quinta-feira, 30 de novembro de 2023

Crítica: The Holdovers (2023)


Distante do cinema desde 2017, quando lançou Pequena Grande Vida, Alexander Payne (de Nebraska e Sideways) está de volta com The Holdovers, que segue o mesmo estilo de seus outros filmes e apresenta, com um roteiro simples mas muito bem elaborado, personagens apaixonantes que se relacionam de maneira extremamente orgânica.


O filme se passa no período do natal de 1970, onde conhecemos Paul Hunman (Paul Giamatti), um professor que dá aulas sobre civilizações antigas na conceituada escola preparatória Barton Academy. Ele foi o "premiado" entre todos os professores para ficar nas dependências da escola durante as férias e cuidar dos alunos que vão ter que ficar no local por não terem para onde ir. O que para a grande maioria seria um martírio, para ele não é nada demais, afinal de contas ele é um homem solitário e já possui o costume de passar o período sozinho de qualquer maneira. Com uma visão extremamente amarga da vida e uma rigidez exagerada em seus métodos de educação, Hunman é odiado por praticamente todos os alunos e até mesmo por boa parte dos seus colegas, mas parece não se preocupar com isso. Com ele na escola ficam apenas o jovem Angus Tully (Dominic Sessa) e a cozinheira chefe do local, Mary (Da'vine Joy Randolph), e é sobre estes três personagens que o roteiro se solidifica, abordando a personalidade de cada um com muita delicadeza, desde suas alegrias até os seus traumas.

Todos os três protagonistas são apaixonantes, mas eu destaco Mary. Mulher negra, ela aceitou o cargo de cozinheira na escola há alguns anos atrás para dar a possibilidade do filho poder estudar no local, que majoritariamente é frequentado por pessoas brancas e ricas. No entanto, o filho acabou sendo obrigado a se alistar no exército (o único da escola a ter que passar por isso, ora vejam só) e ir para o Vietnã, onde perdeu a vida. O natal para ela tem um significado especial por conta dessa perda, que ainda é bem recente. Já Angus é um menino inteligentíssimo mas que possui uma agressividade pulsante, que já o fez ser expulso de três escolas no passado. Ele tenta andar na linha, já que a mãe prometeu colocá-lo em uma instituição militar caso seja mais uma vez expulso, mas sua impulsividade às vezes fala mais alto. Angus estava esperando viajar com a mãe nas férias, mas é surpreendido quando ela o pede para ficar na escola, pois quer aproveitar as férias para curtir uma "lua de mel" com o novo namorado. Dos três, ele talvez seja o mais contrariado em ficar no local, mas o fato é que, querendo ou não, estes personagens são obrigados a conviver por alguns dias, dividindo as tarefas diárias e principalmente a mesa nas refeições.


O roteiro, escrito por David Hemingson é basicamente sobre as reviravoltas sucintas que acontecem em nossas vidas, quando por exemplo um estranho nos leva para uma nova direção, que sequer havíamos considerado, ou quando pequenas conversas aleatórias nos fazem refletir sobre o que somos e o que queremos ser. Apesar de ter alguns clichês, isso não incomoda em nenhum momento, pois a direção de Payne consegue fugir totalmente da previsibilidade. The Holdovers é uma grande surpresa nessa reta final de ano, e um daqueles filmes que deixam o coração "quentinho" após os créditos finais.


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