Filmes de tribunais que são compostos de apenas diálogos e uma única locação podem ser tanto empolgantes quanto entediantes, e esta linha tênue que separa a experiência do espectador varia muito de acordo com a maneira com que a direção apresenta a história na tela. Os franceses já provaram que sabem fazer filmes do gênero muito bem, e O Caso Goldman (Le Procès Goldman), dirigido por Cédric Kahn, é mais um exemplo satisfatório.
O filme acompanha um julgamento real ocorrido na Suprema Corte de Amiens na década de 1970. O réu na ocasião era Pierre Goldman (Arieh Worthalter), acusado de três assaltos à mão armada na cidade de Paris durante o ano de 1969. Ele confessa os crimes com exceção de um, onde duas mulheres acabaram mortas em um assalto a uma farmácia. Sentenciado à prisão perpétua pelo crime, agora ele ganha uma nova chance de revisão do caso diante da côrte, com um novo advogado (Arthur Harari).
Provocador, Goldman chegou a escrever livros durante sua estadia na cadeia, o que o fez ganhar um número expressivo de seguidores, sobretudo adeptos da esquerda. Seu passado como revolucionário, unido à forma como ele enfrenta seus acusadores e a polícia chamando-os de racistas e antissemitas (já que ele é oriundo de uma família judia da Polônia), é mais um ingrediente que inflama quem está do seu lado e transforma o julgamento num verdadeiro ato político. Segundo Goldman, tudo não passou de uma manipulação da própria polícia para achar um culpado do crime, e ele tenta o tempo todo mostrar isso com falas ácidas e eloquentes.
Ao longo de suas duas horas, o filme mostra todo o processo, desde a entrada dos jurados e a apresentação do caso até a sentença definitiva, passando por inúmeras testemunhas e pessoas do convívio de Goldman, como amigos da época e até mesmo seu pai, um imigrante que lutou pela resistência durante a Segunda Guerra Mundial. Diferente de outros filmes do gênero, não temos inserção de flashbacks ou cenas externas sobre o que ocorre fora das quatro paredes do tribunal, então acaba sendo um filme focado na eletrizante disputa de retóricas neste processo, e surpreendentemente prende do início ao fim apenas com isso. Ele serve até mesmo pequenas doses de humor, sobretudo pela intervenções de Goldman, um personagem deveras apaixonante e ao mesmo tempo extremamente controverso.
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