segunda-feira, 18 de novembro de 2024

Crítica: O Quarto ao Lado (2024)

 

Pedro Almodóvar é um cineasta ímpar, que sempre foi conhecido por suas "extravagâncias" narrativas e o uso de cores vivas em suas obras, quase como um elemento crucial. De uns anos para cá, no entanto, o cineasta espanhol vem trazendo obras mais densas e intimistas, como é o caso do seu novo filme, O Quarto ao Lado (The Room Next Door), que com muita sobriedade aborda o envelhecimento, a aceitação da morte e um tema ainda polêmico: a eutanásia.


A trama acompanha Ingrid (Julianne Moore), uma escritora de sucesso que após o lançamento do seu novo livro, descobre que uma grande amiga, que ela não via há muitos anos, está internada no hospital com um câncer terminal. Quando ela decidi visitar Martha (Tilda Swinton), a conexão existente entre elas renasce e se fortalece, mesmo depois de tanto tempo. As próprias personagens se perguntam o porquê de terem ficado todos esses anos afastadas, e isso me fez questionar também o quanto nós vamos deixando o tempo nos afastar das pessoas que amamos simplesmente pela crueldade da rotina.

Logo, Martha tem uma proposta para Ingrid que irá colocar em cheque a lealdade dela. Adentrando agora em spoilers, a ideia de Martha é utilizar um medicamento que ela conseguiu através do mercado negro, e que causará sua morte instantânea, livrando-a do sofrimento de ter que enfrentar os piores dias da doença. Martha está decidida, e o que ela quer é apenas alguém que viaje com ela para um lugar seguro e isolado, e que fique no quarto ao lado (o que dá nome ao filme) para poder chamar as autoridades quando ela tomar a decisão.


Entre uma conversa e outra, as duas passam a relembrar vários períodos de suas respectivas vidas, que são dramatizados através de flashbacks com outros atores mais jovens. O retorno ao passado das personagens é utilizado para mostrar que antes de qualquer decisão que se tenha visando o futuro, devemos primeiramente fazer as pazes com o passado e entender que ele foi crucial na construção de quem somos no presente.

A discussão da mortalidade e o quanto todos somos facilmente suscetíveis a ela é, de fato, o ponto central da trama, e Almodóvar trabalha isso de maneira muito leve e, às vezes, até mesmo bem humorada. Com nomes como Julianne Moore e Tilda Swinton, não era de se esperar nada diferente em termos de atuação. As duas estão magníficas em seus papéis.

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