quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

Crítica: Concrete Utopia (2023)


Muita gente vai olhar as informações deste filme e pensar que se trata de mais uma obra de catástrofe "hollywoodiana", como tantas que são lançadas anualmente nos cinemas, sobretudo pelo nome traduzido para o Brasil: Sobreviventes - Depois do Terremoto. Representante da Coreia do Sul pro Oscar de filme internacional em 2024, o filme do diretor Tae-hwa Eom mostra sim uma catástrofe de proporções inimagináveis, mas de uma maneira mais complexa e profunda do que se costuma ver em filmes do gênero, criando uma alegoria distópica recheada de crítica social.


O diretor inicia o filme discorrendo sobre como as grandes cidades foram aos poucos se transformando em "selvas de pedra", onde prédios cada vez mais altos foram se aglomerando e criando toda a paisagem urbana que nós conhecemos hoje. Isso é feito através de entrevistas e matérias televisivas do passado, que mostram o porquê das pessoas terem optado gradativamente de viver em apartamentos ao invés de casas. A introdução logo dá lugar ao grande acontecimento do roteiro: um terremoto destruidor que acaba com a cidade de Seul inteira, deixando todos os prédios no chão, com exceção de um.

O conjunto de apartamentos Hwang Gung é o único que fica misteriosamente de pé, e os moradores precisam não apenas reconstruir a vida em meio aos destroços e lutar por recursos, mas também lidar com centenas de sobreviventes dos outros condomínios que querem invadir e morar no local para fugir do frio dilacerante que faz na rua. Essa premissa cria um embate moral muito interessante, que serve para mostrar sobretudo como nós humanos lidamos em situações extremistas. Ao mesmo tempo que vemos o lado mais egoísta e covarde das pessoas, que cria uma escalada de violência tão nociva quanto o próprio desastre que iniciou tudo, vemos também o lado da solidariedade e da empatia, e o filme consegue apresentar muito bem essa dualidade.


O diretor não define heróis e vilões nesta história, ficando a cargo do espectador tomar seu próprio partido. Afinal, é impossível não analisar como se estivéssemos na mesma situação, e eu confesso que não sei como reagiria. O único ponto que ficou bem deslocado foi o humor que é utilizado em alguns momentos, principalmente no início, e que não encaixou legal com a história. É um filme que vai gerar entretenimento pelo capricho nos cenários e pelas grandiosas cenas de ação, mas que vai sobretudo gerar reflexão sobre o comportamento humano e suas controvérsias.

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