sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

Crítica: A Sociedade da Neve (2023)


A "Tragédia dos Andes", como posteriormente ficou conhecida, é uma das histórias de sobrevivência mais comoventes e impressionantes que se tem notícia. Meu primeiro contato com ela foi no final dos anos 1990, quando li um livro que contava detalhes de tudo que aconteceu, antes mesmo de assistir o clássico Vivos dirigido por Frank Marshall e estrelado por Ethan Hawke. Escolhido para representar a Espanha no Óscar de melhor filme internacional em 2024, A Sociedade da Neve (La Sociedad de la Nieve) traz novamente a história à tona, e de uma maneira grandiosa nas mãos do diretor J. A. Bayona.


Em 13 de outubro de 1972, um avião partiu do Aeroporto de Carrasco no Uruguai em direção ao Chile, levando um time de jovens jogadores de rugby junto com seus familiares e amigos, e mais cinco tripulantes, totalizando 45 passageiros no total. Ao passar por cima da Cordilheira dos Andes, o avião perdeu o controle e acabou caindo na imensidão das montanhas nevadas. Apesar da violência do acidente, um grupo de pessoas conseguiu sobreviver à queda, e durante 72 dias lutaram para se manter vivas, em meia a fome e a um frio brutal.

Assim como fez em O Impossível, onde ele narra a chegada do tsunami que devastou a Tailândia em 2004, aqui o diretor também consegue fazer brilhantemente a transição entre a calmaria e o desespero de uma situação inesperada. Se no primeiro vemos um casal tendo as férias interrompidas pela tragédia, aqui acompanhamos jovens atletas que estão extremamente animados com a tão sonhada viagem ao Chile. A cena do acidente é extremamente angustiante e realista, e o excelente trabalho técnico acaba criando uma imersão impressionante. Outro ponto a exaltar é a visão quase contemplativa que o diretor faz das montanhas, sempre mostrando a grandiosidade delas em comparação com o tamanho dos restos do avião. Há inclusive uma cena em que outro avião passa por cima e a gente chega a se questionar como ele não viu os sobreviventes, mas logo a câmera mostra toda a imensidão vista de cima, e logo conseguimos entender o porquê.

Um dos pontos que mais chocam nesta história, e que sempe foi motivo de controvérsias, é o fato dos sobreviventes terem comido a carne dos mortos para conseguir sobreviver. Bayona não deixa que isso seja o principal elemento da narrativa, e consegue trabalhar esse fato com muito respeito, equilibrando a questão moral e deixando claro que apesar de terem praticado "canibalismo", em nenhum momento eles perderam a humanidade e o respeito por aqueles mortos. Há que se destacar também o elenco, todo composto por atores desconhecidos, o que é um grande acerto da direção, já que isso deixa o filme muito mais crível. No entanto, se o diretor acerta em cheio no desenvolvimento dos personagens e da relação entre eles, por outro lado ele exagera um pouco a mão na dramaticidade, soando até um pouco meloso demais em algumas cenas mais longas. Outro artifício que não parece ter encaixado bem foi a narração em off, feita pelo personagem Nando, e que as vezes parece um pouco deslocada do restante.


Para além de uma história que evidencia os 16 "heróis" que sobreviveram, A Sociedade da Neve acaba sendo principalmente uma homenagem a todos os mortos, com seus nomes sendo estampados e registrados em tela através de subtítulos. No total, foram 29 óbitos, contando os que faleceram na queda e aqueles que morreram depois por não suportarem as adversidades. Um filme tenso e potente, de uma história que jamais será esquecida.

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