sexta-feira, 15 de julho de 2022

Crítica: Concorrência Oficial (2022)


Bastante elogiado após seu lançamento no Festival de Veneza, Concorrência Oficial (Competencia Oficial) marca mais uma parceria entre os diretores argentinos Gastón Duprat e Mariano Cohn, a sexta da carreira. Da mesma forma que fizeram em seus filmes anteriores, como no também elogiadíssimo O Cidadão Ilustre, os dois voltam a falar sobre egos individuais, principalmente com personagens que têm uma certa aproximação com a arte, neste caso o próprio cinema.


Na trama, um milionário do ramo farmacêutico acaba de completar 80 anos e em meio a uma crise existencial pensa que todos o conhecem apenas pelo seu dinheiro. Decidido a fazer algo para deixar algum legado, duas ideias surgem: inaugurar uma ponte com seu nome e financiar um filme que leve seu nome eternizado nos créditos. 

Para a realização do filme, ele chama a diretora conceituada Lola Cuevas (Penélope Cruz), que acumula sucessos ao longo da carreira mas possui um jeito excêntrico de trabalhar. Lola logo pede para trabalhar com dois atores, Felix Rivero (Antônio Banderas), um astro que faz filmes campeões de bilheteria e já ganhou diversos prêmios mundo afora, e Iván Torres (Oscar Martinez), que tem décadas de carreira no teatro, mas sem grandes holofotes.


Logo na chegada dos dois já percebemos uma grande diferença entre o estilo de vida de cada um. Enquanto Ivan chega de táxi, tranquilamente, Félix chega de carona em uma Lamborghini, beijando a acompanhante de forma espalhafatosa. Na entrevista, Ivan leva a sério seu papel, criando até uma historinha pregressa para o seu personagem, enquanto Félix diz que isso é uma bobagem e só está ali para cumprir o que está no roteiro e nada mais. Esse é apenas o começo do joguinho que rola entre os dois, e que precisa ser mediado por Lola com pulso firme.

O enredo coloca a história do filme que está sendo filmado dentro do que estamos assistindo, e aos poucos vai mesclando um ao outro, de uma forma muito competente. Quem gosta de filmes sobre "fazer filmes" vai se interessar pelo desenrolar, que vai ganhando contornos cada vez mais exóticos graças aos métodos empregados por Lola.


Seja colocando medo com o uso de uma pedra imensa, seja medindo a intensidade do beijo de cada um para uma cena específica, ou até mesmo provocando de uma maneira sensual, Lola é um personagem à parte, e cabe aqui um elogio para a grande atriz que é Penélope Cruz. Banderas e Martinez também estão muito bem em seus papéis, e o final surpreende de uma maneira ímpar. Por fim, entre vários acertos de Concorrência Oficial, o principal é trazer uma importante crítica ao mundo das artes como um todo, onde as pessoas medem o talento pelo número de prêmios conquistados e o dinheiro sempre fala mais alto.


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