sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Crítica: Memoir of a Snail (2024)


Do mesmo criador de Mary and Max, que encantou o mundo em 2009 ao abordar temas adultos e maduros através da amizade improvável de uma jovem e um idoso, Memoir of a Snail é mais uma animação de Adam Elliott feita inteiramente em stopmotion e que segue a mesma ideia, desta vez acompanhando uma garota melancólica e desajustada, que mesmo tendo enfrentado dificuldades extremas pelo caminho, não perde a esperança de um dia ter uma vida boa e tranquila.


Grace (voz de Sarah Snook) é a personagem principal desta história, que logo na primeira cena aparece contando a sua vida para o seu caracol de estimação favorito, Sylvia, após a morte de uma pessoa que ela amava muito. A vida de Grace notavelmente não foi fácil desde o nascimento. Após a morte do pai, ela e seu irmão gêmeo foram separados no orfanato, indo cada um para um canto do país. Grace foi morar com uma família de boas condições financeiras mas extremamente excêntrica, enquanto seu irmão Gilbert (voz de Kodi Smit-McPhee) foi parar em uma fazenda de fanáticos religiosos, onde comeu o pão que o diabo amassou. Mesmo à distância, os dois tentavam se comunicar através de cartas, que acabam tendo um papel essencial na contagem desta história, até que elas cessam de chegar.

Todos os personagens são cuidadosamente trabalhados, desde a personalidade de cada um até a sua aparência. Além de Grace e Gilbert, outro destaque é Pinky (Jacky Weaver), uma senhora de idade que por acaso do destino acaba formado uma amizade indestrutível com a garota. Enquanto Grace vive seus traumas e tanta superá-los, Pinky tenta lidar com a finitude da vida, que está cada vez mais próxima. Esse encontro de gerações é encantador, e os diálogos são fenomenais.

Ao abordar a vida de Grace do início ao fim, temos uma série de questões pertinentes que são abordadas com muito cuidado e respeito pelo roteiro. Desde as inseguranças que ela tinha na infância por ter nascido com um problema estético no nariz, até sua timidez e melancolia na vida adulta, tudo se encaixa e molda sua personalidade de maneira única.


A estética do filme é impecável, com grande requinte nos detalhes. Cada quadro, cada cena, é tudo feito com muito capricho, o que deixa tudo extremamente realista, mesmo se tratando de uma animação em massinha de modelar. Cheio de referências a escritores famosos, revistas de grande circulação e principalmente ao cinema, o filme cativa do início ao fim, e traz uma belíssima mensagem usando como metáfora os caracóis que Grace tanto ama. Como todos sabem, eles não podem se mover para trás e por isso estão sempre em frente, na velocidade deles. E nós também deveríamos ser assim.

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