Arrebatador. Essa é a melhor definição que encontrei para descrever Lore (Lore), co-produção entre o cinema alemão e o cinema australiano, que mostra a segunda guerra mundial sobre um novo e original ponto de vista.
Não espere algo já manjado em filmes do gênero, como a luta pela vida nos campos de concentração ou batalhas sanguinárias sobre os desmandos de Hitler e seus aliados. O filme foca justamente no período pós-guerra, sobretudo nas marcas que o conflito deixou na população.
Lore, que dá nome ao filme, é filha de pais filiados ao partido de Hitler e fortemente envolvidos com seus ideias. Quando Hitler é morto e a guerra chega ao fim, a Alemanha é tomada pelos rivais americanos e soviéticos. Os pais de Lore a "abandonam", deixando-a responsável pelo cuidado de seus quatro irmãos mais novos, entre eles um bebê de colo. A jovem precisa atravessar o país em busca de refúgio na casa da avó, mas até chegar lá, muitas coisas acontecem pelo caminho.
Com uma fotografia impecável, e cenas abertamente reflexivas, o filme mostra todo o trauma psicológico que tomou conta do país e de seus habitantes após a guerra, principalmente aqueles que não estavam de lado nenhum, e viveram dentro de suas casas o período inteiro. Eles passam a observar incrédulos a verdade por trás do mandato de Hitler, e alguns até não acreditam, e preferem achar que as fotos do massacre judeu não passam de "montagem" do exército americano.
Aliás, a estória foge daquela linha do alemão nazista vilão e do judeu como vítima. Obviamente que isso fica subtendido por tudo que pré-sabemos da história, mas o que o filme nos mostra é justamente a parte da população alemã inocente, que nada tinha a ver com o que estava acontecendo, mas que sofreu tanto quanto quem era responsável.
Para Lore, a peregrinação não passa de uma experiência perturbadora. Ensinada desde pequena a não gostar de judeus e a assistir passivamente à guerra, a menina mostra bem o lado dito antes: das pessoas que não sabiam de nada do que estava acontecendo no país, principalmente nos campos de concentração. Isso se intensifica quando Lore conhece Thomas, refugiado de um campo, que acompanha ela e seus irmãos por um bom pedaço do trajeto.
Acaba nascendo um sentimento incomum entre os dois, de amor e medo. Lore está tão atordoada com as novas descobertas que surgiram ao sair das quatro paredes de sua casa, que não sabe mais em quem confiar, muito menos o que deve fazer. Ela só tem uma causa a seguir: levar os irmãos a salvo até o destino final.
O filme pode até ter trazido coisas boas a mesa, mas temos que admitir que é um filme com narrativa chata e personagens mal desenvolvidos, a Lore e o Thomas eram muito confusos, uma hora ele tentou estuprá-la, outra hora ele ajudou ela, uma hora ela o odiava/tinha medo por ser um judeu, outra hora queria transar com ele, aí faz quem tá assistindo perder completamente o interesse. O filme até tinha potencial com todos os temas que foram trabalhados, mas a história fraca/personagens sem graça destruiram tudo pra mim.
ResponderExcluir2,5/5 estrelas
ResponderExcluirCom ou sem divergência de pontos de vista, a verdade é que o filme nos apresenta a uma jornada interessante e intensa, protagonizada por um conjunto de personagens fortes e bem construídas, entre as quais sobressai logicamente a de Lore. Vamos temer pela sua vida e pela sobrevivência da sua família, conscientes da sua perigosa fragilidade, solidificada durante muitos anos a assimilar os ensinamentos nazis que lhes foram sendo apregoados pela sociedade e por um governo que criava a ilusão de um mundo prometido, no qual a alegria e a simplicidade estavam ao alcance das cabeças loiras do comum alemão patriota e ariano desde de que este não pensasse muito no assunto, o que como sabemos até acabou por não ser tão inatingível quanto isso. Mérito neste caso para a realizadora Cate Shortland, que conseguiu criar uma atmosfera de perigo e de inquietude permanentes que acompanha a penosa viagem dos cinco irmãos, enriquecida com alguns pormenores interessantes característicos do território germânico nesta época como a veneração a Adolf Hitler mesmo após a sua morte e o anti-americanismo e o anti-semitismo perfeitamente enraizados no obediente povo alemão.
A história é ainda embelezada por uma belíssima e singular fotografia deixada a cargo de Adam Arkapaw, que para além de ter tirado proveito de um variado leque de planos de câmara parece ter aproveitado cada momento do filme para evidenciar as cores vivas de cada objecto ou elemento da natureza que aparecesse no ecrã para maravilhar o espectador. Neste sentido nunca a vegetação foi tão verde, o céu tão azul e as roupas das personagens tão vermelhas, ou pretas, ou brancas, ou às cores. A banda sonora do filme então é verdadeiramente deslumbrante, composta por pianos e violinos e outros instrumentos saídos da mente do experiente e talentoso compositor Max Richter, que criou uma série de melodias intensas e capazes de exacerbar os sentimentos provocados por cada cena em que são postas em evidência. Mesmo o trabalho da sonoplastia do filme é muito eficaz, sobressaindo por exemplo a cena em que o som do aproximar de um camião cheio de soldados norte-americanos e respectivas metralhadoras se parece com o de um trovão ou de uma tempestade em constante aproximação, criando uma das sensações de tensão que já referi.
Resta-me elogiar o elenco, encabeçado pela jovem Saskia Rosendahl, (a Lore), que se estreia em grande numa longa-metragem ao incorporar talentosamente os diversos sentimentos que caracterizam a evolução da sua personagem, começando pela alegria e acabando no desespero e na depressão. Kai-Peter Malina, por seu turno, interpreta Thomas, (o judeu), um jovem pouco expressivo, misterioso e eticamente complexo, que protagoniza algumas cenas particularmente exigentes sem qualquer perturbação. O restante elenco secundário esteve irrepreensível, notando-se a pavorosa desorientação moral de algumas das figuras que assombravam o território germânico e que assustavam os irmãos mais novos de Lore, que felizmente eram demasiado jovens para ficarem demasiado alvoraçados ou traumatizados pela situação.
Tudo isto somado temos uma obra intensa mas fácil de acompanhar, que sem ter uma história brilhante sabe explorar algumas questões interessantes e raramente aprofundadas relacionadas com um conflito retratado já inúmeras vezes no grande ecrã, por norte-americanos e não só. De qualquer maneira, e independentemente do seu interesse, sabemos que “Lore” é (e foi) apenas mais um entre as dezenas de filmes que passam (ou passaram) despercebidos nas nossas salas de cinema, sem suscitar chama ou brilharete. Não me queixo, nem tenho o direito de o fazer, até porque os gostos discutem-se, mas não se impõem. E nem sequer me chateio – como criatura anti-social que sou, só posso agradecer o vazio e o silêncio das salas de cinema que me possibilitem observar o sofrimento e a degradação irreversível da sanidade mental de quatro adoráveis crianças alemãs, e acabar o filme com um sorriso de satisfação.
CONCLUSÃO: Saber mais sobre o nosso passado é algo fundamental. Não apenas para entender como chegamos até aqui, mas também para aprender com os erros e com a dor para que eles não se repitam mais. E por mais que você achei que não tem nada a ver com a Alemanha nazista, toda a civilização moderna foi influenciada em maior ou menor grau por aqueles fatos. Por isso mesmo, acho tão impressionante quando um filme como Lore tem a coragem de voltar atrás na história para fazer um libelo impressionante sobre marcas que aquela época deixou em pessoas inocentes.
ResponderExcluirFilmes históricos sempre valem a pena. Especialmente quando tem como característica principal resgatar a vida de pessoas comuns e o que elas aprenderam com a dura realidade que viveram. Lore tem uma história impressionante, na qual não sobra nenhuma linha – seja de diálogos, seja da narrativa. Muito bem dirigido e com ótimos atores, este filme é um libelo a um futuro sem os absurdos que vivemos em diversas fases do passado. Imperdível.