quinta-feira, 28 de abril de 2022

Crítica: Tre Piani (2022)


Tre Piani, novo filme do cineasta italiano Nanni Moretti, apresenta os moradores de quatro apartamentos diferentes de um mesmo prédio localizado em um bairro de classe média de Roma. Dividido em três partes, o roteiro acompanha dez anos na vida destes personagens, com suas mudanças, seus amadurecimentos e sobretudo suas perdas ao longo do passar do tempo.


Em um primeiro momento, três personagens se destacam: Monica (Alba Rohrwacher), que está prestes a dar a luz ao primeiro filho, Andrea (Alessandro Sperduti), filho inconsequente e problemático de um casal de juristas que atropela e mata uma mulher enquanto dirigia alcoolizado, e Lucio (Riccardo Scamarcio), que é um pai superprotetor e suspeita que sua filha tenha sido abusada por Renato (Paolo Graziosi), seu vizinho idoso.

A partir dessas três histórias, temos o desenrolar de outras subtramas que se conectam através delas. Tem a história do idoso e sua luta contra o alzheimer, e o bonito amor que a esposa mantém por ele mesmo depois de décadas, o relacionamento de Mônica com o pai do seu filho, a tentativa dos pais de Andrea de seguir a vida mesmo com a ausência do filho que acabou sendo preso, e o surgimento de Charlotte (Denise Tantucci), uma personagem externa que põe em cheque o casamento de Lucio. Todos os protagonistas destes pequenos "retratos da vida humana" tentam lidar, da sua maneira, com os próprios conflitos internos, e é interessante como o diretor trabalha a personalidade de cada um.

O roteiro tem momentos criativos e boas ideias, sobretudo quando aborda a passagem implacável do tempo, que na mesma velocidade em que nos apresenta coisas novas, também leva embora pessoas que amamos, seja pela morte ou apenas por ter tomado caminhos diferentes. O que me incomodou um pouco foram as atuações, que na maior parte do tempo me pareceram artificiais, mesmo com um bom elenco envolvido. O final "Felliniano" é encantador, e com certeza é uma homenagem de Moretti ao clássico diretor italiano que morreu em 1993. Por fim, o mérito de Tre Piani é nos colocar como espectadores onipresentes na vida destes personagens tão complexos e ao mesmo tempo tão humanos.


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