Escrito por Honoré de
Balzac (1799-1850), Ilusões Perdidas retrata a ascensão da burguesia
francesa após a queda de Napoleão, principalmente suas hipocrisias e
suas mil maneiras de corrupção. Trazer para as telas um texto histórico
como este nunca é uma tarefa fácil, e o diretor Xavier Giannoli optou
por adaptar a história com mudanças significativas na narrativa e
traçando até mesmo paralelos com a nossa realidade.
O enredo
acompanha Lucien de Rubempré (Benjamin Voisin), um aspirante a poeta que
deixa seu vilarejo do interior para tentar ganhar a vida na
efervescente Paris do início do século XIX. Pouco a pouco, no entanto,
ele vai descobrindo uma realidade em que seu talento pouco importa, já
que o que fala mais alto é o dinheiro e as conexões. Entre manipulações e
subornos, só se torna alguém no mundo literário quem consegue adentrar
no sistema corrupto, e como Lucien queria alcançar o sucesso, passa a
fazer parte do jogo.
Tecnicamente o filme tem uma beleza
extasiante, tanto nos cenários internos e externos, como nos figurinos.
As atuações também estão boas, assim como a trilha sonora. Infelizmente
senti que a trama se tornou um pouco maçante do meio para o final,
talvez pelo fato de ter uma longa duração e uma conversação rápida entre
os personagens, que não cessa um segundo. Porém, entendo a escolha da
direção, já que o texto de Balzac é realmente longo e tentar reduzir
isso para caber em um filme de 2h30 não é fácil. Uma das tentativas de
Gianolli de deixar a obra mais dinâmica é ter um narrador onipresente,
que vai nos apresentando a cada nova situação ou lugar, mas de qualquer
forma, há que se ter um pouco de paciência.
A comparação com a realidade do século XXI se dá quando o filme passa a acompanhar os jornalistas franceses da época e suas "fake news". O termo, apesar de novo, não é novidade neste meio, e bastava alguém pagar um pouco mais para que se inventasse uma história contra seu rival ou desafeto. Outro ponto discutido são sobre os "críticos de arte", e sua verborragia arbitrária. É curioso como uma obra escrita há 3 séculos atrás ainda consegue ser atual de alguma forma, e isso explica o porquê dela ser reconhecida até hoje.
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