quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

Crítica: Perfect Days (2023)


Inicialmente, antes de falar do filme em si, preciso começar esta crítica dizendo o quão gratificante é ver um dos meus diretores favoritos filmando com tanta paixão no alto dos seus 78 anos de idade. Responsável por obras-primas como "Asas do Desejo", "Paris, Texas" e "No Decurso do Tempo", Wim Wenders tem uma sensibilidade ímpar em seus trabalhos, tanto nas histórias de ficção como nos documentários, e isso é o que não falta em Perfect Days, um dos filmes mais bonitos que vi nos últimos anos.

 


A trama acompanha Hirayama (Koji Yakusho), um senhor de meia idade que trabalha limpando banheiros públicos em Tóquio. A rotina de Hirayama é idêntica a de qualquer um de nós: ele acorda cedo, faz sua higiene pessoal, e antes de sair não esquece de regar suas plantinhas. São gestos lentos e silenciosos, que de forma automática se repetem dia após dia, e isso é mostrado com bastante paciência pelo diretor. E apesar de não parecer, Hirayama aparenta ser muito feliz nesse seu modo de viver, sendo um homem simples e de pouquíssimas palavras. 

 

As interações de Hirayama com o mundo externo são episódicas, assim como são as nossas. Se pararmos para analisar nosso dia a dia, também temos várias interações que depois irão passar despercebidas, com pessoas que muitas vezes nós nunca mais veremos. Nas duas horas de filme ele interage de forma mais longa apenas com o colega de trabalho Takashi e sua namorada, além de uma sobrinha que vai passar um tempo com ele após brigar com a mãe. Nada grandioso, mas tudo emocionalmente potente.

 

Apaixonado por música, Hirayama sempre vai e volta do trabalho ouvindo suas fitas cassetes favoritas, que vão de Rolling Stones a Lou Reed, de Patti Smith a Van Morrison, e o trabalho musical é apaixonante, fazendo toda a diferença no filme. Além das fitas cassetes, ele também usa uma máquina analógica para tirar fotos de árvores e plantas, e passa o tempo lendo livros que compra em um sebo, o que mostra ainda mais como é um homem pouco dado às modernidades.


 

Alguns podem dizer que é um filme onde "nada acontece", e na verdade eles não estariam tão errados. No entanto, o diretor mostra essa rotina de um homem comum com tanta sensibilidade, que é impossível não se emocionar e não parar para refletir sobre nós mesmos e as nossas próprias rotinas. Vencedor do prêmio de melhor ator em Cannes, Koji Yakusho está realmente brilhante no papel, e eu confesso que ficaria mais horas e horas acompanhando a rotina dele, sem problema nenhum. Perfect Days traz a solidão do mundo moderno em sua essência, de forma contemplativa e poética, e acaba sendo um filme grandioso justamente nessa sua simplicidade.

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