domingo, 2 de julho de 2023

Crítica: A Esposa de Tchaikovsky (2023)


Dirigido por Kirill Serebrennikov, A Esposa de Tchaikovsky (Zhena Chaikovskogo) se passa no final do século XIX e conta a história real do casamento entre o compositor Pyotr Tchaikovsky e a jovem Antonina Miliukova, usando esta relação para trazer uma análise de como funciona uma paixão doentia e obsessiva.


Após se apaixonar pelo compositor, a jovem Antonina (Alyona Mikhaylova) decide ingressar no conservatório de música de Moscou para ter aulas com ele, e não desiste dessa sua paixão até conseguir que ele a aceite como sua parceira. Tchaikovsky (Odin Biron), no entanto, era homossexual, e mesmo não nutrindo nenhum tipo de desejo por ela, acabou vendo no casamento uma chance de fugir da perseguição em uma Rússia que já era extremamente homofóbica. Apesar de sempre ter sido sincero com Antonina e dito desde o princípio que a relação seria muito mais fraternal do que qualquer outra coisa, ela de alguma forma sempre manteve a esperança de que ele mudaria de ideia e um dia seria o marido perfeito, o que não aconteceu.

Temos aqui um romance que é o completo oposto do que costumamos ver nas telas, pois não há nenhuma leveza ou felicidade nesse amor. Aliás, nem pode-se chamar de amor, a não ser que o consideremos unilateral, o que é uma porta aberta e escancarada para o sofrimento. Mas Antonina não parece preocupada com as migalhas (ou nem isso) que recebe, e quer continuar assim mesmo. Era uma verdadeira obsessão cega, e nos termos de hoje poderia facilmente ser considerado um relacionamento abusivo. Isso até ele cansar da "farsa" e pedir para se afastar, algo que obviamente não foi bem aceito por ela.


Até hoje a sexualidade de Tchaikovsky é um tabu na Rússia, e o filme vem para quebrar isso, ainda que de forma sutil. O termo, por exemplo, jamais é falado, e muito menos confessado pelo músico, mas é algo nítido durante todo o filme. O roteiro é bom, mas senti que poderia ter sido mais compacto em alguns momentos, o que diminuiria um pouco a sua longa duração. A trilha sonora é onipresente e a música clássica reverbera por quase todos os 150 minutos da trama. É, por fim, um filme lento, soturno e melancólico, sobre uma história que é muito mais trágica do que romântica.


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