sexta-feira, 22 de julho de 2022

Crítica: Aloners (2022)


Selecionado nos festivais de Toronto e San Sebastian, Aloners marca a estreia da sul-coreana Hong Seong-eun na direção de longas-metragens, e como o próprio nome sugere, fala com muita sensibilidade a respeito da solidão no mundo moderno e das barreiras invisíveis que muitas vezes criamos ao redor de nós mesmos.


Yu Jina (Gong Seung-Yeon) trabalha em uma central de atendimento de um cartão de crédito, onde atende inúmeras ligações todos os dias. Fora do ambiente de trabalho, ela é uma pessoa extremamente reservada, sem amigos, que prefere almoçar sozinha no refeitório da empresa com seus fones de ouvido e vive em um apartamento apertado e pouco arejado. Ela não vê problemas nessa sua rotina, assim como todos que têm rotinas semelhantes, pois já se acostumou com essa vida pacata e solitária e não se vê agindo de outra forma. Mas será que a vida é só isso mesmo, trabalhar e ter lazer sozinho? Ou será que nascemos para sermos seres sociais e a solidão é um mau sinal? São discussões que o filme levanta, sobretudo quando a jovem Park Sujin (Jeong Da-eun) é admitida na empresa e precisa passar pelo treinamento de Jina, e tenta forçar a qualquer custo uma amizade. 

O filme tem uma atmosfera fria e passa bem a ideia de vazio que existe hoje nas relações interpessoais. Um exemplo bem claro é quando o vizinho do lado de Jina, que tenta puxar assunto com ela no começo e é ignorado, acaba morrendo, e mesmo tendo passado uma semana do ocorrido ela não tinha percebido. Pois é assim que vivemos hoje, sem nem saber direito quem são as pessoas que nos rodeiam, um "bom dia" pelos corredores do condomínio ou do trabalho virou artigo de luxo, e as relações estão cada vez mais reduzidas a afetos passageiros.


Em um certo momento do filme, um dos clientes do cartão de crédito diz ter criado uma máquina do tempo para poder voltar alguns anos e reviver o que, segundo ele, foi uma época boa onde as coisas pareciam mais alegres e as pessoas menos ocupadas em seu próprio mundo. Este personagem poderia passar despercebido, até porque a única coisa que temos é a sua voz, mas para mim é a passagem que exprime exatamente o que é a ideia do filme.
 

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