sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Crítica: Heli (2014)


Elogiado em festivais pelo mundo a fora e escolhido pelo México para representar o país no Óscar de melhor filme estrangeiro (desbancando o excelente Depois de Lúcia), Heli até começou bem, mas se perde em muitos momentos e acaba sendo uma das maiores decepções do ano para mim.


O personagem que dá nome ao filme, vivido por Armando Espitia, mora numa pequena casa junto com seu pai, sua mulher, sua irmã menor e um bebê, e trabalha no turno da noite em uma fábrica de automóveis. A gente fica sabendo de tudo isso quando ele precisa responder uma entrevistadora do Censo na porta de casa, em uma das introduções mais originais e inteligentes que já vi no cinema.

Sua vida pacata começa a ser movimentada quando sua irmã de 12 anos, Estela (Andrea Vergara), inicia um relacionamento amoroso com um rapaz de 17 anos que está treinando para entrar para a polícia. Tudo piora quando o garoto desvia um pacote de cocaína apreendida, e esconde a sacola na casa de Estela. Isso acaba causando problemas com seus antigos colegas, que vão atrás da droga numa fúria brutal contra todos que estão no caminho, incluindo a família de Heli.


As cenas são pesadíssimas, como dificilmente é visto no cinema atual, e a tortura na qual eles são submetidos realmente choca pela veracidade com que é filmada. Boa parte do longa se concentra nisso, aliás. Porém o roteiro é muito precário, usando de diálogos desnecessários e atuações realmente aquém do que se espera. Muita coisa fica sem explicação, e o diretor não se preocupa em clarear absolutamente nada.

A mulher de Heli volta para casa e encontra a casa destruída, e logo o que se esperaria é o desespero ou no mínimo uma preocupação. E o que ela faz? Age como se nada tivesse acontecido. Logo mais para a a frente, depois de todo o acontecido, Heli volta pra casa e passa a viver uma vida aparentemente normal, transando e indo a parques de diversão, mesmo com a irmã desaparecida, depois de ser sequestrada pelos mesmos que o torturaram. Sério, não deu para digerir esse tipo de coisa. O final, com um senso de justiça e vingança, é tão superficial quanto todo o restante do filme.


Os personagens também foram pouco aproveitados pelo diretor. O pai de Heli, por exemplo, é tão insignificante para a história que ninguém se preocupa com o seu fim. Heli e sua mulher também são muito mal construídos. Talvez a personagem mais intrigante seja mesmo Estela, que com a idade que tem, sonha em casar e constituir uma família enquanto estuda para ser alguém na vida. 

Por fim, é triste ver que um enredo que poderia ter sido melhor aproveitado, ser posto em cena de forma tão desorganizada do início ao fim. Para um filme que recebeu tantos elogios, eu esperava muito mais. Uma pena.


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