) e do seu novo marido (Richard Benar),
Daniel se reintegra aos poucos na família e passa a fazer parte da vida
da neta recém nascida. No meio de tudo isso, temos ainda o casal Bruno
(Gregoire Leprince-Ringuet) e Jackie (Diouc Koma), a irmã de Mathilda,
que também tentam sobreviver dia após dia, mas de uma forma um tanto
desonesta em sua loja de produtos usados.
Eu achei um filme bem
orgânico, com pessoas que erram e acertam em coisas corriqueiras do dia
dia, como todos nós. Gueguidian bebe da fonte de Ken Loach, num filme
cru e realista, que traz inclusive algumas discussões sobre a classe
trabalhadora, quando por exemplo a mãe de Mathilda é acusada de furar a
greve que estava acontecendo em um dos seus trabalhos.
Mathilda
fala em uma discussão com o marido que a vida anda tão corrida que as
vezes falta tempo dela simplesmente amar. E quando fala amar, fala de
uma forma geral, amar o marido, amar o que faz, amar a vida em si. E
acho que essa é a ideia principal que o filme tentar mostrar. Apesar de
alguns exageros, é um filme que merece atenção, e o prêmio de melhor
atriz em Veneza para Ariane Ascaride foi merecido.
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