Uma crônica feroz sobre a ganância e o seu poder destrutível, em uma história fictícia que poderia muito bem ser a realidade nua e crua do Brasil, especificamente do Rio de Janeiro, que ousa mostrar os criminosos que o cinema não costuma retratar: aqueles que vivem em casas luxuosas de frente para o mar, longe do estereótipo da favela.
A trama acompanha Valério (Irandhir Santos) e Regina (Leandra Leal), um casal que mantém uma vida de riqueza em uma casa de alto padrão no Rio de Janeiro, graças a um esquema de lavagem de dinheiro baseado em máquinas caça níqueis e jogo do bicho. O negócio, herdado pela família de Valério, é comandado pelo tio dele, Linduarte (Stepan Nercessian), um poderoso bicheiro que também é dono da escola de samba Unidos da Pavuna, e é tratado por todos como um "Rei". Entretanto, Valério e Regina começam a ter problemas financeiros quando a arrecadação dos negócios diminui drasticamente, até perceberem que, na verdade, isso é reflexo de um desvio que o próprio tio tem feito nas contas.
O casal, que não possui escrúpulo algum e não mede esforços para se manter no luxuoso padrão de vida atual, planeja matar Linduarte para ficar com o negócio todo para si. No entanto, o plano deles é movido por um sentimento maior do que apenas ganância: no passado, o pai de Valério foi morto pelo próprio tio, tornando o golpe uma espécie de vingança disfarçada de disputa de poder. Porém, eles não imaginavam que Linduarte estava até o pescoço de dividas com pessoas ainda mais perigosas. Esse é só o começo de uma descontrolada espiral de eventos, envolvendo crime organizado e milícias, onde cada ação gera uma consequência drástica e irreversível.
Não há mocinhos na história. Todos os personagens são extremamente imprevisíveis, alternando entre aliados e inimigos em uma fração de segundos, numa narrativa que reforça a extrema fragilidade das relações quando o que fala mais alto é o dinheiro. E o elenco desempenha muito bem a função de dar vida a estes personagens tão impetuosos e controversos. Por fim, Os Enforcados é mais um trabalho excepcional do diretor Fernando Coimbra, que explora a hipocrisia e a falência moral do ser humano, da mesma forma que ele já havia feito no também espetacular O Lobo Atrás da Porta (2013). É um retrato da violência vista com banalidade, entregue com maestria.



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