domingo, 25 de agosto de 2024

Crítica: Motel Destino (2024)


Após lançar seu primeiro filme em língua inglesa, Firebrand (2023), que convenhamos, não tinha nada da sua forma conhecida de fazer cinema, o diretor cearense Karim Aïnouz volta às suas raízes com Motel Destino, filme que foi ovacionado em sua estreia no Festival de Cannes deste ano, e que finalmente chegou aos cinemas brasileiros neste último dia 22.



A trama de Motel Destino se passa no litoral do Ceará e gira em torno de três personagens, começando por Heraldo (Igor Xavier), um jovem que está com planos de ir para São Paulo atrás de uma vida melhor. Para sair da cidade, no entanto, ele precisa antes acertar contas com a chefe do tráfico local, que lhe dá uma missão em troca do perdão de uma dívida: matar um estrangeiro que vive na cidade. A missão dá errado por culpa de um atraso de Heraldo após uma noitada tórrida mas ao mesmo tempo trágica com uma mulher em um motel, e para piorar, ele ainda perde uma pessoa muito querida nesta empreitada mal sucedida. O único jeito é sair foragido, e nessa fuga ele acaba indo parar no mesmo motel de beira de estrada da noite passada, onde é acolhido por Dayana (Nataly Rocha), que comanda o lugar junto com o seu marido Elias (Fabio Assunção).

Em troca de uma cama e de um lugar seguro para se manter escondido dos criminosos, Heraldo passa a oferecer pequenos serviços de conserto no motel, até que passa a trabalhar como um verdadeiro funcionário do local, trocando roupas de cama, limpando os quartos e cuidando da recepção. O problema começa quando Heraldo e Dayana passam a se relacionar de maneira intensa, criando um triângulo amoroso perigoso, que é um verdadeiro barril de pólvora prestes a explodir.


Dayana sonha com o dia em que poderá se livrar das mãos de Elias, um homem que é extremamente abusivo, violento, e que já tentou matá-la ao não aceitar uma separação no passado. Porém, os negócios do motel, do qual ela também é sócia, impedem que ela largue tudo e siga em frente, pois sabe que além de ter que conviver com o medo de ser encontrada e morta por Elias, ainda teria que recomeçar a vida totalmente do zero. E é em Heraldo que ela vê a oportunidade de finalmente escapar desta "prisão" física e psicológica, ainda que não saiba como e nem por onde começar.

Gostei muito da construção dos personagens, bem como a crescente tensão que passa a existir entre eles à medida em que os segredos vão se afunilando. A forma passional com que Heraldo e Dayana se ajudam, transcende o próprio desejo carnal que um tem pelo outro, e dá para sentir que existe entre eles uma conexão mútua forjada intrinsecamente no desejo interno de liberdade, cada qual à sua própria maneira. E nisso, cabe um grande elogio ao ótimo trabalho de Igor Xavier e Nataly Rocha. Não posso deixar também de elogiar a atuação do Fábio Assunção, que brilha na pele desse personagem hostil, violento, mas que no fundo se torna extremamente carismático na tela.


Motel Destino é filme que pulsa tesão, tanto nas imagens como no som, mas que em momento algum se torna forçado neste sentido. Gostei demais da forma como o motel se transforma em um ambiente claustrofóbico, quase como se fosse um quarto personagem, onde passamos boa parte do tempo andando entre seus corredores e quartos, e onde o trabalho de som é o ponto alto, com os diferentes barulhos dos hóspedes (gemidos, gritos, etc etc) servindo como fundo quase o tempo inteiro das ações. Um grande trabalho de Aïnouz em sua "volta para casa".

Nenhum comentário:

Postar um comentário