domingo, 10 de julho de 2022

Crítica: Crimes do Futuro (2022)


Lançado em Cannes, Crimes do Futuro (Crimes of the Future) já é com certeza um dos filmes mais perturbadores do ano. E não é para menos, já que estamos falando de David Cronenberg, diretor responsável por clássicos do gênero "body horror" como A Mosca, Videodrome e Crash- Estranhos Prazeres, e que estava longe das telas desde 2012.


O enredo se passa em um futuro distante, onde o ser humano evoluiu (será mesmo?) ao ponto de não sentir mais dor. As pessoas já estão acostumadas com essa nova realidade e um dos prazeres mais compartilhados é o de se cortar. Sim, isso mesmo. A cirurgia virou o "novo sexo", e são esses procedimentos cirúrgicos que fazem as pessoas compartilharem prazer entre si. Alguns seres humanos também possuem a capacidade de criar novos órgãos dentro do próprio corpo, e é aí que entra a figura de Saul Tenser (Viggo Mortensen), que com a ajuda de Caprice (Lea Seydoux) faz pequenas apresentações artísticas onde faz a retirada destes órgãos, para delírio dos espectadores. No meio deste cenário, tem ainda uma espécie de sociedade secreta, que está tentando fazer com o que os humanos se alimentem de plástico.

A estética do filme é sombria, mostrando que o ser humano, mesmo tendo encontrado uma nova forma de prazer, segue em um caminho melancólico. Visualmente, o filme tem elementos muito marcantes, como a cama onde Saul dorme, que possui um formato de concha, a cadeira onde os humanos comem, cheia de braços mecânicos que auxiliam na digestão, e até mesmo a máquina de autópsias, que tem o formato de um sarcófago.


Assim como fez em Crash, Cronenberg também brinca com a sensualidade, que aqui é vista através das expressões de prazer dos personagens enquanto são cortados ou em frases de conotação sexual que remetem a bisturís e cortes profundos. A ideia do diretor, no entanto, parece se perder um pouco no desenrolar da história, e acaba sendo um filme que choca mais do que qualquer outra coisa. Também achei as atuações fracas e pouco convincentes, mesmo com um ótimo elenco envolvido. Apesar de tudo, não deixa de ser uma experiência interessante para quem gosta de histórias fora do "lugar comum".


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