Considerado uma surpresa nesta temporada de premiações, e indicado entre os dez finalistas ao Óscar de melhor filme, Ficção Americana (American Fiction), do estreante Cord Jefferson, fala sobre a hipocrisia no mundo literário norte-americano, mas sua crítica também pode ser usada em outras camadas culturais e sociais, como no próprio mundo do cinema.
A trama acompanha Thellonious Ellison (Jeffrey Wright), conhecido como Monk, um professor universitário e escritor negro que despreza todo tipo de conteúdo de militância racial. Ele inclusive se revolta por ver seus livros sendo expostos em uma prateleira de “livros sobre cultura afro-descendente”, pois para ele as obras que escreve são apenas livros de ficção, como os escritos por qualquer pessoa, independente de raça, e não tem porque existir esta separação. Por ter essa visão, ele acaba sendo excluído pelas editoras, que cada vez mais exigem que livros escritos por pessoas negras tragam estórias estereotipadas pelo sistema, como a vida na periferia, o vício em drogas, e sobretudo a violência policial, pois é isso o que mais vende.
A ironia surge quando Monk decide escrever um livro que segue todo o clichê possível sobre a identidade negra, e o livro se torna um grande sucesso, mesmo sendo propositalmente muito ruim e mal escrito. O filme funciona bem na parte da sátira, mas desperdiça todo o seu potencial quando vai para o lado do drama familiar. Não consegui me conectar com nenhum dos percalços que o protagonista enfrenta quando precisa voltar para a casa da família em Boston e lidar com a mãe doente e uma irmã recém divorciada. Também não consegui me conectar com o personagem do irmão de Monk, interpretado por Sterling K. Brown, que acaba sendo bastante caricato.
Infelizmente, é gritante a falta de profundidade com que o diretor aborda os personagens secundários. O filme é apenas de Jeffrey Wright, e gira 100% em torno do seu personagem. Quando ele não está na tela, não há história. Ou há, mas não tem nada que cative e faça o espectador se interessar. A crítica é, sim, bastante sagaz, principalmente quando fala sobre o que a sociedade atual consome culturalmente, mas só isso não basta.
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