segunda-feira, 22 de abril de 2024

Crítica: Late Night with the Devil (2024)


Quem, assim como eu, cresceu assistindo televisão nos anos 1990, com certeza deve lembrar de algumas situações controversas e até mesmo constrangedoras que ocorreram em programas de auditório ao vivo, em nome de um desespero cego por audiência. Na disputa pela liderança valia de tudo, até mesmo forjar uma entrevista com membros da maior facção criminosa do país, por exemplo. No entanto, esta luta pelo primeiro lugar no ibope existe desde que a televisão foi inventada, e muitos programas, sobretudo os conhecidos talk shows, investiam pesado em atrações diferentes para ganhar o espectador de casa. E quanto mais exóticas fossem, melhor era o resultado.


Com uma competente estética setentista, Late Night with the Devil apresenta como personagem principal Jack Delroy (David Dastmalchian), um radialista que em 1971 ganha um programa de televisão noturno de entretenimento, no estilo talk show, que se popularizou na televisão dos Estados Unidos naquela época com nomes como Johnny Carson. Por alguns anos, Delroy consegue fazer algum sucesso, mas jamais chega a ser o fenômeno de audiência que ele sempre sonhou se tornar. Após a morte da esposa por conta de um câncer, e uma ausência de um mês das telas, o apresentador volta ao seu programa e começa a testar novas alternativas para aumentar a audiência. É justamente quando surge a idade de um programa especial de Halloween, que tragicamente acabou sendo o último de sua curta carreira.

O longa se passa quase inteiramente durante este programa especial que, segundo os créditos iniciais, chocou a população norte americana na época. É como se estivéssemos assistindo uma fita perdida daquele programa, que foi ao ar no dia 31 de outubro de 1977. Como atrações daquela noite, Delroy havia chamado três convidados: um médium famoso chamado Christou (Fayssal Bazzi), um hipnotizador cético chamado Carmichael (Ian Bliss), e Rose (Laura Gordon), uma para psíquica que estava lançando um livro sobre uma menina que conversava diretamente com o diabo. Rose inclusive leva junto para o palco a garota, Lilly (Ingrid Torelli), que acaba sendo a peça principal da trama após ser incitada a receber a entidade demoníaca em frente às câmeras. O resultado, no entanto, é desastroso, mas não para a audiência, que certamente bateu recordes àquela noite e gerou uma grande receita para os seus patrocinadores, que é o que mais importava aos produtores.

Inteligente, cínico e até mesmo engraçado em alguns momentos, o filme traz uma abordagem original e diferente ao subgênero da possessão demoníaca, trazendo por trás uma crítica a respeito do quão longe os programas de televisão podem chegar pelo sucesso. Mais do que isso, creio ser possível montar um paralelo com as próprias redes sociais, que se tornaram a grande vitrine dos nossos dias, e onde milhares de pessoas forçam as mais bizarras situações para viralizar, às vezes colocando a própria vida em risco. Porém, deixando de lado as críticas que o filme faz, pode-se dizer que ele também funciona apenas como um bom entretenimento, e é impressionante o trabalho dos irmãos Cameron e Collin Cairnes na condução da narrativa, que não perde o ritmo em momento algum e termina com um plot muito interessante. Por tudo isso, Late Night with the Devil acaba sendo um dos melhores filmes de terror dessa nova safra.

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