Desde que iniciaram
suas filmagens, há cerca de três anos, "Blonde" se tornou um dos filmes
mais aguardados por mim. Afinal de contas, estamos falando de um dos
nomes mais marcantes da história do cinema mundial: Marilyn Monroe, ou
para os mais íntimos, Norma Jeane, que surgiu em uma carreira meteórica
na década de 1950 e nos deixou cedo, aos 36 anos de idade. Baseado no
livro homônimo de Joyce Carol Oates, o filme de Andrew Dominik nos conta
um pouco do que foi a vida da atriz, pegando desde sua infância
conturbada vivendo com a mãe mentalmente problemática, até os abusos
sofridos na carreira, passando ainda pela sua relação misteriosa com o
presidente Kennedy.
Apesar da duração de 2h45, senti que
o filme tratou alguns desses momentos de forma muito superficial,
sobretudo a parte da sua infância, onde o diretor optou por pegar apenas
um pequeno recorte e tentar convencer de que aquilo ali teria moldado a
sua personalidade para o resto da vida. Porém, a questão da saúde
mental de sua mãe, e principalmente o suspense que envolve a figura de
seu pai, não são muito bem trabalhados, e o filme já pula rapidamente
para sua fase adulta, sem responder perguntas importantes.
Desse
ponto em diante, o roteiro é um emaranhado de situações tóxicas
envolvendo Marilyn, que começa a ganhar espaço na mídia e na cena
Hollywoodiana. Sabemos que a vida da atriz não foi nada fácil, mas o
filme não dá sequer um alívio ao espectador, e parece querer mostrar
apenas seu sofrimento da maneira mais chocante possível. As cenas
envolvendo aborto, assim como as que envolvem abusos sexuais e assédios,
são extremamente dolorosas de assistir.
As relações e os casamentos de Marilyn também são mostrados sem muitos detalhes de como iniciam ou terminam. Assim como no livro, aqui também vemos um "trisal" formado por Marilyn, o filho de Charlie Chaplin, Cass Chaplin, e o filho de Eddy Robinson. Tudo ficcional, como a própria autora deixa bem claro, mas justamente por ser inventado que acaba sendo desnecessária as longas cenas de sexo que são mostradas entre eles, bem como a importância dessa relação na vida e na carreira da atriz. Aliás, estou longe de ser puritano ou conservador, sobretudo quando estamos falando de arte, mas senti que o diretor foi bastante controverso ao tentar criticar a forma como a indústria americana utilizava o corpo de Monroe, mas ao mesmo tempo apresentar Ana de Armas nua em diversas situações em que realmente não se fazia necessário.
Por fim, Blonde me deixou com
muitas dúvidas na cabeça, mas a principal delas foi sobre a verdadeira
intenção que o diretor tinha ao apresentar a imagem de uma Marilyn tão
frágil, passiva e subversiva. Nem tudo são flores na indústria
cinematográfica, sabemos disso, mas essa visão sofrida da atriz me
pareceu, sim, um pouco exagerada. As cenas que remetem a momentos
icônicos de Marilyn Monroe, como a clássica filmagem do vestido
esvoaçante em O Pecado Mora ao Lado, aliadas a uma atuação fenomenal de
Ana de Armas (que certamente vai levar seu nome ao Oscar do ano que
vem), são os únicos "refrescos" nesse filme tão pesado e melancólico, e o
que de fato ainda faz valer a pena se sentar à frente da tela para
assisti-lo
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