A guerra vista sob a perspectiva e o olhar de uma criança. A Língua das Mariposas (La Lengua de Las Mariposas), filme espanhol de 1999, é um dos mais belos e tocantes que tive o prazer de assistir até então.
A trama conta a estória de Monzo, um garoto tímido de 7 anos que vive a expectativa de estar indo para a escola pela primeira vez. Ansioso para o primeiro dia, depois das coisas amedrontadoras que o irmão mais velho contou a ele para assustá-lo, o garoto não consegue nem dormir na véspera.
Porém, ao adentrar na sala de aula, Monzo cria logo no início uma enorme admiração pelo experiente professor Don Gregório, que resulta em uma forte amizade entre o mestre e a criança. Graças a essa amizade, a escola se torna para Monzo um ambiente de prazer, e o garoto começa a frequentar as aulas com entusiasmo e sem o medo que tinha no primeiro momento.
São nas aulas de Don Gregório que Monzo aprende um mundo novo, completamente desconhecido. O professor leva os alunos para fora da sala de aula, ensinando-os a admirar a natureza e a explorar seus segredos. Além disso, é também pelas mãos do mestre que Moncho descobre a magia da literatura, ao receber de presente o romance "A Ilha do Tesouro", de Robert Louis Stevenson.
Essa é a principal marca do filme no seu começo: a tentativa de mostrar que a aprendizagem pode sim se tornar uma fonte de prazer, sendo ela feita com liberdade e boa convivência. A partir de então, porém, vemos uma mudança de foco e o filme passa a mostrar o quadro social e político de uma Espanha às vésperas da ascensão do fascismo de Franco. Com invasões do governo fascista e a perseguição violenta contra comunistas e simpatizantes da esquerda, o garoto vê o mundo em contradição com os ideais de liberdade que seu mestre sempre lhe ensinou.
A Língua das Mariposas é um filme de guerra, mas sem armas, exércitos ou tanques. Fala de algo muito mais devastador em um conflito, que é a falta de confiança entre amigos de lados opostos, a perda da inocência, e os sentimentos que são envolvidos em um conflito.
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