domingo, 10 de abril de 2022

Crítica: Great Freedom (2022)


Revogado inteiramente apenas em 1994, o "parágrafo 175" do código penal alemão ficou mais de 120 anos em vigor e tinha como principal medida criminalizar a homossexualidade. Durante este longo período, cerca de 140.000 homens foram condenados pela lei e acabaram nas prisões do país, principalmente durante o regime nazista e no período pós-guerra.


Great Freedom, vencedor do prêmio do júri na mostra Un Certain Regard em Cannes e representante da Áustria no Oscar 2022, conta a história de Hans Hoffman (Franz Rogowski), que ao longo de três décadas foi preso três vezes pelo até então "crime" de realizar atos sexuais com outros homens. O filme inicia em 1968, com a terceira ida de Hans para a cadeia, mas o roteiro quebra a linearidade e volta para 1945 e 1953, outros dois períodos em que ele esteve atrás das grades pelos mesmos motivos. Nestas idas e vindas no tempo, o diretor Sebastian Meise costura histórias vividas por Hans na prisão, sobretudo a sua relação com Viktor (Georg Friedrich), um homem heteronormativo que está preso acusado de assassinato.

Com uma direção extremamente competente, Meise consegue passar toda a angústia de alguém que está impedido de ter a sua liberdade, em todos os sentidos possíveis. O ambiente claustrofóbico e inóspito de uma prisão também é muito bem trabalhado aqui, assim como a figura dos carcereiros, que não possuíam nenhum pudor em torturar, fisica e psicologicamente, os seus prisioneiros, ainda mais quando sabiam se tratar de um condenado pelo 175. Franz Rogowski tem uma atuação impressionante, e é possível identificar a época que o filme está se passando apenas pelas suas expressões, ora de alguém assustado (que indica que estamos na sua primeira detenção), ora de alguém já experiente que sabe as regras de convivência e o que fazer pra tentar não enlouquecer nessa realidade caótica.


Great Freedom é um dos grandes filmes deste ano, e consegue aliar o peso de um tema tão dolorido com a ternura de um personagem que só queria poder se relacionar com quem quisesse sem ter sua liberdade tolhida por isso. Aliás, dói justamente por sabermos que hoje ainda existem países que criminalizam a homossexualidade da mesma forma, com prisão e pena de morte. O final, por sua vez, encerrou com maestria a ideia de pertencimento que permeia o filme todo. Brilhante!


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