Lançado em Cannes,
Crimes do Futuro (Crimes of the Future) já é com certeza um dos filmes
mais perturbadores do ano. E não é para menos, já que estamos falando de
David Cronenberg, diretor responsável por clássicos do gênero "body
horror" como A Mosca, Videodrome e Crash- Estranhos Prazeres, e que
estava longe das telas desde 2012.
O enredo se passa em um futuro
distante, onde o ser humano evoluiu (será mesmo?) ao ponto de não
sentir mais dor. As pessoas já estão acostumadas com essa nova realidade
e um dos prazeres mais compartilhados é o de se cortar. Sim, isso
mesmo. A cirurgia virou o "novo sexo", e são esses procedimentos
cirúrgicos que fazem as pessoas compartilharem prazer entre si. Alguns
seres humanos também possuem a capacidade de criar novos órgãos dentro
do próprio corpo, e é aí que entra a figura de Saul Tenser (Viggo
Mortensen), que com a ajuda de Caprice (Lea Seydoux) faz pequenas
apresentações artísticas onde faz a retirada destes órgãos, para delírio
dos espectadores. No meio deste cenário, tem ainda uma espécie de
sociedade secreta, que está tentando fazer com o que os humanos se
alimentem de plástico.
A estética do filme é sombria, mostrando
que o ser humano, mesmo tendo encontrado uma nova forma de prazer, segue
em um caminho melancólico. Visualmente, o filme tem elementos muito
marcantes, como a cama onde Saul dorme, que possui um formato de concha,
a cadeira onde os humanos comem, cheia de braços mecânicos que auxiliam
na digestão, e até mesmo a máquina de autópsias, que tem o formato de
um sarcófago.
Assim como fez em Crash, Cronenberg também brinca com a sensualidade, que aqui é vista através das expressões de prazer dos personagens enquanto são cortados ou em frases de conotação sexual que remetem a bisturís e cortes profundos. A ideia do diretor, no entanto, parece se perder um pouco no desenrolar da história, e acaba sendo um filme que choca mais do que qualquer outra coisa. Também achei as atuações fracas e pouco convincentes, mesmo com um ótimo elenco envolvido. Apesar de tudo, não deixa de ser uma experiência interessante para quem gosta de histórias fora do "lugar comum".
Nenhum comentário:
Postar um comentário