segunda-feira, 25 de setembro de 2023

Crítica: Ninguém Vai te Salvar (2023)


É possível cativar o público e criar um clima de tensão sem uma única linha de diálogo por cerca de uma hora e meia? Não, eu não estou falando de Um Lugar Silencioso, filme que se tornou um sucesso de bilheteria em 2018, mas sim de Ninguém Vai te Salvar (No One Will Save You), escrito e dirigido por Brian Duffield e que estreou há poucas semanas diretamente no catálogo da Star+. O roteiro é mais uma prova de que a capacidade de comunicação e linguagem entre filme e espectador vai muito além de diálogos, propondo uma verdadeira experiência visual e sensorial que prende a atenção até o final.


A trama acompanha Brynn Adams (Kaitlyn Dever), uma jovem que vive sozinha em uma cidade pitoresca e isolada no interior dos Estados Unidos, onde aparentemente todos os vizinhos a tratam com desdém e rancor por algo que aconteceu no passado, e que vai ser desvendado no decorrer da narrativa. Certo dia ela ouve barulhos enquanto tenta dormir e percebe que a casa está sendo invadida, mas não são invasores comuns: são alienígenas. Ao tentar combatê-los, ela fere um deles, que cai morto no assoalho da casa, e a partir de então começa a receber cada vez mais visitas inesperadas e lutar pela sua própria sobrevivência.

Este primeiro ato, onde a ação ocorre dentro da casa da personagem, é muito bem construído e eu diria que é o ponto forte do filme. No entanto, toda a tensão que o diretor consegue criar nestes primeiros minutos parece diminuir quando Brynn sai de casa e os cenários externos passam a ser explorados, onde aparecem novos personagens e situações a serem enfrentadas por ela. Em um filme sem diálogos, é importantíssima a linguagem corporal, e nisso Kaitlyn Dever dá show. Sua personagem consegue segurar o clima do filme todo apenas com seus trejeitos e suas expressões, em um trabalho primoroso da jovem atriz. Além disso, toda a construção da personagem, tanto a parte visual (uma menina que se veste e vive como se ainda estivesse no século passado) como o mistério instigante que envolve o seu passado, ajudam a criar a empatia no espectador, o que é importante quando se precisa torcer pela "mocinha", já que por ser tão reclusa ela literalmente não tem ninguém para salvá-la, a não ser a si mesma.


O diretor mergulha nesse mundo dos filmes de invasão alienígena e mesmo não trazendo nada relativamente novo, consegue apresentar alguns rompantes de originalidade. O visual do filme, e principalmente dos seres extraterrestres, é muito bem feito. Temos uma variação de tamanhos, desde seres com tamanho de crianças até alguns que são maiores que uma casa, e isso também cria uma estética curiosa. O que faz o filme perder um pouco de força perto do final é justamente a trama que envolve os acontecimentos do passado de Brynn, que quando revelados, não tem a força necessária para justificar que tenha sido tão importante até então para a trama. O diretor tenta fazer um paralelo entre a invasão e o sentimento de culpa que a personagem carrega consigo, e o final acaba sendo interpretativo, ficando a critério de cada um entender os simbolismos da maneira que preferir.


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