segunda-feira, 26 de setembro de 2022

Crítica: Não Se Preocupe, Querida (2022)


Não se Preocupe, Querida (Don't Worry Darling), segundo longa-metragem dirigido por Olivia Wilde, se tornou um dos filmes mais comentados e aguardados do ano, porém, não pela história contada, e sim por estar rodeado de polêmicas atrás das câmeras. Obviamente não cabe falar delas aqui, mas o fato é que isso fez com que pairasse uma dúvida no ar: as brigas nos bastidores interferiram no resultado final, ou Wilde conseguiu mostrar exatamente o que queria nas telas?


A trama de ficção científica se passa nos anos 1950, onde um magnata (Chris Pine) criou um programa chamado "Projeto Vitória", uma espécie de comunidade onde dezenas de casais parecem viver a vida dos sonhos. Nos primeiros minutos somos inseridos de forma gradual neste contexto, acompanhando o dia a dia destes personagens, mas ainda sem saber detalhes do que exatamente é este projeto e com qual intuito ele foi criado. Logo se percebe que esses casais vivem uma rotina metódica, quase como se fossem todos iguais, e um exemplo disso é o "ballet" de carros na saída dos homens para trabalhar. Aliás, é muito forte na comunidade a ideia dos homens serem os "provedores", enquanto as mulheres passam o dia em casa, lavando, cozinhando, e se preparando para satisfazer seus maridos quando estes retornarem para casa. É uma vida perfeita para os homens, aparentemente, mas o que eles fazem quando estão fora é um grande mistério. E as mulheres, qual o papel delas nessa vida regrada e repetitiva? Será que elas estão ali porque querem?

Quando uma delas começa a questionar essa realidade "perfeita", logo são aplicados tratamentos psiquiátricos, como se fosse uma insanidade fugir do padrão imposto. A personagem que finalmente consegue quebrar essa barreira é Alice (Florence Pugh), que passa a analisar a dinâmica do seu relacionamento com Jack (Harry Styles) e a dos vizinhos, e a perceber através de flashs e visões que não está vivendo a sua vida verdadeira, mas uma espécie de "vida paralela".

De um modo geral, o filme faz uma crítica sobre a busca incessante e utópica de se viver uma vida perfeita, sendo que isso é extremamente relativo. Na sua "vida anterior", Alice quase não conseguia se sentir feliz, pois o trabalho sugava toda a sua energia e isso estava afetando o seu relacionamento. E é aí que entra o questionamento que, para mim, define a ideia central do filme: será que valeria a pena abrir mão da liberdade de escolha para ter uma falsa e inebriante felicidade?



A parte técnica é impecável, com destaque para a fotografia, a ambientação da época e a trilha sonora. Porém, senti que alguns elementos foram inseridos de forma equivocada no roteiro, como os próprios flashs e visões do passado que a protagonista têm, que são um tanto quanto aleatórios e pouco contribuem de fato para a trama. O elenco não está mal, mas tive a impressão de que boa parte dos personagens tiveram menos tempo de tela do que deveriam, e dificultando a conexão com muitos deles. Por fim, Não Se Preocupe, Querida está longe de ser o desastre que muitos estão dizendo por aí, apesar de ter sim os seus defeitos e eles serem bem evidentes. Mas de certa forma, é um filme que me surpreendeu positivamente, e que mostra mais uma vez que Olivia Wilde tem um enorme potencial na direção.


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