quinta-feira, 28 de março de 2024

Crítica: Que Nadie Duerma (2024)


Uma odisseia da vida real, sobre uma mulher que perde o emprego após muitos anos trabalhando no mesmo lugar e é obrigada a se reinventar em uma nova profissão e uma nova rotina de vida. É assim que eu começaria descrevendo Que Nadie Duerma, filme do espanhol Antonio Méndez Esparza, adaptado de um romance escrito por Juan Jose Millás, e que sagrou Malena Alterio com o prêmio de melhor atriz no Prêmio Goya deste ano.


O roteiro acompanha Lucía (Alterio), uma mulher que trabalha há anos na parte de tecnologia da informação em uma grande empresa odontológica de Madrid. Após serem descobertas fraudes e rombos milionários nas contas da empresa, a polícia fecha o local para as investigações e os donos desaparecem. Assim como outras dezenas de funcionários, Lucía fica sem rumo, sem emprego e sem dinheiro, já que além de tudo a empresa estava com salários atrasados, e ela decide então se aventurar como motorista de táxi enquanto espera a prometida quantia de indenização prometida pelo advogado do caso.

Lucía nunca trabalhou como taxista, mas enfrenta com a cara e a coragem a nova missão que a vida lhe impõe. Imediatamente podemos montar um paralelo com as milhares de pessoas que viram motoristas de aplicativos nos dias de hoje como alternativa de renda, sobretudo em momentos de dificuldade. Por incrível que pareça, mesmo sendo um emprego digno e honesto, há muita gente que ainda tem preconceito com isso, o que é inacreditável. Durante o novo trabalho, Lucía passa a ouvir muitas histórias e enfrenta situações das mais diversas possíveis. No meio desta rotina acelerada, ela também redescobre o amor ao se apaixonar por seu vizinho, o ator Bráulio Brotas (Rodrigo Poisón).


O filme toma um rumo muito inusitado e surpreendente do meio para o final, na medida em que Lucía vai descobrindo algumas traições de pessoas em que ela confiava, desde uma amiga de muitos anos, até seu próprio affair. O final é, talvez, o mais inesperado e maluco que vi no ano, mas não darei mais detalhes para não soltar spoilers. O fato é que o diretor consegue apresentar questões morais e sociais de uma maneira muito envolvente e até mesmo engraçada, num universo que explora o realismo mas não deixa de apresentar situações completamente imprevisíveis e excêntricas. E é preciso dizer que apesar de ter seus méritos, o filme não seria o mesmo sem a atriz Malena Alterio, que dá vida a esta personagem tão ambígua de maneira brilhante.

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