quarta-feira, 20 de março de 2024

Crítica: Bob Marley: One Love (2024)


As cinebiografias de músicos famosos viraram a "galinha dos ovos de ouro" de Hollywood há algum tempo. A quantidade de filmes do gênero lançados nestes últimos anos é impressionante, e existe o lado bom e o lado ruim desta "febre". O bom é que sim, é possível conhecer mais da vida de alguns artistas que crescemos ouvindo e admirando através de um filme, o ruim é justamente o fato de que estas obras acabaram caindo em um lugar comum e tornando-se extremamente repetitivas. Sem contar que por já saber de antemão que o filme terá seu público cativo, a qualidade da produção muitas vezes não é tão levada a sério. É o caso de Bob Marley: One Love, um filme que tem toda a boa vontade do mundo por trás, mas que infelizmente acaba sendo bastante superficial na hora de pôr suas ideias em prática.


O filme, dirigido por Reinaldo Marcus Green (de King Richard), pega um recorte na vida do cantor jamaicano, interpretado por Kingsley Ben-Adir, entre os anos de 1976 e 1978, época em que a Jamaica estava afundada em uma grave crise política e em uma violenta guerra civil. Bob é mostrado no filme como uma figura que buscava a paz por meio de sua música, e para isso planejava fazer um grande concerto com a intenção de unir os dois lados e propagar o fim dos conflitos internos. O início do filme até consegue nos contextualizar sobre este caos político e social, principalmente com o uso de legendas explicativas, mas não demora para perder o fio da meada graças a uma condução horrorosa. Pois sim, a montagem é o ponto mais defeituoso da obra.

O roteiro não consegue desenvolver direito nenhum dos temas propostos, já que as cenas são atropeladas e desconexas entre si, numa ordem cronológica confusa e nada atrativa. Há, por exemplo, um exagero de cenas do cantor se apresentando em shows, o que deixa claro que o filme não passa de um "fan service", sem ter intenção de realmente adentrar na mente criativa e militante do artista. O ativismo de Bob Marley, as suas ideias de paz, e até mesmo a sua religiosidade Rastafari, acabam sendo tratadas de forma abstrata. O diretor também opta por encher o filme de flashbacks, e todos com o uso de um filtro amarelado tenebroso. Isso deixa a história ainda mais repetitiva e cansativa.


A verdade é que falta muita profundidade, tanto na figura do cantor em si, como nas pessoas que fizeram parte de sua história. Os coadjuvantes tem pouco ou nenhum espaço de desenvolvimento, e quando ganham algum tempo de tela, como acontece com a mulher de Bob, Rita (Lashana Lynch), é para trazer um conflito entre eles que surge do nada sem uma devida explicação. Kingsley Ben-Adir é esforçado, mas não consegue passar a energia que o músico tinha na vida e no palco, sendo uma atuação bem amorfa, e isso fica ainda mais evidente quando imagens reais do cantor aparecem nos créditos finais. Como disse no início, é um filme que tem muita boa vontade por trás, e isso é inegável, mas fica muito abaixo do que um músico com a grandeza e importância do Bob Marley merecia.

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