quinta-feira, 27 de novembro de 2025

Crítica: Nouvelle Vague (2025)


Mais do que um movimento cinematográfico, a Nouvelle Vague, surgida na França entre o final da década de 1950 e início da década de 1960, marcou uma geração e redefiniu, de maneira profunda, a forma de se fazer cinema no país. Inspirado pelo neorrealismo italiano, o movimento rompeu com convenções narrativas, apresentando técnicas inovadoras para a época, privilegiando filmagens leves, abusando dos improvisos e da liberdade formal, e trazendo uma aproximação radical dos filmes com a vida real.


Ao recriar as gravações de Acossado (1960), de Jean-Luc Godard, um dos ícones daquele período, o cineasta Richard Linklater nos entrega um trabalho que soa como um "filme da Nouvelle Vague perdido em pleno século XXI". As composições dos planos e os movimentos de câmera, a grafia das legendas, os figurinos e até as marcantes frases de impacto entre os diálogos, evocam com precisão o espírito e a estética daqueles filmes lançados há mais de sessenta anos atrás.

Na trama, acompanhamos o jovem Godard (Guillaume Marbeck), então crítico de cinema da Cahiers du Cinéma, tomado pelo desejo irreprimível de fazer seu primeiro filme. O sucesso recente de François Truffaut (Adrien Rouyard) e Claude Chabrol (Antoine Besson) desperta nele um misto de admiração, insegurança e uma leve sensação de estar ficando para trás, tensão que alimenta sua busca por uma voz própria neste meio. Mesmo inexperiente, ele consegue que seu amigo e produtor Georger de Beauregard (Bruno Dreyfürst) financie seu primeiro longa, sobre a história de um casal de criminosos, obra que viria a se tornar um marco do cinema moderno.


Se a ideia era recriar toda a atmosfera efervescente que pulsava para além das telas, Linklater conseguiu isso com maestria. A lista de referências da época é imensa, e vai desde os diretores Jacques Rivette (Jonas Marmy), Jean-Pierre Melville (Tom Novermbre), Agnès Varda (Roxane Rivière) e Eric Rohmer (Côme Thieulin), até atores como Jean-Paul Belmondo (Aubry Dullin) e Jean Seberg (Zoey Deutch), que por sinal formam o casal protagonista do filme de Godard. Isso de fato enriquece a obra, principalmente para quem conhece a importância destes nomes para a história do cinema.

Filmes sobre "fazer filmes" já costumam ser cativantes para quem é apaixonado pela sétima arte, e o encanto do filme de Linklater reside justamente nos pormenores de um set de filmagens, como nas dificuldades de rodar um filme com poucos recursos, nas "gambiarras", nas tensões e nos improvisos. Algo que de certa forma lembra Uma Noite Americana (1973), clássico do diretor François Truffaut. Por fim, Nouvelle Vague não é necessariamente um filme sobre Godard, ou nem mesmo especificamente sobre Acossado, mas sim, sobre o nascimento de uma vertente cinematográfica e o instante exato em que uma geração de cineastas encontrava uma maneira própria de olhar o mundo e traduzir esse olhar através de imagens.

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