Lançado no final de
julho, "X" se tornou um dos filmes mais comentados e elogiados do ano,
apresentando um terror conceitual que lembrou muito os filmes "slasher"
dos anos 1980. Vendo o potencial que a história tinha para ir além, o
diretor Ti West logo anunciou as filmagens de um prequel, onde contaria a
história por trás da vilã, e de quando ela ainda era jovem.
A
trama de "Pearl" se passa então no ano de 1918, que ficou marcado por
dois acontecimentos: a pandemia da Gripe Espanhola que assolou o mundo e
o final da Primeira Guerra. É essencial frisar este contexto histórico,
pois ele tem uma importância muito grande no comportamento e nos
hábitos de cada um dos personagens. Vemos pessoas que ainda estão
temerosas e recém se acostumando a voltar para as ruas e sair do
isolamento, e isso foi uma cartada genial do diretor, pois depois de
tudo que vivemos com a pandemia do Covid-19, ficou muito mais fácil a
identificação.
Nesse cenário, vemos a jovem Pearl (Mia Goth), que
vive com seus pais numa pequena fazenda desde que o marido foi lutar na
guerra. Seu cotidiano consiste em cuidar dos animais, lidar com o
excesso de rigidez da mãe, e ainda tratar o pai que está inválido em uma
cadeira de rodas. Essa rotina tediosa ocupa quase todo seu tempo, e o
único momento em que a menina se sente livre é quando consegue ir ao
centro da cidade e assistir clandestinamente a filmes mudos no cinema.
Pearl
é muito apaixonada por dança, e é isso o que mais chama a atenção dela
nos filmes, e faz que ela sonhe um dia se tornar uma bailarina de
sucesso e sair do interior, o que obviamente não é bem visto pelos olhos
conservadores da mãe. Dá para se dizer, inclusive, que a dança tem um
papel fundamental na história, sendo responsável por uma das cenas mais
bonitas do filme, e também mais impactantes. Por falar em cenas
impactantes, não posso deixar de exaltar Mia Goth, sobretudo no monólogo
de seis minutos ininterruptos em que sua personagem expõe os
sentimentos para uma amiga. Um trabalho incrível da atriz, na pele de
uma personagem que tenta ser doce mas que no fundo sabe que tem algo de
errado dentro de si.
Pearl acaba sendo um retrato de como funciona a mente humana diante de grandes frustrações, como por exemplo a não realização de um sonho depois de uma expectativa muito alta, sobretudo quando se é jovem. Mais do que isso, acaba mostrando também as raízes de um "surto psicótico" e de como a distância do convívio social acaba afetando o psicológico. E claro, tudo isso com direito a um banho de sangue definitivamente impecável e uma trilha sonora poderosa. Resta agora esperar pelo terceiro e último capítulo desta trilogia, que já ganhou o nome de "MaXXXine" mas que ainda não tem data de lançamento.
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