segunda-feira, 29 de abril de 2024

Crítica: Guerra Civil (2024)


Depois de Ex Machina, Aniquilação e Men, o diretor britânico Alex Garland lança aquele que, segundo ele próprio, será o seu último filme: Guerra Civil, considerado também o primeiro "blockbuster" da já conhecida produtora A24. Embora possa ser considerado o projeto mais ousado do cineasta em relação a investimento e produção, em contrapartida talvez seja o seu filme mais pé no chão em termos de realismo, já que diferente dos seus outros três filmes onde Garland flertava com o excêntrico e com muitas simbologias abstratas, aqui o que vemos é nada mais do que a realidade nua e crua de uma guerra.


O roteiro em um momento onde os Estados Unidos estão enfrentando uma violenta Guerra Civil, que dividiu o país em dois lados opostos. O diretor, no entanto, opta por não contextualizar as circunstâncias da guerra, e as informações que chegam até o espectador sobre o porquê, ou sobre quando ela iniciou, acabam sendo bem escassas. Sabemos, por exemplo, que um lado está com o presidente, que aparentemente rasgou a constituição e tomou ares "ditatoriais", enquanto o outro está querendo tirá-lo a força do poder. Mas como disse anteriormente, não há nada que deixe isso bem claro, são apenas pequenos indícios. De fato, não posso negar que logo de início me incomodou muito esta falta de contextualização do conflito. Fica difícil acompanhar uma guerra de tamanha magnitude e ódio envolvido, sem sabermos pelo menos quem está certo ou errado, ou no mínimo apresentar os motivos de cada um para que pudéssemos escolher nossa própria posição. 

A escolha do foco, no entanto, acaba sendo nos jornalistas que acompanham conflitos armados de perto em busca das melhores imagens, e é basicamente em torno de quatro deles que a trama gira. Durante as quase duas horas do filme, acompanhamos um grupo de jornalistas que atravessa o país para tentar chegar a Washington D.C. afim de conseguir uma entrevista com o presidente (Nick Offerman) antes dele ser capturado, já que tudo indica que isso ocorrerá muito em breve. Joel (Wagner Moura), Lee (Kristen Durnst), e Sammy (Stephen Henderson) são três experientes jornalistas, conhecidos por já terem coberto vários conflitos na carreira, e estão dispostos a conseguir este grande furo de reportagem. Junto deles está Jessie (Cailey Spaeny), uma jovem e promissora fotógrafa que ainda está aprendendo o ofício e ainda nunca havia visto uma guerra de perto.

A estrutura do filme é a de um verdadeiro road movie, onde acompanhamos a viagem destes quatro e tudo que eles enfrentam pelo caminho. Ao atravessar o país, eles se deparam com cidades devastadas, cenários de destruição e muitos, muitos corpos pelo chão. Eles passam até mesmo por uma cidade que parece alheia a tudo, continuando a viver normal, e onde personagens, pela primeira vez, conseguem se desligar um pouco de todo o caos. É curioso também analisar as diferentes perspectivas de cada um. A empolgação de Jessie no início dá lugar ao pavor de ver tantas atrocidades a sua frente, ainda que ela jamais perca sua coragem. Já Lee parece calejada, e mesmo acostumada com os horrores, se mostra atemorizada em vários momentos. Não consigo imaginar como seja estar dentro de uma guerra, mas acredito que mesmo que você esteja acostumado, você nunca estará definitivamente destemido. É impossível.


Na parte técnica, o filme é realmente sublime. Desde a fotografia até a parte sonora, tudo funciona em uma engrenagem quase sem erros. As atuações também são muito boas, e além dos quatro atores principais, é importante destacar a participação curta mas espetacular do ator Jesse Plemons, que em cinco minutos de tela consegue nos prender na cena mais agoniante de todo o longa. Por fim, Guerra Civil é um filme grandioso na sua essência, mas que infelizmente peca na já referida falta de explicações mais precisas ao espectador. Até funciona e prende a atenção, mas inevitavelmente fica aquele sentimento de que faltou alguma coisa.

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